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De Pai Para Pai: Amamentação

"A alimentação como um momento para fortalecimento de vínculos entre pai, mãe e bebê é algo que transcende a amamentação e que você leva para a vida toda. O pai pode também participar ativamente e se beneficiar das experiências que ele pode ter não só com o bebê, mas com a sua companheira também."

Seguindo a minha série de textos que falam sobre como o pai pode participar em todos os aspectos da Criação com Apego, chegou a vez de falar sobre a amamentação. A amamentação é um dos assuntos que eu vejo muitos pais acharem que, por ser algo que (obviamente) só as mães podem fazer, eles não precisam se envolver. Esse é um engano, porque mesmo que o pai não tenha o poderoso leite saindo das tetas, ele pode, sim, participar do evento como um todo.

Só para recapitular rapidamente, essa série cobre os Oito Princípios da Criação com Apego, que foram propostos pela API (Attachment Parenting International), uma organização sem fins lucrativos com o propósito de difundir a Criação com Apego pelo mundo, ajudando pais e filhos a criarem vínculos duradouros e saudáveis. Até agora, eu já falei sobre:

Então, agora, vou me dedicar a escrever um pouco sobre o Segundo Princípio da Criação com Apego que na verdade, é mais abrangente porque trata de Alimentação com Amor e Respeito (clique no link para ler a tradução do princípio).

Usar a alimentação como um momento para fortalecimento dos vínculos entre pai, mãe e bebê é algo que transcende a amamentação e que você leva para a vida toda. Esse é o ponto principal desse post, e é nesse ponto que o pai pode também participar ativamente e se beneficiar das experiências que ele pode ter não só com o bebê, mas com a sua companheira.

 Amamentação e as Primeiras Semanas

O início da amamentação pode ser muito difícil para algumas mães e bebês, porque os dois precisam aprender como é que isso funciona. Tudo é instintivo, mas ainda assim, tudo é muito novo para todo mundo. Foi assim com a gente: Anne teve muitas dificuldades até que a amamentação deslanchasse para valer e eu aprendi que, nessas horas, o pai pode desenvolver um papel fundamental nessa nova dinâmica, que contribuirá para o sucesso da amamentação.

  • Mother the mother. Essa é uma linda expressão da língua inglesa que resume exatamente o que a mãe precisa, principalmente nas primeiras semanas: cuidar da mãe. Ela precisa de alguém que cuide dela, enquanto ela se dedica a entender seu novo papel e a se entender com a amamentação. Existem doulas pós-parto e avós que cuidar da nova mãe nesse momento, mas o pai também pode fazer um papel fantástico. E não precisa de muita coisa não, eu só precisava estar atento às necessidades da Anne, garantindo que ela sempre tivesse água por perto (ou alguma bebida gostosa) ou que ela comesse regularmente, para aguentar a maratona de amamentar. Não é difícil, basta estar por perto e cuidar.
  • Acredite, mesmo que ninguém acredite. Sabe, nesse mundo, tem um bando de gente que está de prontidão para desacreditar nos nossos potenciais. E parte dessas pessoas se dedica a questionar a capacidade da mãe amamentar, ou a capacidade do leite dela alimentar o seu bebê. Não se espante se essas pessoas forem pediatras, familiares, amigos, ou quem quer que seja. Você, enquanto pai e parceiro, precisa acreditar. Você precisa ser o ponto de segurança da mãe que começa a duvidar da sua capacidade de amamentar, ela precisa olhar para você e voltar a confiar no corpo dela. Às vezes, tudo o que a mãe precisa é de um sorriso cheio de empatia, alguma palavra de incentivo, ou alguém que xingue o pediatra que disse que o leite dela está fraco. Seja essa pessoa, esteja lá e acredite na amamentação.
  • Entenda que amamentar não é só alimentar. É muito importante que nós consigamos entender que a amamentação é muito mais do que prover as necessidades nutricionais do bebê. A amamentação supre muitas necessidades do bebê, ao mesmo tempo: conforto, sucção, regulagem de respiração ou de temperatura.
  • Veja a amamentação como algo lindo. Assim como eu percebi, logo, logo, você vai perceber que amamentar é um dos atos de amor mais lindos que você já viu na sua vida. Infelizmente, a sociedade fez um favor de erotizar os seios da mulher e estragar tudo jogando-os no pacote de tabus da sexualidade. Seja lá qual for a sua religião (ou até mesmo quem não tem religião), é muito bacana ver a amamentação como uma bênção, um super-poder que a mãe tem, e uma das melhores coisas que ela pode oferecer para o seu bebê. É bonito para caramba, gente.
  • O pai não pode dar peito, mas pode dar amor.

Mas e o Leite Artificial?

Ah, e o leite artificial? Às vezes, o uso do complemento é realmente indicado, quaisquer sejam os motivos, e então a necessidade nutricional do bebê precisa ser atendida pelo leite artificial. Nós também precisamos recorrer ao leite artificial, por algumas semanas, porque a Anne teve muitas dificuldades com a amamentação. Depois, ela iniciou um processo de relactação que acabou sendo uma linda história de superação e vitória. Você pode ler esse relato nos links que eu coloquei no final deste texto.

Quando é introduzido o leite artificial, uma das primeiras coisas que acontecem é que o pai passa a participar da alimentação do bebê, normalmente. Comigo foi assim, eu entrei para me sentir parte daquilo e também para ajudar a Anne, que estava emocional e fisicamente esgotada. Isso pode ser muito bom pelo lado do pai, que passa a interagir mais na alimentação do bebê, porém, isso é algo que prejudica o vínculo mãe-bebê, comparando com o modelo de amamentação.

