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A Reunião de Família na Disciplina Positiva

"Uma das ferramentas da disciplina positiva que mais adoro é a reunião de família. Elas são a expressão máxima de uma educação respeitosa, que ouve o que as crianças têm a dizer."

Uma das ferramentas da disciplina positiva que eu mais adoro é a reunião de família. Para mim, essas reuniões são a expressão máxima de uma educação respeitosa, que ouve e leva em consideração o que as crianças têm a dizer.

Nos encontros que eu faço, e também em algumas mensagens que eu recebo, surgem situações desafiadoras que mães e pais me apresentam, e que poderiam muito bem ser encaminhadas através de reuniões de família, então por isso resolvi escrever esse texto, para compartilhar um pouco com vocês o que eu já aprendi com a Jane Nelsen, autora do livro Disciplina Positiva, sobre essa ferramenta tão poderosa.

Uma coisa importante a dizer é que essas reuniões são eficazes com a criança que já tem 4 anos de idade. Então, não tente fazer uma reunião aí com uma criança de 2 anos, que não consegue nem ficar sentada por mais de 5 minutos no mesmo lugar! Como o Dante só tem 3 anos, resolvemos esperar um pouco mais para começar essa rotina de reuniões, mas eu também mal posso esperar para começar a fazer isso com ele. E, a partir dessas experiências, eu volto a escrever sobre como tem sido para nós.

Talvez você esteja achando essa conversa toda muito esquisita, né? Afinal, reuniões são chatas. E reuniões são formais. Será que faz mesmo sentido fazer uma reunião com os nossos filhos? Não estaríamos enrijecendo demais a nossa rotina? Bem, essas reuniões não são exatamente como as reuniões de trabalho que nós conhecemos. Não são essas reuniões enfadonhas que nunca levam a lugar nenhum, que ninguém decide nada, e que apresentações monótonas em PowerPoint são feitas. As reuniões de família são momentos em que todos os membros estão juntos para compartilhar e resolver problemas juntos, e são lugares em que todos os membros da família — principalmente as crianças — sentem-se seguros para falar sobre o que quiserem.

Dentro dessa estrutura de reunião, devemos pensar em algo que dure entre 10 e 30 minutos, para que a coisa toda não fique muito cansativa, e a sugestão é que ela aconteça semanalmente, para que se torne uma rotina da família. A estrutura proposta pela Jane Nelsen para essas reuniões se baseia em 4 itens, que vou detalhar logo abaixo.

A Lista da Reunião

Ao longo da semana, os assuntos a serem resolvidos na reunião podem ser colocados nessa lista. É como se fosse uma pauta da reunião, mas sem aquele peso formal de se ter uma pauta de verdade.

Se, por exemplo, o seu filho está com algum problema para se vestir, seja porque enrola demais, ou porque sempre quer usar o mesmo tipo de roupa, esse pode ser um ponto interessante a incluir na lista da reunião.

Se os dois filhos estão, por exemplo, brigando muito entre si, talvez valha a pena perguntar se eles não gostariam de incluir isso na lista para a próxima reunião. Mas, claro, isso não significa que não trataremos de nenhum problema fora da reunião. Existem problemas que precisam ser tratados na hora e existem sentimentos que precisam ser acolhidos na hora. Só que, às vezes, as crianças podem desejar que um determinado assunto seja abordado na reunião da família, e por isso que é importante perguntar isso aos nossos filhos.

Outra vantagem de anotar algum assunto e esperar a reunião para encontrar a solução para um determinado problema é que damos tempo ao tempo. Quase sempre, quando tentamos resolver um problema de cabeça quente (tanto os pais como os filhos), a solução não é exatamente a melhor possível para aquela situação. Esperar alguns dias até retornar ao problema com a cabeça mais fria pode trazer soluções mais eficientes.

Elogios e Reconhecimentos

No dia marcado, a reunião começa sempre com uma rodada de elogios e reconhecimentos. É o momento em que cada pessoa fala sobre algo que gostou na outra, ou agradece por alguma coisa que a outra pessoa fez.

— Eu queria agradecer ao meu filho, que me ajudou a encontrar meus sapatos ontem.

— Papai, eu gostei muito do café da manhã que você preparou hoje.

— Obrigado por me acalmar naquele dia que eu estava tão nervoso.

— Eu gostei muito do desenho que a minha filha fez ontem!

