A palmada ensina muita coisa sim, mas provavelmente não é o que você imagina. Como interromper esse ciclo de violência?
Muito se fala sobre a "palmada educativa" e, principalmente, em como ela pode ensinar lições valiosas para os nossos filhos quando empregada rotineiramente. Agora, convido você a refletir sobre 5 verdades difíceis de engolir sobre a palmada.
Se a criança apanha sempre que existe alguma discussão, a mensagem indireta que ela recebe é que a pessoa mais forte sempre ganha as discussões e irá transportar isso para as outras relações da sua vida. A palmada mostra que pouco importa a força do seu argumento, mas sim a força do seu braço.
Quando a criança tenta se opor a alguma ordem ou decisão dos pais e, em resposta, recebe uma palmada, ela aprende que é aceitável usar da violência para disputar quem está certo. Novamente, essa criança estenderá essa percepção para suas outras relações, entendendo que, mesmo que ela apanhe dos pais como "último recurso", é possível partir para a violência quando aparentemente todos os recursos se esgotam.
"Palmada é palmada, é leve, não é violência." "Eu apanhei porque mereci e tô aqui, vivo e muito bem." "Se não apanhar em casa, vai apanhar no mundo e será bem mais grave."
O fato de você já ter escutado ou até falado uma dessas frases, já é uma evidência de como a palmada naturaliza a violência. Minimizar os impactos da palmada e dobrar a realidade para chamá-la de "educativa", mostra como crescer em um ambiente onde a violência é ferramenta de disciplina de fato ajuda a normalizar tudo isso nas nossas vidas. Então, não, ninguém "merece" apanhar. Absolutamente ninguém.
Existe uma diferença imensa entre autoridade por vínculo e autoritarismo por medo. Um pai ou mãe que bate nos filhos de forma recorrente pode até ter a impressão de que é respeitado, mas a realidade é que seus filhos têm medo. Não é sobre respeito. Utilizar do medo como uma forma de "controlar" o comportamento de crianças tem impactos gravíssimos na autoestima delas. O medo tira a voz da criança, elimina a capacidade de questionar e rompe vínculos que deveriam ser seguros.
Esse é o ensinamento mais grave da palmada. Poucas pessoas discutem sobre isso, mas se a mesma mão que dá afeto também bate, isso passa uma mensagem indireta de que violência e amor podem andar juntos. Pior ainda, que a violência "pode" ser uma forma de expressar amor. O impacto disso é imenso na construção dos vínculos entre pais e filhos. Esses vínculos tornam-se inseguros e passam a ser referência para outros relacionamentos daquela criança ao longo da vida. Por isso é tão comum encontrar pessoas adultas que sofreram violência em suas infâncias e que frequentemente ainda se envolvem em relacionamentos violentos hoje em dia.
Quebrar o ciclo de violência é difícil, ainda mais se nós fomos criados dessa forma em nossas infâncias. É um exercício diário e, quase sempre, necessita de apoio profissional. Mas acredite em mim: é uma luta que vale a pena lutar. Educar filhos sem violência é um dos maiores legados que podemos deixar, tanto para as crianças, como para a sociedade. Com carinho, Thiago Queiroz
Educação parental Criação com apego Disciplina positiva
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