A situação ideal é que, mesmo com o leite artificial, as condições da amamentação sejam simuladas, ou seja, a maneira com que a mãe segura o bebê próximo ao seio, a livre demanda, o contato pele a pele, etc. Isso porque o momento em que a mãe amamenta seu bebê pode ser tão especial quanto o momento que a mãe oferece leite artificial para o seu bebê, pois não só as necessidades nutricionais precisam ser atendidas, e o vínculo mão-bebê é fortalecido em cada um desses momentos.

Isso foi algo que eu só fui me dar conta depois que a relactação estava feita e a amamentação estava ocorrendo normalmente, mas ainda assim, não tenho certeza se faria diferente. Imagine que no nosso caso, a mãe estava completamente esgotada e quando eu passei a assumir a alimentação do Dante, ela pode utilizar esse tempo para descansar e recarregar as baterias, na medida do possível.

Introdução aos Sólidos

E rapidinho o seu bebê faz 6 meses. E todas as pressões do mundo caem sobre o pai e a mãe: o bebê precisa instantaneamente se alimentar de sólidos. Precisa de café da manhã, almoço, lanche e janta, porque o leite da mãe já não é o suficiente para suprir as necessidades nutricionais do bebê.

Uma palavra sobre isso: balela.

O Ministério da Saúde informa mais do que fumar faz mal à saúde. Informa também que o aleitamento materno deve ser exclusivo durante os 6 primeiros meses de vida, mas que deve permanecer como a principal fonte de nutrição do bebê até 1 ano. Isso significa que você não precisa correr, não precisa ficar ansioso e pode curtir a nova aventura que é ajudar seu bebê a descobrir novas texturas e sabores, de maneira gentil. É muito importante que o pai tenha isso bem firme na cabeça, porque nós podemos gerar muita ansiedade para a mãe e para o bebê, desnecessariamente.

Como eu trabalho fora, infelizmente, não pude participar tão ativamente da introdução aos sólidos do Dante. A Anne fez praticamente 90% do trabalho, porque os maiores avanços são sempre realizados no almoço. Se você tem a oportunidade de acompanhar o seu bebê, não pense duas vezes. Eu morria de amores no trabalho a cada vídeo ou foto do Dante comendo alguma coisa nova, que a Anne mandava para mim.

Mas eu adoro o que a introdução aos sólidos proporciona, porque é quando eu comecei a ganhar mais autonomia para ficar com o Dante. Antes, eu conseguia ficar uma hora com ele, para que a Anne conseguisse dormir um pouco mais. Depois disso, ele já começava a reclamar e não adiantava, só o peito da mãe resolvia o problema. Mas com a introdução aos sólidos, o meu tempo de autonomia com ele aumentou muito. Hoje, eu acordo com ele nos fins de semana, dou uma fruta para ele comer de café da manhã, brinco mais um pouco, ofereço algum lanche, caso ele tenha fome, e por aí vai. Todo mundo ganha: mais tempo de pai e filho, mais tempo de mãe descansando (merecidamente).

 Amamentação para Além do Horizonte

 Esse é um assunto delicado. Eu sei que existem muitos pais por aí (inclusive conhecidos meus) que, assim que seus bebês completam 6 meses, começam a cobrar a companheira para desmamar. Cara, escuta direitinho o que eu vou dizer:

– Você está fazendo isso errado.

Nem eu, nem ninguém tem o direito de impedir uma das formas mais belas do meu filho obter conforto da mãe. Ninguém ainda perguntou diretamente para nós por quanto tempo a Anne irá amamentar o Dante, mas a resposta já está pronta:

– Enquanto for bom para a Anne e o Dante.

 Mesmo que o peito da mãe não atenda mais as necessidades nutricionais do seu filho, esse momento é muito especial para os dois, pois é quando mãe e filho se reconectam. O pai precisa ver a beleza de sua companheira oferecendo conforto através da amamentação para o seu filho, precisa se livrar da noção besta e superficial que erotiza os seios da mulher e, mais importante, precisa entender que não tem nenhum mando sobre o corpo da mulher. O peito é dela, não seu.

 

Se você ficou interessado, você pode gostar de mais alguns textos aqui do meu blog. Os dois primeiros são relatos de amamentação e primeiro mês de vida do Dante, enquanto que os outros dois link são traduções de estudos científicos recentes que tratam dos benefícios da amamentação:

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

4 comentários em “De Pai Para Pai: Amamentação”

  1. Por favor não pare de escrever, termino meu mestrado um ano e meio e um filho começa a fazer parte de nossos planos. Estamos lendo e nos informando bastante desde já. Muito grata pelas leituras de hoje, li várias postagens! Agora preciso voltar para o mestrado, mas, eu volto pro blog! Parabéns!

  2. Maravilhoso!! É animador saber que há homens bem informados e conectados com a paternagem consciente por aí. Parabéns!!

    Agora um adendo. Apesar do LM não suprir mais totalmente as necessidades nutricionais do bb ele continua sendo uma fonte de nutrientes importantíssima!! Acho super errado dizer que depois de 1 ano peito vira somente aconchego, pois não é verdade. No caso de uma gripe ou de uma diarréia, por exemplo, o bb geralmente se recusa a comer ou não come direito e o LM que vai suprir as necessidades de nutrição da criança. É muito importante entender isso e estimular a amamentação prolongada.

    1. Oi, Livia. Obrigado pelo comentário e elogios.

      E sem dúvida nenhuma, foi isso que eu quis dizer quando escrevi que até 1 ano de idade o LM deve ser a principal fonte de nutrição do bebê. Depois de 1 ano, ela pode não ser a principal, mas ainda é essencial. Tenho alguns estudos traduzidos, aqui no blog, bem bacanas sobre amamentação. Acho que você vai curtir também!

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