A cena de um homem completamente descontrolado batendo em crianças (provavelmente suas filhas) na praia já é uma das cenas mais violentas do ano.
Um pai que desfere vários golpes fortes de chinelos em suas filhas, já nos causa angústia ao assistir. Mas um pai que ergue uma filha no ar e a arremessa, como se fosse algo menor, insignificante, é uma das cenas mais perturbadoras que já vi.
E isso nos faz lembrar de como é importante conversarmos sobre violência contra crianças.
O primeiro ponto é: ninguém, nenhuma criança, em hipótese alguma, merece apanhar.
Por mais reprovável que seja o comportamento ou atitude de uma criança perante seus cuidadores, não existe nenhuma situação em que é aceitável que um adulto se sinta autorizado a violentar uma criança. E esses adultos o fazem por descontrole, por estarem imersos em uma cultura de violência, por não terem ferramentas não violentas à mão, mas principalmente porque sabem que a sociedade tolera isso.
E esse é um dos grandes problemas: nós, enquanto sociedade, não entendemos que a responsabilidade de proteger as crianças é de todo mundo. Não apenas dos pais, mas também do governo e da sociedade.
Se fôssemos uma sociedade que repudiasse veementemente toda e qualquer forma de violência contra a infância, esse pai (e tantos outros) não se sentiriam tão confortáveis de espancar seus filhos em público. Ainda não resolveria, obviamente, todo o problema, porque se as coisas são assim em público, quem dirá na intimidade do lar privado.
E antes que tentem justificar, violência nunca é justificável. Nem para educar, nem por desespero e nunca é sobre amor. Na verdade, é sobre criar uma relação extremamente perigosa entre amor e violência, porque se alguém que ama pode causar tanta dor, isso provoca problemas imensos por toda a vida.
Violência fala sobre descontrole, não sobre cuidado.
E como mudar, então? Primeiro, repudiar situações como essa, lembrar que o elo mais fraco, quem realmente é indefeso nessas horas e precisa de proteção, é justamente a criança.
Para além disso, precisamos trabalhar juntos conversando entre amigos, conscientizando pessoas sobre o problema da violência com crianças. Compartilhando conteúdos sobre uma educação menos violenta que não apenas eu produzo na internet em vídeos, textos e podcasts, mas tantas outras pessoas que também produzem.
Vamos amplificar o alcance desses conteúdos, falar sobre isso em nossos círculos sociais. Crianças são crianças, e a responsabilidade pelo cuidado delas é dos pais, do governo e da sociedade. Cenas como essas só mostram que seguimos falhando como sociedade.