Este texto foi originalmente postado por Lisa Barrett em 19 de abril de 2008, em seu blog. Em 2011, este texto foi traduzido pela Maíra Libertad. Ambas, muito gentilmente, permitiram que eu publicasse o texto traduzido aqui também, no Paizinho, Vírgula!
Maíra Libertad é enfermeira obstétrica, parteira domiciliar e pesquisadora da área de Prática Clínica Baseada em Evidências.
Este brilhante artigo foi escrito pelo marido de uma americana que vive na Inglaterra, depois de um parto domiciliar. Obrigada a Bel por me deixar reproduzi-lo. Ah, e a seu marido, é claro.
Os 7 Segredos de Um Pai de Parto Domiciliar
Todos os futuros pais ficam nervosos ou pelo menos céticos, quando sua esposa/parceira menciona a ideia de ter um parto em casa pela primeira vez. Isso não é algo de que se envergonhar – nós, os caras, somos condicionados por um bombardeio constante durante toda a vida de que os médicos sabem mais, e que é nosso dever patriarcal sempre fazer escolhas seguras. É por isso que, quando minha esposa Bel trouxe pela primeira vez a ideia para o nascimento de nossa segunda filha, meu primeiro caminhão de pensamentos foi sobre o risco. […] Eu olhei para as paredes do nosso apartamento e imaginei se um spray de sangue arterial poderia ser removido de um tom particular de off-white. Dez minutos googlando dissolveram o meu equívoco de que parto em casa é perigoso (com Bel espiando por cima do meu ombro e me direcionando para sites que ela já tinha lido).
Em suma, existem estudos a favor e contra, mas se você ouvir o seu próprio bom senso provavelmente você vai concordar que é tão seguro quanto, se não mais seguro. Você pode googlar todas as coisas você mesmo, mas o que eu quero realmente comentar é sobre o segundo caminhão de pensamentos que atropelou minha cabeça – Por quê?
Por que ter um parto em casa? Minha esposa teve suas razões e ela colocou-as para mim. Bel teve uma experiência horrível no hospital com nossa primeira filha e isso era uma grande parte disso. Conforme Bel explicava-me, acenei com a cabeça e disse “humm” muitas vezes, e fiquei feliz em embarcar naquilo, porque eu sabia que era o que ela queria.
Mas eu nunca tive razões minhas próprias para aquilo – da minha perspectiva egoísta como um pai – até que eu tivesse experimentado isso por mim mesmo.
Essas razões são os 7 segredos que eu quero compartilhar com vocês agora.
1- Em um parto em casa você não está mais relegado ao banco.
Antes do nascimento em si, há mais para pensar no sentido de uma espécie de planejamento e logística, que vai desde a compra de equipamentos até tarefas viris como se certificar de que a mangueira da piscina de parto realmente se conecta às suas torneiras. No dia do jogo, você não é apenas uma coisa grande e peluda, cuja única utilização é ser espremido ou violentamente xingado. Você está no comando da piscina de nascimento, talvez até mesmo de pegar o bebê (eu farei isso da próxima vez). E, além da mãe, que estará um pouco ocupada, você é a única pessoa no prédio que sabe onde estão todas as toalhas. Se você já leu O Guia do Mochileiro das Galáxias alguma vez, você saberá o quanto isso é vital.
2- Você vai perder menos cabelo e ganhar menos rugas.
Ter um bebê é sempre assustador em algum nível, se você não está assustado você deve estar sedado ou morto. Com um parto domiciliar, no entanto, existem menos coisas para o estressá-lo e alimentarem o monstro feio do medo. Pense nisso: sem trânsito. Nenhuma preocupação de se perder. Nenhuma preocupação de que o carro não dê partida.
Nenhuma preocupação de que você tenha esquecido alguma coisa. […].
Sem preocupação com o que está acontecendo. Sem corredores para caminhar. Nenhum médico presunçoso. Você ainda vai ficar preocupado, mas isso não vai consumi-lo. Além disso, em um parto em casa, você tem muitas tarefas que fazer para ter tempo de deixar seu monstro do medo correr livre.
3- O lar é onde o coração está.
Isso sem mencionar CDs, DVDs, o PlayStation… Todos os seus confortos.
Sua música, sua TV, sua caneca favorita, sua geladeira, suas revistas, seus livros, mesmo a sua cerveja, eu acho. Você estará mais relaxado, a mãe vai ficar mais relaxada e para o bebê será muito mais tranquilo quando ele/ela sair. Vou ser honesto, apesar do estímulo de preocupação e excitação, os partos são em geral muito chatos.
Talvez eu tenha um deficit de atenção, mas não é, você sabe, entretenimento. E todos nós sabemos que eles podem demorar um bocado. Com um parto em casa, você vai ficar mil vezes menos entediado, já que você pode fazer uma pausa e ler uma revista ou ligar a televisão um pouco. E é provavelmente menos chato para as parteiras também.
4- Diga adeus às pequenas coisas que me matam?
