É normal que as pessoas pensem que criar vínculos com um filho é algo natural, que acontece a partir do momento em que a criança vem ao mundo, quase como uma mágica. Mas não é bem assim.
Com o tempo, vamos criando intimidade com qualquer ser humano que vive diariamente conosco e podemos criar um vínculo de afeto. Mas criar vínculo seguro é trabalhoso e nos exige disponibilidade.
Vamos conversar mais sobre isso?
1- Você não precisa ter como meta tornar seu filho independente desde o nascimento: o apego seguro promove autonomia.
Autonomia é diferente de independência. O processo de adquirir autonomia é natural e acompanha as fases de desenvolvimento de uma criança. Quanto mais segura ela está de que existe apoio, mais longe ela consegue ir.
O conceito de “dependência eficaz” nos ensina que os pais podem e devem auxiliar a criança a caminhar em direção à autonomia, sem precisar impô-la.
2- A primeira condição para uma relação de apego seguro é a disponibilidade para construir uma conexão com o seu filho, que só é possível se existir sintonia.
Podemos ler mil manuais e achar que estamos preparados para atender às necessidades de uma criança, mas é uma ilusão achar que todo recém-nascido é igual e, portanto, funcionará como diz a cartilha.
Entrar em sintonia requer uma postura aberta e curiosa para conhecer o seu filho, que é único e complexo (mesmo que você tenha vários filhos). A construção que se dá no dia a dia, a partir da convivência espontânea, que ajuda a afinar essa sintonia.
3- Para ser um pai ou mãe responsivo, não basta ter boa intenção: é preciso estar em contato também e principalmente consigo mesmo.
É mito a ideia de que, quando nasce um filho, nasce um tanque infinito e incondicional de amor.
Integrar esse novo papel de pai ou mãe requer que passemos por uma profunda transformação que envolve inclusive assumir lutos do que perdemos para receber esses novos seres tão dependentes de nós.
Precisamos perceber o que acontece dentro de nós diante disso e, se for algo difícil e incômodo, buscar ajuda. Ter uma rede de apoio e se permitir pequenos afastamentos e respiros pode ser necessário.
4- Quanto mais realizado você for, mais estará disposto a se disponibilizar para essa relação de cuidado: a culpa não constrói um terreno fértil para uma conexão livre de cobranças.
Ter filhos nos exige renúncias, porém, muitas vezes, colocamos na caixinha das frustrações coisas de que abrimos mão e, um dia, podemos abrir essa caixinha para cobrar aos nossos filhos.
Quando precisar fazer escolhas, se inclua como alguém importante na decisão. Estou fazendo isso pelo meu filho? E por mim também?
Lembre-se sempre de que a conta nunca vai bater! É preciso ter diálogos com a culpa, que parece ser uma longa companheira de jornada da parentalidade.
5- A verdadeira conexão se dá quando eu vejo e aceito amar quem ele é, e não o que eu gostaria que fosse.
Quando respeitamos, aceitamos e valorizamos o que eles são, da forma como são, estamos com um olhar de aceitação. Amamos por quem eles são e não pelo que fazem ou deixam de fazer.
É preciso se desprender de tantas idealizações.
Quando aceitamos as diferenças e imperfeições, também podemos ter uma segurança, mais na frente, que eles nos amarão no momento em que descobrirem que passamos longe de ser os heróis em quem um dia eles acreditaram.
6- Não tenha a pretensão de acertar sempre: para sermos base segura, é preciso que sejamos humanos e possamos acessar nossas vulnerabilidades.
Livrar nossos filhos de pais perfeitos é um grande presente que podemos dar a eles, pois podem admitir a chance de errar e aprender estratégias para reparar os erros.
Quantos de nós viemos de criações que nunca admitiram que um pai ou uma mãe pudessem pedir desculpas?
É libertador se mostrar como um ser humano em constante aprendizado em todos os sentidos.
Criar vínculos seguros com os nossos filhos envolve revisitar muitas coisas das nossas próprias histórias, abrir mão de expectativas e compreender que entre o que eu recebi e o que eu quero dar, pode ser que haja um trabalho a ser feito. Sempre é tempo de começar e garantimos que vale a pena!
Dar uma base segura emocional, talvez seja o maior legado que podemos deixar para os nossos filhos, mais do que o melhor curso de inglês da cidade ou a escola mais “desconstruída” da região.
O que você sentiu ao fazer essas reflexões? Queremos saber! Deixe nos comentários e nos ajude a divulgar esse texto por aí!
Com carinho,
Thiago Queiroz e Rachel Savir
💛 Texto colaborativo:
Thiago Queiroz é pai de quatro, escritor, educador parental, criador do site e canal no YouTube Paizinho Vírgula!, host dos podcasts Tricô de Pais e Vai Passar, autor dos livros “Abrace seu Filho” e “A Armadura de Bertô”, e participou do documentário internacional “Dads”.
Rachel Savir é psicóloga e mãe de três! Depois do nascimento do primeiro filho, tornou-se estudiosa entusiasmada pela Teoria do Apego e suas interfaces com o trabalho terapêutico com a criança interior.