Estou longe de ser uma autoridade em muitos dos assuntos do que eu escrevo ou escrevi (já escrevi sobre música, jogos antigos de computador, vinhos e viagens, em blogs diversos), mas a vivência diária da paternidade e a vontade de ser um pai melhor dia após dia me encorajou a começar esse post. Minha ideia era começar falando de uma das minhas maiores preocupações como pai: a overdose de telas e estímulos. E aí eu consigo estufar o peito e falar / escrever bastante, do alto da minha sobrevivência como nerd dos anos 80 / 90, em especial imaginando como eu seria nesse novo século com uma infinidade de possibilidades, todas as que eu não tinha quando criança / adolescente. Mas como diz um dos meus ditados prediletos, “o homem faz planos e Deus ri” (peço desculpas antecipadas aos ateus e agnósticos pela menção e aos judeus pela grafia).
O jogo mudou
A vida como conhecemos (ou conhecíamos) virou de pernas para o ar com a chegada do coronavírus Covid-19. Para a esmagadora maioria dos meus amigos e parentes (além dos influenciadores digitais), vivemos o isolamento social como um castigo sem precedentes. Não entro no mérito da questão econômica, não tenho nem roupa pra isso. Mas olho aqui dentro de casa e vejo minha filha numa boa.
Esta semana completamos 4 semanas direto em casa, e adianto que só anteontem rolou pedido para brincar na casa de um amigo. Relembrado o contexto da quarentena e a necessidade de ficar em casa, ouvimos dela só um “ah, tudo bem” e a vida seguiu. Conversamos com amigos que tem filhos mais ou menos da mesma idade, e ouvimos relatos parecidos. De um dos amigos da minha filha, uma confissão que explodiu minha cabeça: “agora tenho papai e mamãe todo dia em casa comigo”.
Família como ela é (ou deveria ser)
O insight veio a mim na velocidade da luz em forma de uma pergunta: como estão se virando aqueles diversos pais que nos últimos anos praticamente terceirizaram a criação dos filhos? Seja por falta de tempo, falta de confiança ou falta de interesse, muitos casais hoje em dia se rendem a praticidade das escolas em tempo integral, agenda intensa de atividades e em alguns casos uma escala 24/7 de babás e afins. Tudo isso virou pó em meados de março para a maioria esmagadora das pessoas.
Após cerca de 1 mês e sem ainda previsão de quando as coisas voltam ao normal – ou quando passa a vigorar uma nova normalidade, me encho de confiança para dizer que temos agora pais e filhos com um vínculo emocional muito mais forte. E como as redes sociais não são feitas só de memes e fla x flus políticos, recebi uns dizeres que me deixaram com um sorriso no rosto e que tem tudo a ver com isso:
“Você vai se lembrar dessa época como um momento de caos, medo do futuro, briga política, pandemia, problemas na saúde e economia, mas as crianças só vão lembrar de você em casa, das refeições em família, dos banhos demorados, das massagens, das historinhas, dos shows que vocês fizeram na sala, de cozinhar com você, das brincadeiras inventadas todo dia, dos filmes que assistiram juntos. Vocês estão em casa salvando o mundo, construindo memórias afetivas e o futuro para a próxima geração.”
Com uma oportunidade dessas, deixo pra depois meu blablablá sobre o uso de telas para crianças pequenas.