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De Pai Para Pai: Criação com Apego

"Não existe o pai perfeito. Mas você pode fazer o seu melhor, e isso requer certo (ou muito) esforço, mas é também prazer. Prazer de amar o seu filho, de sentir-se mais próximo dele a cada dia. Criação com Apego é coisa de pai também, e aqui conto um pouco como é a minha realidade."

Volta e meia, algumas mães pedem ajuda nos grupos de discussão do Facebook sobre como falar com os pais de seus bebês, para sensibilizá-los da criação com apego. Eu sempre dava a minha opinião, sugeria uma coisa aqui e acolá, dizia que deveria escrever um post sobre isso, mas acabava nunca escrevendo. Agora chega de promessas, vamos escrever! Na verdade, vou fazer uma mini-série de textos contando um pouco sobre como eu participo de cada um dos Oito Princípios da Criação com Apego, mostrando como um pai pode fazer parte da criação dos filhos ativamente.

Para início de conversa, não existe pai perfeito, assim como não existe mãe perfeita. E essa é a beleza da coisa: um complementa o outro, todos criando com amor.

Tenho plena consciência de que não sou o pai perfeito, mas sou o melhor pai que o meu filho pode ter, e isso faz toda a diferença.

Não sou o pai perfeito. Faço o meu melhor.

É sobre isso que eu quero falar, sobre como vale a pena fazer o meu melhor. Isso requer certo (ou muito) esforço, mas é também prazer. Prazer de amar o seu filho, de sentir-se mais próximo dele a cada dia. Eu poderia continuar fazendo todas as minhas coisas, exatamente da mesma maneira que era antes de eu ser pai, como jogar video-game, basquete, e outras coisas, mas adivinha só: criar meu filho passou a ser uma das minhas coisas. A mais importante delas, na verdade.

Eu lembro de um amigo, que ainda não tem filhos, conversando comigo outro dia:

– Mas, cara, como é que fica quando você tem um filho? A única coisa que eu preciso é poder continuar jogando video-game. Porque senão vai ser brabo…

Expliquei para ele que isso é muito relativo e a vida vai mudando sem você sentir. Eu mesmo sou uma pessoa que gosta muito de video-game, já joguei muito na minha vida, até muito pouco tempo atrás, mas depois que o Dante nasceu, senti que aquela não era mais tão a minha vibe. Eu trabalho o dia inteiro fora, então sempre que chegava em casa do trabalho, ou nos fins de semana, eu naturalmente comecei a deixar a vida de gamer de lado para estar ao lado do Dante e da Anne. São tão poucas horas úteis que eu tenho por dia para fazer o que eu realmente gosto – pai e marido – que eu comecei a usá-las para ficar com o Dante e a Anne, além de dividir as tarefas de casa.

– É muito relativo… Você sabe que eu sou viciado em jogar, mas ultimamente tenho jogado muito raramente. Quando chego em casa, eu quero mesmo é curtir o Dante e a Anne, não ficar sentado jogando. Mas faço isso porque me sinto mais feliz assim, sabe?

Mas isso faz um pai que ainda joga video-games ativamente ser um pai pior? De maneira alguma! Cada pai tem a sua característica, sua história, e essa é a minha. Eu não consigo dar conta de fazer tudo junto, então senti a necessidade de focar.

E eu acho que ser pai, se envolver com a criação dos filhos, criar com apego, todas essas coisas acontecem organicamente. Pode ser que esse processo de mudança comece mais cedo ou mais tarde para cada pai, pode ser que seja necessário alguma motivação, ou incentivo, como uma faísca que inicie as mudanças, e pode ser que essa faísca tenha que ser provocada pela esposa. Foi assim comigo também, porque a Anne me ajudou muito já durante a gestação, quando me ajudou a entender e admirar o universo do parto. Só acho que uma coisa que precisa ser evitada é a comparação, mesmo que seja feita com boas intenções.

Por exemplo, eu não gostaria nem um pouco de ouvir a Anne dizendo para mim:

– Tá vendo aquele marido X? Nossa, ele é tão mais envolvido com o ativismo do parto!

– Poxa, e o pai Y? Ele é tão mais amoroso e dedicado. Ele consegue ficar 10 horas direto com o bebê para que eu consiga dar uma descansada.

Comparar não é legal, nós mesmos evitamos fazer isso com os nossos bebês porque sabemos que isso não é saudável. Nós evitamos comparar nosso bebê com os bebês dos nossos amigos, nem pretendemos comparar nosso filho quando for mais velho com outras crianças, porque também sabemos que isso só traria prejuízos à autoestima dele.

