A esta altura da vida, eu já sei que as ferramentas empregadas pela disciplina tradicional e autoritária não são nem eficientes, nem positivas. Não são eficientes porque elas tratam a corrigir o comportamento, buscando soluções a curto prazo, enquanto que não se preocupa com o que vai acontecer a longo prazo com os nossos filhos. E nem são positivas porque, por focar apenas no comportamento, não beneficiam em nada no vínculo entre pais e filhos.
Mas falar assim é fácil, não é? Quero dizer, muitas pessoas (felizmente) falam sobre a disciplina positiva, e a cada dia mais pais se conscientizam de como isso é importante. Mas e aí? Como fica a coisa em termos práticos? É só não bater no filho e pronto? É só não gritar? Na verdade, é bem mais do que isso. E, por isso, traduzi um belo texto da Chaley Ann Scott, que dá 10 alternativas à punição, dando uma boa ideia de como é a filosofia da disciplina positiva, como um todo.
Chaley Ann Scott é uma socióloga, escritora, conselheira de criação de filhos e mãe de quatro filhos. Ela é uma colaboradora do The Attached Family, que é a revista da Attachment Parenting International (API), e também é colaboradora regular do site The Green Parent.
10 Alternativas Gentis para a Punição
Muitos de nós não nos sentimos confortáveis fazendo uso da punição com os nossos filhos, mas também não sabemos o que fazer ao invés disso. Nós sentimos que temos que punir o mau comportamento, para garantir que isso não aconteça de novo e para ensinar uma lição para os nossos filhos. Sem punição, como eles vão aprender o que é certo e errado? A boa notícia é que os nossos filhos podem aprender a ser gentis, responsáveis e socialmente aceitáveis, sem o uso de medidas punitivas, através dessas alternativas respeitosas mostradas abaixo:
1. Olhe por trás do “mau comportamento” e assuma a boa intenção
Nós somos encorajados por muitos “especialistas em criação” a ignorar ou punir o mau comportamento, mas isso significa que podemos perder a oportunidade de ouvir o que o nosso filho está tentando comunicar conosco. Se vemos uma birra ou “mau comportamento” como “maldade”, então ignorar ou punir o nosso filho faz sentido. Se, ao invés disso, nós vemos como uma emoção forte que o nosso filho está tentando comunicar para nós da única maneira que ele sabe, então ignorar ou punir não faz qualquer sentido. Tudo o que faz é incentivar o nosso filho a parar de tentar comunicar as suas necessidades para nós, porque nós não estamos ouvindo. Além disso, o que constitui “mau” ou “bom” comportamento é muito subjetivo. Olhando mais a fundo, o comportamento muitas vezes nos faz entender mais. O comportamento que parece “desobediente” ou “destrutivo”, na maioria das vezes, através dos olhos de uma criança, é apenas uma exploração inocente e busca por mais conhecimento. Às vezes, é apenas a sua forma de comunicar uma necessidade não atendida .
Isto pode ser difícil de entender, já que fomos condicionados a acreditar que as crianças são naturalmente manipuladoras, sorrateiras, preguiçosas e gananciosas. No entanto, se vermos os nossos filhos através de um olhar mais positivo, onde nós confiamos que eles estão fazendo o melhor que podem, fica mais fácil aceitar que os nossos filhos ainda estão aprendendo e descobrindo os seus próprios caminhos no mundo.
2. Imagine o mundo do ponto de vista dos nossos filhos
Muitas vezes, nós esquecemos como é ser criança, julgando, assim, suas ações e palavras através do olhar de um adulto. Se vermos o mundo do ponto de vista dos nossos filhos, vai nos ajudar a compreender suas ações e nos lembrar quem os nossos filhos são de verdade, ao compreender o que eles enfrentam no mundo. Também é importante lembrar que eles não são réplicas de nós – eles têm seus próprios interesses, opiniões, desejos e uma personalidade que precisamos honrar.