Imagine se todas as reuniões começassem dessa maneira. O rumo delas seria bem diferente, não? Por isso que essa etapa é tão importante, porque focamos nas coisas boas e nos reconhecemos. Todos se sentem importantes e enxergados.

Solução de Problemas

É aqui que pegamos a lista da reunião e fazemos um brainstorming, em que todos os membros, sejam crianças ou adultos, sugerem soluções criativas para resolver aqueles problemas.

Nos exemplos anteriores, eu mencionei um problema em que a criança demorava muito a se arrumar. Então, nesse momento, podemos levantar a questão e perguntar o que todos sugerem para resolver isso. A própria criança fazer uma sugestão, como deixar as roupas dela já separadas para vestir, ou alguma outra que nunca pensamos.

Ouvir e deixar que a criança dê uma solução faz com que ela se sinta respeitada e ouvida. Por isso, as chances da criança seguir uma solução que ela mesmo criou são bem grandes. Mesmo que você pense que você já deu uma solução melhor que o seu filho, lembre que, se a solução não está funcionando ainda, então talvez ela não seja a melhor.

No outro exemplo de problema que foi adicionado à lista, onde os irmãos estão brigando muito, pode ser que eles mesmos criem uma solução para isso, identificando que o problema de tudo seja uma disputa de brinquedos. Então, eles poderiam sugerir fazer uma divisão de tempo para que cada um brinque com um determinado brinquedo, e por aí vai.

Essa etapa é a mais importante da reunião, porque ela que vai fazer com que tudo valha a pena, ou não. Precisamos ter sempre em mente que esse precisa ser um lugar seguro para todos, um lugar sem julgamentos, sem apontamento de dedos. A reunião da família deve ser um lugar em que todos possam falar o que precisarem, sem sentir medo.

E mais importante ainda: o foco da reunião é encontrar soluções, não culpados.

Planejar um Programa em Família

Para fechar a reunião, nada melhor que planejar ou fazer um programa em família! Você pode sugerir algum jogo com os seus filhos, ou todos podem planejar o próximo passeio da família, como uma ida a um parque especial no fim de semana.

Boa reunião!


Essa é uma ferramenta que pode ajudar muito você a resolver alguns conflitos com seus filhos, mas é bom lembrar que nada é garantido. Talvez uma solução que tenha saído da reunião não funcione, mas tudo bem. Todos aprendem com os erros. Esse problema pode voltar a ser abordado em uma próxima reunião para que outra solução apareça.

Você já faz reuniões em família? Conte nos comentários como tem sido essa experiência para você!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

4 comentários em “A Reunião de Família na Disciplina Positiva”

  1. Evelin Machado de Oliveira Ros

    Nossa Thiago amando os posts, não conhecia o site. Comprei o livro da Jane no estante virtual e estou aguardando chegar pra começar a ler. Obrigada pelo texto e dicas.

  2. Vanessa Santiago Nunes

    Nossa muito legal essa ferramenta. Aliás gostaria de pedir um post ou um vídeo sobre ferramentas da disciplina positiva. Eu sei que existem muitas ferramentas mas conheço pouquíssimas.

  3. Muito bacana, Thiago. Estou cada vez mais encantada com a Disciplina Positiva. Minha filha ainda tem 19 meses, ainda tem chão pela frente antes de testar as reuniões.
    Recentemente vi um vídeo da Fernanda Lee sobre ferramentas da DP e gostei muito quando ela disse que os “maus comportamentos” podiam ser vistos como oportunidades de aprendizado, que o desafio de lidar com eles é que ajudariam nossos filhos a construírem os valores que queremos que tenham no futuro. Se você quer que seu filho se torne um bom solucionador de problemas, não adianta resolver por ele os problemas dele.
    Quisera eu ter tido a oportunidade de ter espaços tão transformadores como essas reuniões na casa onde cresci. Acho que meu desafio será que estarei aprendendo junto com ela (mas a maternidade tem sido isso o tempo todo, aprender com ela).

  4. Mariana Edith Gollmann

    Eu descobri reuniões de familia no livro da Jane Nelsen, que li recentemente. Ainda não consegui criar a rotina semanal, mas já fiz uma e me surpreendi porque achava que o meu filho Eric (de 5 anos) não ia querer fazer mais, mas ele adorou e quer continuar! E ele realmente ficou (pelo menos nos primeiros dias (empolgado em fazer as coisas do jeito que decidimos juntos na reunião. Usamos a reunião para criar a rotina juntos, e isso foi muito bom!

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