É sempre assim: chega dezembro e passa o Natal, abrindo alas para a enxurrada de piadas gordofóbicas, muitas delas relacionando isso à parentalidade.
Vamos conversar?
Nossa sociedade exerce uma pressão estética imensa no que diz respeito a padrão de corpos, sobretudo no corpo da mulher. Infelizmente, o corpo gordo AINDA é considerado por muitos como um corpo sujo, não inteligente, perdedor e risível.
Para piorar, ainda acham muito engraçado fazer associações de ganho de peso com a chegada dos filhos. Como se fosse uma “derrota engraçada” da vida de quem tem filhos.
“Derrota” é quando você vai levantar seu bebê, ele vomita na sua cara e todo mundo dá risada. “Derrota” é quando você vai trocar uma fralda e o bebê dá um jato de cocô em você, ou quando a fralda vaza de xixi em você durante uma vídeo conferência. Esses são momentos que, passado o sufoco, todo mundo dá risada e entende que a vida de quem tem filhos é assim mesmo.
Sim, filhos trazem consigo uma série de transformações em nossas vidas, corpos e mentes. Não que eles sejam os responsáveis diretos por essas transformações, não coloquemos essa responsabilidade em cima de seus pequenos ombros. Mas é fato que estamos sempre nos esforçando para sermos os melhores pais que podemos ser, estamos preocupados em como ajudar a criar filhos com uma autoestima sólida.
Se você perguntar a qualquer mãe ou pai sobre como gostaria que fosse a autoestima dos seus filhos, a resposta que você vai receber é unânime, até porque ninguém — conscientemente — vai querer agir para conduzir seus filhos no caminho da baixa autoestima, certo?
O problema, no entanto, está no abismo que existe entre o que desejamos para os nossos filhos e o que praticamos com eles todos os dias.
Como ajudar os nossos filhos a construírem uma autoestima sólida, se constantemente estamos desprezando e ridicularizando os nossos próprios corpos? Ou apontando e julgando os corpos alheios?
Pior, fazemos isso sem perceber que os nossos filhos estão observando tudo isso, com seus pequenos olhos atentos. Sim, nossos filhos observam tudo, e tentam aprender, através das nossas ações e interações, como devem fazer para habitar esse mundo da melhor forma possível.
Filhos aprendem através do modelo, seja para o bem, seja para o mal.
Mostrar para as crianças, desde cedo, o ódio aos corpos normais — porque todo corpo é normal — é prejudicial para a própria criança. Nossos filhos são bombardeados por todos os lados pelo que a sociedade espera que um corpo deve ser, e se nós não estivermos preocupados com isso, eles serão engolidos facilmente pelo culto ao corpo padrão.
Não à toa, hoje em dia, até os meninos sofrem anorexia, distúrbio esse que, até pouco tempo atrás, acometia praticamente meninas. São tantos jovens com disforia corporal, especialmente na adolescência, que pais e mães estão completamente perdidos para lidar com tudo isso.
E sabe como devemos começar a lidar com isso? Tudo começa com nós mesmos. Nós precisamos amar os nossos corpos, respeitar os corpos diversos, e mostrar isso aos nossos filhos. E isso nos trás de volta ao ponto inicial do texto: as piadas e memes que muitas pessoas acham engraçados sobre ganho de peso nas festividades de fim de ano, ainda mais quando se tem filhos.
Porém, se você ainda acha que fazer piada sobre isso “não é nada demais”, eu tenho aqui uma regra de ouro: imagine que o seu filho tenha visto um desses memes que você deu risada, associando que seu corpo ficou “pior” por ganho de peso, e depois que você teve filhos.
Imaginou? Agora pense que, sem entender o que é isso, seu filho pergunte a você:
— Pai/mãe, por que você está rindo dessa imagem aí no celular?
O que você responderia? Já adianto que responder “é coisa de adulto” pode até salvar você por hora, mas essa pergunta vai assombrar você e voltar de tempos em tempos. E vai ser cada vez mais difícil escapar pela tangente.
Normalmente, quando não sabemos exatamente como responder certas coisas para os nossos filhos sem nos embananar, é porque a gente não deveria estar fazendo aquilo.
Lembre-se que o amor pelo próprio corpo para as crianças começa pelos pais.
Gordofobia não é piada.
E se você quer mais algumas dicas para ajudar os nossos filhos a criarem imagens mais positivas sobre seus corpos, aqui vão algumas dicas:
- fale com os seus filhos sobre a pluralidade e beleza dos corpos diversos, de como cada corpo é de um jeito e de como isso é normal
- exclua do seu vocabulário as formas negativas de falar sobre os corpos
- foque no que os corpos fazem e como funcionam, ao invés de focar na aparência deles
- para de criticar seu próprio corpo, especialmente na presença dos seus filhos
- consuma conteúdos de pessoas com corpos diversos, especialmente criadores de conteúdo que falem sobre o movimento body positive
- foque em atividades que promovam saúde e bem estar, não dietas e exercícios que foquem em perda de peso
- não compartilhe piadas e memes gordofóbicos, mas questione quem publica isso
E você? Tem mais dicas? Deixe nos comentários qual a sua dica para abordar uma visão positiva sobre os corpos com as crianças!