Quando minha tataravó Conceição morreu, eu tinha 4 anos. Ela, 89. As lembranças que tenho delas se resumem a duas memórias que eu não sei o quanto são minhas recordações ou foram construídas através de relatos dos adultos que as contaram pra mim algumas vezes e umas duas fotos que já vi dela.
Quando meu Vô Bio, pai da minha mãe, faleceu, eu tinha 6 anos. Eu lembro de brincar com minha prima na loja dele e do som das máquinas de costura e da tesoura cortando o tecido que ele riscava com giz. Mas eu não lembro muito como era a interação dele comigo (nem sei se havia), nem do som da voz dele, ou de como era o sorriso dele. O rosto dele está vivo na minha memória também pelas poucas fotos que sempre estavam expostas na casa da minha avó.
Quando meu Vô Walter, pai do meu pai, morreu há quatro anos, eu já era adulta, casada, e ele já tinha me contado muito da vida dele, nós temos muitas memórias maravilhosas juntos. Eu lembro som da risada dele e do tom de voz quando ele me chamava de “menininha” e do jeito que ele mexia as orelhas pra brincar com a gente. Vai ser difícil esquecer alguma coisa da nossa vida juntos, mas infelizmente ele não conheceu a Elis, que nasceu no ano seguinte. Dele, como dos anteriores, ela só vai ouvir histórias por mim ou pelos meus pais e familiares e conhecer as fotos impressas tiradas com máquinas de filme.
Em maio desse ano foi a vez de me despedir da minha Vó Chica. A mãe da minha mãe que também foi minha mãe, pois ficou comigo desde os dois anos de idade. Cresci na casa dela, onde diariamente brinquei com primos, aprendi a cozinhar, costurar, fazer tricô e a amar. Nos últimos anos a maioria do nosso tempo juntas se alternava em levá-la ao médico, rir muito numa visita rápida após o trabalho ou nas tarde de domingo e ter momentos incríveis dela com a Elis, que ela chamava de Bibi. Ainda tá sendo uma barra não ter ela por perto e as memórias tão frescas, tanto pra mim quanto pra minha filha.
Revirando as fotos dela no celular, outro dia, eu me deparei de um vídeo dela brincando com a Elis. Tava tudo lá. a voz, o sorriso, a interação, a alegria. A Elis assistiu comigo e deu risada enquanto eu chorava minha saudade. Mas foi aí que eu me liguei: que coisa incrível a tecnologia que temos hoje. A Elis não vai ter claras memórias de como era passar as tarde com a Bisa, como elas brincavam e se divertiam, mas ela terá os vídeos pra se lembrar da fala, da voz, do sorriso, das brincadeiras. E eu também. E a Iara, bisneta de 1 ano também, e os próximos bisnetos, e tataranetos… Olha que coisa incrível!
Bom, na verdade, o que quero dizer com tudo isso é: mães, pais, avós, tios, primos, todo mundo! Tirem fotos, façam vídeos com suas famílias. Não só do casamento e do parabéns. Contando histórias, brincando e rindo, tendo um papo gostoso na mesa depois do almoço de domingo ou simplesmente, abraçando seu pequeno. É ótimo viver isso tudo, e poder lembrar é um presente pra aquecer o coração quando ficar difícil e a gente quiser lembrar. Além de ser ótimo pra criar laços, fortalecer vínculos, oportunidades incríveis de amar e sermos amados. A gente reclama tanto que os celulares estão aí, separando quem tá perto. Vamos mudar esse jogo e usá-los pra nos juntar mais, até a quem já foi.