Eu odeio hospitais por um milhão de razões pequenas e grandes. Olhando para trás agora eu não posso acreditar que eu não pulei de alegria quando Bel mencionou ter um parto em casa, simplesmente porque eu não gostaria de ter que ir para um hospital. Meu principal problema com os hospitais é este – a ideia de estar rodeado por pessoas doentes soa como uma estratégia ruim se você quiser ficar saudável. Além disso, há centenas de pequenas coisas: ele cheira mal, a comida desagradável, é humilhante ter que encontrar seu caminho seguindo linhas coloridas no chão e, o mais importante, quando o seu recém-nascido chegar ele/ela não será acordado pelo filho de alguém gritando. Hospitais são chatos, nossa casa é o que há!
5- Você não tem que viver o clichê do pai infeliz e desprezado na sala de parto.
Você sabe do que se trata – a mulher em trabalho de parto odeia seu marido e grita na sua cara, lhe dá socos, etc. Ou é isso ou ela está tão medicada e alienada que ela sequer sabe que você é um pai sozinho ilhado. Com um parto em casa o trabalho dela não é perturbado. Ela não tem que ser pega no meio do caminho e levada para o hospital. Eu não consigo descrever em palavras suficientes a diferença que isso faz.
6- Você é o He-Man da casa, você tem o poder!
Isso mesmo. Não é o poder de GraySkull mas, no entanto, é o poder de ser o mestre de seu meio ambiente. É uma diferença sutil, mas você vai notar. Sua casa é o seu lugar. Você paga por ele. As parteiras e os convidados são os peixes fora d’água. Se eles querem algo, eles perguntam a você. Há uma coisa engraçada sobre a evolução, ela criou a noção subconsciente de que quem dá o alimento é o ator dominante em qualquer situação. É por isso que, em um parto em casa, você vai perceber que se sente muito mais confortável para fazer mais perguntas sobre o que está acontecendo, para se certificar de que o plano de parto está sendo seguido e geralmente se envolver mais, e ter mais a dizer sobre a coisa toda.
7- Você não vai ter o seu coração frágil e surpreso arrancado.
Se você só se lembrar de um desses segredos, certifique-se de que é esse. No final de um parto em casa, as parteiras saem. Não você. Esta é a forma como deve ser. Em um hospital, você será arrancado de seu filho recém-nascido e de sua esposa exausta no auge de sua vulnerabilidade emocional. Deixe-me pintar a cena para você bem rápido: duas semanas antes da minha filha mais velha nascer, o meu pai tinha morrido, não estávamos financeiramente seguros e eu não tinha um emprego. Em suma, foi difícil. Mas sendo o macho alfa que eu sou, eu não estava demonstrando isso e estava sendo o cara rocha sólida que eu gosto de pensar que eu sou. Mas, no instante em que vi o rosto da inha filha, eu descobri uma veia de felicidade e uma profundidade de sentimento que lavou o meu ego e meus medos, e até me ajudou a elaborar a morte recente do meu pai. E fez com que eu, uma espécie predominantemente científica de pensador, quase visse uma linha de simetria dentro da vida.
Se tudo isso é “Rei Leão” demais para você, peço desculpas, meu ponto principal é este – naquele ponto, a coisa mais antinatural do mundo para mim foi deixar minha filha, voltar para casa e deitar no meu sofá durante oito horas e esperar até o pôr-do-sol. Me obrigar a fazer isso foi provavelmente a coisa mais cruel que alguém já fez contra mim. Em retrospecto, eu gostaria de ter ficado e os obrigado a tentar me fazer sair, e me prender para que o fizesse. Eu perdi para sempre a primeira noite com a minha primogênita.
Estas são as minhas razões pelas quais o nascimento em casa era melhor para mim. Eu chamei de segredos, pois estas coisas não são do conhecimento comum e não conversamos sobre isso tudo, mesmo dentro do mundo dos programas de parto domiciliar e listas de discussão, etc. Não é tudo diversão – você terá que limpar depois. Essa não é a ideia de diversão de ninguém. Mas, ei!, Isso é um preço pequeno a pagar na minha opinião. Depois de ter experimentando tanto o parto hospitalar quanto o parto em casa, minha esposa e eu não consideraríamos de jeito nenhum ir a um hospital de novo, a menos que houvesse um motivo médico muito forte pelo qual devêssemos fazê-lo. Isso é interessante, pelos nossos padrões da razão e do senso comum. Não é o que qualquer profissão médica diz. É uma escolha óbvia para nós. Como um pai realmente não há comparação a ser feita.
Você é uma parte chave de um parto domiciliar. A mãe precisa de você e confia em você. De certa forma, é uma pena quando tudo acabar, porque você vai voltar a ser um homem inútil outra vez antes de o chá deixado para trás pelas parteiras esfriar.
Ven Batista
2 comentários em “Segredos de Um Pai de Parto Domiciliar”
Eu fiz uma visita virtual na maternidade do hospital que meu convênio cobre e o que mais me indignou foi a parte que disseram que após o parto o pai deveria sair e esperar lá fora pela recuperação da mãe e do bebê, por algumas horas, de 2h a 8h, dependendo do parto. Eu não gostei nenhum pouco disso, pois no momento em que estaremos mais vulneráveis e mais vamos precisar de companhia, iriam nos separar. O sétimo segredo é realmente o que mais pesa em minha decisão. Não tenho dúvidas que o parto domiciliar é a melhor opção e nenhum valor paga a proteção do momento sagrado do nascimento. Um viva à todas as mães e parteiras de parto domiciliar.
Lindo! Me emocionei com o 7º segredo! > <