Se tem um capítulo na vida do bebê que causa confusão na cabeça dos pais, chama-se nascimento dos dentes!
Quando a família e o bebê já assimilaram bem a amamentação e mais ou menos entendem o sono da criança, nasce um dente. Aí, o caos abraça a família.
Não é à toa que chamamos o nascimento de dentes de ERUPÇÃO, ou seja, explosão, surgimento, aparecimento…é, literalmente, um rasgo na gengiva para a coroa do dente aparecer.
A dieta do recém-nascido é líquida. Portanto, não há necessidade de dentes. Eles começam a apontar justamente quando a dieta sólida/pastosa é introduzida, em torno dos 6 meses. Existe uma variação dentro dessa média, induzida por fatores genéticos, onde o primeiro dente pode nascer entre 4 meses até 1 ano de idade, sem problemas fisiológicos. Em prematuros, pode ocorrer atraso na erupção, porém devido à prematuridade (idade corrigida) e não ao atraso do desenvolvimento dental.
Outros fatores podem contribuir para alterar o nascimento dos dentes: aleitamento materno, desnutrição aguda ou crônica, condições socioeconômicas, síndrome de DOWN, displasia cleiocraniana, paralisia cerebral…
Além do início da alimentação, os dentes são fundamentais na execução de alguns fonemas, como T, F, V, S, Z, ou seja, o bebê passa a coordenar mastigação e fala ao mesmo tempo, com a ajuda desses pequenos dentes. É um salto imenso em seu desenvolvimento e vem acompanhado de sintomas.
Existem correntes dentro da Odontologia que não associam o nascimento dos dentes aos sintomas que iremos descrever. A literatura que sigo defende que o processo fisiológico da erupção causa uma desordem no organismo, alterando seu ritmo biológico e desenvolvendo sintomas.
Por exemplo, acredita-se que a febre associada à erupção decorra da inflamação local causada pelo rasgo nos tecidos ao redor do dente. Já a diarreia pode estar associada ao estresse do sistema nervoso, causado por fatores psicofisiológicos, como a dor, salivação excessiva e dificuldade na deglutição.
A erupção é fisiológica e pode causar dezenas de sintomas, que se manifestam de maneira local ou sistêmica, podendo se alternar conforme o crescimento e imunidade do bebê. A duração dos sintomas também é ampla e varia de 1 a 3 semanas. Entre os mais comuns estão: irritação, inchaço da gengiva, vermelhidão na bochecha, diarreia, calafrio, febre, perda de apetite, alteração do sono e salivação excessiva.
Levando em conta que temos 20 dentes de leite para nascer dos 6 meses aos 3 anos, podemos afirmar que, em algum momento, os sintomas se tornarão incômodos.
Quando o primeiro dente nasce, é indicado consultar um dentista para esclarecimento quanto aos sintomas, tratamentos e início da escovação com flúor na pasta, dependendo da dieta estabelecida.
O dentista é capaz de associar os sintomas relatados ao nascimento dos dentes ou então encaminhar para o pediatra, se julgar que há uma patologia envolvida concomitantemente ao nascimento dos dentes.
O tratamento dos sintomas varia conforme a idade do bebê, duração, frequência e intensidade.
Para coceira na gengiva, recomendamos o uso de alguns instrumentos gelados no local. Existem mordedores específicos, facilmente encontrados que, após armazenados na geladeira, podem “anestesiar” a gengiva da criança, aliviando assim, a coceira e a dor.
As dedeiras de silicone, utilizadas para escovação, também podem massagear a gengiva e acalmar a irritação local. Alguns alimentos consistentes (vegetais crus, torradas, frutas mais duras etc.) podem aliviar a coceira também, dependendo da faixa etária do bebê.
Analgésicos e antitérmicos também podem ser indicados, caso necessário e sob orientação. Existem géis anestésicos comercializados sem receita que não são recomendados para alívio da dor e coceira, pois podem causar um distúrbio sanguíneo chamado metemoglobinemia, cujo sintomas incluem palidez da boca, falta de ar, tontura, fadiga e aumento dos batimentos cardíacos.
Em 2016, a FDA (Food and Drug Administration) emitiu um comunicado de alerta após a morte de 10 crianças e outros efeitos colaterais em 400 crianças, relacionada ao uso de gel anestésico para dentição, à base de lidocaína. No Brasil, sua venda é autorizada, porém a Sociedade Brasileira de Odontopediatria não recomenda seu uso.
Medicações fitoterápicas, por exemplo, à base de camomila, podem ser utilizadas sob orientação profissional, por tempo determinado e com acompanhamento pediátrico. É importante ressaltar que muitos fitoterápicos contêm sacarose em sua composição (por exemplo, funchicória), o que acaba induzindo uma sensação do prazer, afastando, momentaneamente, o foco da dor. Além de não solucionar a causa do problema, a sacarose é componente da doença cárie, a doença contagiosa mais prevalente na infância.
Um assunto bastante polêmico envolvendo métodos para aliviar os sintomas é o colar de âmbar. Pais e mães juram que funciona, porém a ciência tem suas ressalvas. Não há comprovação científica de sua eficácia, por isso a Associação Brasileira de Odontopediatria se posiciona contra seu uso, assim como ressalta os riscos de asfixia e engasgo pelas bolinhas do colar.
É uma fase tão desafiadora para o bebê que nosso cérebro apaga a memória da dor da erupção. É preciso muita paciência dos pais e cuidadores. Acolher o momento caótico é fundamental para enfrentar esse período, que assim como toda a infância, um dia, passa!