Imagine como você parece e soa do ponto de vista dos seus filhos. Você é empático? Você está do lado deles? É respeitoso com eles? Você valida os seus sentimentos? Você os leva a sério? Você é alguém que contribui para a alegria deles ou dificulta eles? Você é um controlador que estraga a diversão, ou você é alguém que enriquece a vida deles? Você realmente considera os sentimentos e pontos de vista deles sobre as questões da família? Estar consciente de quem os nossos filhos são e onde eles estão “agora” no mundo vai nos ajudar a criá-los com mais gentileza.
3. Identifique e responda às necessidades
Os nossos filhos nem sempre se comunicam com palavras, mas frequentemente com ações. Se eles estão ficando inquietos, mal humorados, ou mostrando um “mau comportamento”, pode ser que eles precisem sair de casa ou pular por aí. Eles podem precisar de um tempo de silêncio ou um tempo sozinhos ou até um banho quente. Eles podem estar se sentindo tristes ou chateados com alguma coisa que precisam conversar. Eles podem precisar mais de você, então sente-se no chão e brinque com eles, leve-os para fora para jogar bola, ou leiam um livro e um curtam um aconchego. Muitas vezes, o comportamento “desobediente” é apenas uma maneira da criança expressar uma necessidade não atendida, então, se você continuar totalmente conectado e presente com os seus filhos, você deve conseguir identificar com boa antecedência quando eles estão “fora de si” e responder adequadamente.
4. Dê informações e razões, e encontre alternativas aceitáveis
Se o seu filho pede algo que você não concorda (por razões não-arbitrárias), então ao invés de dar um belo “não” como resposta, tente “encontrar o sim” e ofereça alternativas aceitáveis para ambos. Por exemplo, se o seu filho quer colorir as paredes, então uma alternativa para repreender é explicar que isso iria danificar a casa e que você gosta dela bonita, explorar por que ele quer desenhar na parede e, então, sugerir uma alternativa aceitável. Podemos acabar descobrindo que ele gosta de desenhar em pé ou que gosta de desenhar coisas grandes e o papel é muito pequeno. Ele pode, então, ser tão feliz desenhando com giz no quintal, na parede da garagem, em cima do muro da casa, ou na cozinha em um grande pedaço de papel. Mostrando que você está sempre do lado deles, tentando encontrar maneiras para que eles façam o que eles querem fazer, vai reforçar a confiança deles em você e transformar vocês em parceiros, ao invés de adversários.
5. Seja o modelo de como você quer que eles se comportem
Nós precisamos tratar os nossos filhos com o mesmo respeito, cortesia e gentileza que trataríamos um adulto, e nos comportar da mesma maneira que gostaríamos que eles se comportem. Quantas vezes você já viu pais demandando uma educação de seus filhos que eles mesmos não têm? Quantas vezes você já viu pais se comportando de maneiras que eles repreenderiam se fosse com os seus filhos? Os nossos filhos estão sempre aprendendo, e a maior parte disto vem da observação. A criação progressiva significa permitir que eles desenvolvam essas habilidades em seu próprio tempo e à sua maneira; modelando o comportamento que gostaríamos de ver em nossos filhos.
6. O “não” é uma resposta aceitável
Se “não” é uma resposta aceitável para os adultos, então por que não para crianças? Fazer com que o “não” seja uma resposta aceitável para os nossos filhos, mostra a eles o quanto nós os respeitamos. A criação tradicional nos diz que é rude e desrespeitoso para uma criança dizer “não” a um pedido de um pai, ou qualquer adulto. Porém, não seria mais desrespeitoso ainda que os adultos não aceitem um “não” apenas porque veio de uma criança? Quanto mais nós aceitarmos o “não” como resposta, será mais provável que os nossos filho digam “sim” por sua própria vontade, ao invés de por medo, obrigação ou conformidade.
7. Peça desculpas
Desculpas têm um poder imenso de curar e purificar. Somos condicionados a acreditar que nunca deveríamos pedir desculpas aos nossos filhos, porque isso mostraria fraqueza ou falta de autoridade, e então nossos filhos não confiariam mais em nós. O oposto é verdadeiro. Se pedimos desculpas aos nossos filhos, vamos mostrar-lhes que somos humanos e capazes de errar e inclusive assumir nossos erros, um atributo que muitos de nós esperamos que nossos filhos adquiram.
