Este texto pode parecer narcisista. Talvez pelo fato de eu ser professor e querer falar sobre estudar. Parece ser uma estratégia que vou utilizar para angariar mais pessoas a concordarem com o meu ponto de vista acerca da educação. Mas não é nada disso. É antes uma reflexão de pai que, porventura, é também professor. Sigamos juntos, caro leitor.
Conversando com um outro professor sobre o acesso à informação no Brasil, digo, a forma como as pessoas podem ler livros, artigos ou qualquer outro tipo de formato, ele levantou o seguinte problema. Ele acreditava que os autores de livros ou artigos são tão pouco valorizados no Brasil e no mundo pelo fato das pessoas não comprarem seus livros ou uma plataforma que disponibilizasse a obra. Eu, num tom debochado como sou, já respondi que adorava os russos e o trabalho que eles faziam em burlar os sites para darem acesso grátis à informação para as pessoas. Ele, já discordando, disse-me que se pudesse proibiria seus alunos de utilizar esses recursos. Eu, já mais debochado, mas com um tom assertivo julguei que entendia a preocupação dele, no entanto, num país como o Brasil, onde grande parte da população não tem o benefício da dúvida, fica complicado exigir que a escolha seja entre comprar um livro que custe cerca de 20 à 60 reais, ou colocar comida na mesa. Enfim, sobreviver não implica cultura, leitura ou, finalmente, o estudo.
Digo isso, caro leitor, por que, na minha opinião de professor, estudar é uma coisa bem irritante e lenta. Imagine só, levantar informações, consultar bibliografia, contrastar autores, comparar argumentos, avaliar a pertinência no tempo e espaço, analisar as informações coletadas, produzir conclusões apriorísticas e depois seguir a vida. Isso tudo levando em consideração que o ato da escrita é um ato narcisista, presunçoso e proselitista do autor. Não me entenda mal, mas todos nós que escrevemos, escrevemos para provar o nosso ponto que, no momento da escrita, é o mais importante de todos, e para coroar o ar proselitista, ainda queremos que o leitor acredite em nós e leve nosso argumento vida afora. É muita presunção, concorda? Concorda comigo que parece ser um caminho longo e que deve ser percorrido de forma lenta? Pois é, e isso irrita! Queremos tudo muito rápido. Na palma da mão, num piscar de olhos, sem ter muito esforço. Engraçado, não é…
Até agora, o que fiz foi atirar no próprio pé de professores, pesquisados e quem produz conhecimento. Parece que está sendo um desabafo sobre o quanto estudar é desnecessário. Alto lá! Vou melhorar nossa conversa. Agora revelo o por que é chato estudar, uma característica que ainda não havia mencionado, talvez esta nos salve.
Como disse, o processo de estudar tem todas aquelas etapas que o tornam lento e irritante, mas também chato. E aqui retomamos o ponto da presunção do autor. Ler é ter de confrontar essa presunção do autor de forma analítica. É ter a consciência de que neutro só sabão de côco, e que cabe a nós leitores, através das nuances do texto, perceber a opinião e argumentação do autor. Puta esforço chato, não é mesmo? Também concordo! Mas para que estudar através da leitura?
Estudar é chato, por que desafia a nossa incompetência e ignorância em lidar com o mundo. Quanto mais estudamos maior será a nossa incompetência e ignorância reconhecida. Quanto mais se estuda, mais se conhece, mas menos se conhece sobre o que se estuda, pois descobre-se a infinidade de conhecimento que ainda há de conhecer. Chatooooo! Não quero que minha segurança e meu conhecimento acerca do mundo sejam abalados. Quero permanecer acreditando que eu estou, convictamente, no caminho certo.
E a partir daí, finalmente, me deparo com a função de PAIS do século XXI. Estamos todos nele, certo? Desde 2001 estamos nele. Já estamos há incríveis 18 anos nele. E o mundo mudou muito desde então. Os adultos agora que fazem a diferença somos nós, os nascidos na década de 80 e 90. Somos nós os pais de agora e devemos procurar interpretar e compreender o mundo à luz do mundo em que vivemos.
Estudamos para mil coisas: para passar de ano, passar de semestre, fazer uma boa prova, passar no vestibular, conseguir um estágio, ascender profissionalmente, aprender uma língua… mas não estudamos para sermos pais. Nunca estudamos! A sociedade nunca achou que isso necessitasse de estudo. E isso nos foi ensinado, dia após dia, que quando nos tornássemos pais saberíamos o que fazer com nossos filhos. Caro leitor, lembra da ignorância e incompetência? Digamos que quando nos tornamos pais ela esteja no grau mais alto. Não sabemos nada acerca dos nossos filhos e do mundo que ele se insere. É uma incompetência tamanha a nossa de pais, não acha? Uma ingenuidade que beira a irresponsabilidade! Grande parte de nós pais, deseja no íntimo que o conhecimento de nossos avós e pais sejam passados a nós e que eles possam no ajudar. Aqui também vemos a contradição: é impossível! O mundo mudou e estamos no século XXI, como você bem se lembra. Tudo mudou! E ainda vamos continuar acreditando que eles podem nos passar algum conhecimento que seja superior ao conhecimento que podemos ter com o estudo do mundo e o estudo para ser pai? Ainda que possa soar presunçoso, duvido bastante.
A necessidade de estudar passa pela quebra de nossas ideias que não se encaixam com as demandas dos seres humanos nos dias de hoje. É descobrirmos o efeito que um parto natural tem sobre a mãe, filho e pai. É descobrirmos que hoje em dia crianças brincam com brinquedos e não com o órgão sexual destes brinquedos. É descobrirmos que umas palmadas não resolvem por que fere a individualidade e não presta atenção ao sentimento da criança. Imaginemos as crianças de hoje em dia. Imagine como deve ser difícil aprender a viver num mundo tão complicado como é o nosso, e ainda assim os pais insistirem num formato de educação opressivo e tóxico. Imagine você ser desrespeitado por não ter direito de voz ou opinião por que você é criança e não conhece o mundo, mas do contrário você deve criar o seu espaço e se encaixar nele. Imagina! Quanta violência nós pais podemos evitar se procurarmos estudar e entender o mundo a luz do que o mundo é, mas, sobretudo, à luz do turbilhão de hormônios, fases, picos e saltos que uma criança tem durante toda a sua infância. Imagine que loucura se não fizermos isso.
Vou caminhando para o final do meu proselitismo e presunção, acompanhe-me.
Pais, no momento em que descobrirem a chegada da cria, tomem um tempo e reflitam sobre a forma como enxergam o mundo. Reconheçam a incompetência, ignorância e ingenuidade que cerca esse assunto para todos nós. Estudar é irritante e lento, como conversamos anteriormente, mas é necessário. Mais que necessário, é uma questão de resignação acerca da nossa condição humana. Precisamos evoluir e atingir o esclarecimento, concorda?
E pais que já são pais, mas ainda não entenderam a necessidade do estudo. Acho que este texto já falou um pouco sobre isso, então… Tenha certeza que o mundo mudou e que tudo precisa avançar.
Já terminando, querido leitor, mas acho que resta algo mais. Não precisa estudar até morrer, basta se permitir estudar e aprender com o tempo. Não precisa se tornar um especialista em criação de crianças, basta se tornar um especialista na criação dos nossos filhos, mais uma vez, à luz do mundo e das necessidades dos nossos filhos. Tarefa fácil não é mesmo? SQN. Estudar exige esforço!
Obrigado querido leitor por aguentar meu narcisismo de professor.
Estudemos por um mundo melhor!