Estávamos eu e meu filho brincando na pracinha do prédio onde moramos quando chegaram mais crianças com seus pais. Eram mais velhos (os pais pra mim, as crianças pro meu filho), mas conversamos e brincamos por algum tempo.
Meu filho quis brincar de bola com “os maiores” e foi, não sem algum protesto deles ou alguma preocupação minha. Crianças maiores já inventam as regras do jogo e obedecem: o local do gol, não pegar a bola com a mão, não chutar para cima, etc. Os menores se contentam em sair correndo atrás da bola e chutá-la de vez em quando, na mais pura faceirice.
Lá pelas tantas, percebi um empurra-empurra, “a bola é minha”, “não, é minha”, faz força prum lado, sacode do outro e eu me aproximei, imaginando que meu filho sairia machucado ou choraria (ou os dois).
Enquanto eu me aproximava, devagarinho e com calma para não assustá-los, percebi a apreensão no olhar da criança que estava disputando a bola com meu filho. Resolvida a confusão, voltaram a brincar como se nada tivesse acontecido. E eu voltei a observar a brincadeira e a conversar com os pais. Porém, o olhar daquela criança não saiu da minha cabeça. Vejam bem, ela não estava aterrorizada nem preocupada, apenas apreensiva. Trata-se, na verdade, sobre o que isso representou para mim.
Eu fui o pai que colocou “ordem” na “bagunça”. Eu fui o adulto, o pai do Frederico. Eu fui aquele definido pela identidade do filho. Eu fui quem, ao se aproximar, transmite a mensagem de que algo ocorreu, algo precisa ser resolvido. Nunca me imaginei nessa posição protetiva e mediadora. Lembrei da mesma sensação de quando eu era criança e algo semelhante acontecia. Eram os adultos, agora sou eu.
Meu filho já tem 2 anos e meio e é claro que a vida adulta já é uma realidade pra mim faz tempo. A paternidade, no entanto, faz cair algumas fichas lentamente, a conta-gotas, como essa. É perceber, acolher e aproveitar esse amadurecimento.
Muito prazer, sou Thiago, o adulto, pai do Frederico.