Se para os filhos comparar não é legal, para mim, marido e pai, também não é. O que eu posso fazer se o pai Y consegue ficar 10 horas diretos com o bebê, enquanto eu só consigo ficar 2 horas? Tenho certeza que eu estou fazendo o meu melhor e que, com o tempo, isso vai melhorar ainda mais. Só que por enquanto, é o que eu consigo fazer e ouvir que outra pessoa é 5 vezes mais produtiva que eu não vai melhorar muito a minha situação. Comparar pessoas pode levar à frustração, ao invés da motivação. Comparar pode afastar, ao invés de aproximar.

Ah, só para esclarecer, Isso tudo aí em cima foi um exemplo hipotético, para ilustrar o caso. A Anne não me compara e sou muito grato pela compaixão e empatia que ela tem com tudo na vida!

Mas nada é simples, não é mesmo? Por exemplo, lá em casa, eu trabalho fora enquanto que a Anne decidiu adiar temporariamente seu retorno à carreira, para cuidar do Dante integralmente (em um post futuro eu conto mais sobre essa decisão). Depois de passar o dia inteiro no trabalho, é claro que eu chego em casa super cansado, mas ao mesmo tempo, eu sei que a Anne também está super cansada por ter ficado o dia inteiro cuidando do Dante. Isso, por si só, já tem um potencial imenso para gerar brigas, e por isso temos que ter muita paciência: eu preciso entender a situação dela e vice-versa. Quando cada um consegue ver e entender a situação do outro, as coisas começam a melhorar.

E a criação com apego, onde entra nessa história? Mais especificamente, onde o pai entra nessa história? Na verdade, tudo isso que eu já estou falando passa pela criação com apego. A nossa intenção é criar o Dante estimulando um vínculo saudável e duradouro conosco, ajudá-lo a ser uma pessoa que tenha empatia e compaixão com o outro e com o mundo. Mas não adianta só falar e seguir algumas recomendações se você não assume essa postura para si mesmo; eu preciso também olhar para a minha relação com a minha esposa e fazer o mesmo. E não só com a minha esposa, mas também com o mundo.

Para finalizar, tenha sempre em mente a regra de ouro da criação com apego: trate os seus filhos como você gostaria de ser tratado. Ofereça ao seu filho o mesmo que você gostaria de receber: amor, empatia, afeto e respeito. Afinal, são os nossos filhos, são aqueles que nos veem como exemplo. Nós somos as coisas que eles mais amam e precisam no mundo inteiro.

Até o próximo post!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

2 comentários em “De Pai Para Pai: Criação com Apego”

  1. Olá Thiago! Comecei hoje a ler sobre os seus post, recomendado por uma amiga do trabalho, pois minha esposa disse que depois do parto eu parei de ler, estudar e o que é foi a gestação.
    Temos uma filha de dois anos e meio. Desde o primeiro dia que descobri que seria pai cai pra dentro para saber como seria cada etapa. O primeiro susto foi quando nove meses na verdade são 40 semanas ou mais um pouco. (matemática: um mês quatro então nove x quatro=trinta e seis).
    Pois bem! Participei de tudo, ultrasson, consultas medica, peguei uma régua para saber o tamanho da minha filha semana a semana e então ela nasceu.
    Na maternidade já olhei para enfermeira no segundo banho e disse: Aqui quem vai dar o banho sou eu então a senhora não vai me explicar e foi eu la dar o banho e dei todos que podia dar. Entrei no banheiro debaixo do chuveiro ela tendo alguns meses para acalma-la. Hoje ela já brinca que vai lavar o pé do papai. Brinco, levo para passear, faço tudo sem ter a necessidade de acompanhamento da esposa, avó ou alguém…
    Porém agora vem as próxima etapa e que não tenho buscado, e não me pergunte o porque, pois não sei, sobre a educação positiva, empática e tudo o que esta relacionado a educação da minha filha. Observo minha mulher acompanhando blogs, instagran e tudo sobre este universo e não tenho interesse nenhum, no momento, como fiz durante a gestação. Vejo o que ela faz com nossa filha e quando estou sozinho com ela repito. Questões relativas a emoções e tudo mais.
    Minha mulher disse que não estamos seguindo na mesma direção, pois não estou procurando, vendo, acompanhando sobre estas questões. Que só tiro o tempo livre para coisas futeis.
    Pergunto-te: O que é ser um bom pai? O que é ser um bom marido quando se é pai?

    1. Oi, Italo, tudo bem? Rapaz, esse post que você leu e comenta agora foi escrito há mais de 6 anos e, mesmo depois de todo esse tempo, eu não sei te dizer o que é ser um bom pai. Contudo, imagino que o que a sua esposa esteja falando (e concordo plenamente com ela) é que o pai também precisa se informar. A carga mental de aprender o que fazer com um bebê (junto com tantas outras cargas mentais que a mulher tem) deveria ser dividida com o pai. Nós não podemos nos limitar a sermos meros repetidores do que a mãe aprende. Nós precisamos nos informar, aprender coisas novas e trocarmos essas experiências e aprendizados com as nossas parceiras. Isso que significa, para mim, dividir as tarefas, seja enquanto pai como marido.

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