8. Deixe de lado as expectativas e juízos de valores
Precisamos começar a ver os nossos filhos como os seres humanos únicos que eles são – e não uma idade, ou um gênero, ou um rótulo, mas uma pessoa. As crianças podem ter sentimentos e necessidades intensas e alguns são (às vezes) barulhentos, curiosos, bagunçados, determinados, impacientes, exigentes, criativos, tímidos, confiantes e cheios de energia. Devemos tentar não julgar os seus interesses, paixões ou personalidades. Se não esperarmos que eles façam determinadas coisas, seguindo uma agenda, em um determinado horário, nós podemos começar a aceitá-los como eles são, naquele momento.
9. Seja o herói deles
Muitas vezes, eu escuto pais dizendo coisas negativas sobre seus filhos – às vezes bem na frente deles. Quantas vezes você já ouviu pais lançando comentários do tipo: “Ah, mal posso esperar até que as férias acabem”, ou “Eles estão me deixando louco”, ou” Eles são tão preguiçosos / estúpidos / grosseiros” ou até mesmo “Eu amo eles, mas eu não gosto deles”. Não devemos entrar na agressão verbal de filhos, seja na presença deles ou não. Quando nós consideramos como nos sentiríamos se alguém que amamos estivesse falando assim sobre nós, pode fazer com que você veja o quão doloroso isto é para uma criança.
Diga coisas agradáveis para e sobre os seus filhos, e tomando o lado deles em relação aos outros vai fazer os seus filhos sintam-se verdadeiramente respeitados, amados e protegidos.
10. Seja positivo, é contagioso!
Você já reparou que quanto mais irritado você fica com os seus filhos, mais ranzinzas eles ficam? E o círculo vicioso começa! Muitos de nós fomos educados por pais autoritários, de maneira que pode parecer uma tarefa impossível nos mudar do controle para a conexão, em nossos piores momentos. É importante lembrar sempre que amar os nossos filhos agora é algo que nós realmente queremos fazer. É algo que nós escolhemos e muitas pessoas não têm a sorte de ter o que nós temos. Esse é o tipo de voz que precisamos ouvir, em qualquer momento que nos sentimos frustrados e esmagados pelo “trabalho de criar filhos”. Ao invés de focar em mudar nossos filhos, ensinar uma lição, ou afastá-los, podemos nos concentrar em mudar a nossa perspectiva. Não de uma vez por todas – seria muito para lidar – mas um pequeno passo, agora. Estar de verdade com os nossos filhos, olhando para eles, cheirando seus cabelos, sentando no chão e brincando com eles, seguindo os seus interesses, e compartilhando os nossos com eles, tudo isso nos ajuda a sermos capazes de nos colocar em um contexto mais positivo na mente e restaurar a paz.
22 comentários em “10 Alternativas Gentis para a Punição”
Não pesquei a parte que realmente devo dar uma bronca no meu filho. Se ele fizer alguma coisa errada, faço o que, se uma conversa não é suficiente?
Oi, Keila. Desculpe-me mas não entendi muito bem a sua pergunta. Você poderia escrever em outras palavras, por gentileza?
Keila, acho que você não leu com tamanho interesse essa proposta.
Muuuito obrigada, veio na hora certinha!
ótima dicas,preciso ler muito para cuidar melhor do meu filho.
É difícil tentar não repetir os erros que nossos pais cometeram conosco. Muitas vezes as atitudes que mais condenamos são repetidas inconscientemente, cresci ouvindo minha mãe falar ” faça o que eu mando, não faça o que eu faço”. Hoje com um filho de 10 anos, reconheço que poderia ser uma mãe menos autoritária.. e encontrar o site me acendeu uma luzinha no coração… nunca é tarde pra amar, de verdade, nossos filhos.
Obrigada.
Com certeza, Sam! Nunca é tarde!