Meu filho, Dante, já está com 9 meses de vida. Caramba, como o tempo voa! Parece que foi ontem que todos nós fugimos do hospital (não captou? Leia mais em Morte do Paizinho, Nascimento da Vírgula!), mas agora meu bebê já está muuuuito grande. Na verdade, é um bebê completamente diferente daquele que escapuliu do hospital com a gente.
Enquanto pai apegado, é comum ouvir todo o tipo de baboseira na rua, principalmente de pessoas estranhas. Mas de todas as baboseiras, uma delas se destaca porque não é exatamente uma baboseira que critique a maneira que criamos o nosso filho. Na verdade, é uma baboseira que acaba sendo um elogio ao nosso estilo de criação, e o engraçado é que essas pessoas não fazem a menor ideia de que estão nos elogiando por esse motivo. Se tem algo que eu ouço muito na rua é isso:
– Nossa, como vocês têm sorte. O bebê de vocês é muito calminho!
Existem algumas variações, mas todas elas giram em torno de como nós somos sortudos:
– Puxa, vocês são sortudos. O bebê de vocês nem chora!
E, às vezes, ainda complementam com um:
– Mas olha, dizem que quando o primeiro é assim, o segundo vem para arrebentar!
Arrebentar? Arrebentar de alegria? Arrebentar de emoção? É a cultura da visão negativa sobre a criação tentando minar a confiança dos pais, antes mesmo de se cogitar ter um segundo filho. Quem não tem uma boa confiança naquilo que faz, pode até ficar balançado com esse tipo de declaração. E foi pensando nisso que eu resolvi escrever esse post.
Em primeiro lugar, eu não tenho sorte. Nunca tive, nem vou ter. Eu sou aquele cara que nunca foi ganhou no bingo, aquela criança que nunca teve a cartinha lida pela Xuxa, a pessoa que sempre perdeu no pedra, papel e tesoura. Portanto, se eu realmente dependesse da minha sorte para definir a tranquilidade do meu filho, ele provavelmente não nasceria humano e sim, um diabo-da-tasmânia.
Um bebê criado com apego, como o nosso, é um bebê que tem muitos conceitos e entendimentos desenvolvidos já ao longo dos primeiros meses de vida, com seus pais atendendo consistentemente às suas necessidades, de forma sensível e amorosa. Em outras palavras, os bebês apegados têm, em geral, as seguintes características:
Comunicação melhorada
Tudo na vida trata de comunicação. Quantos casais não entram em crise por problemas de comunicação? E, olha, são adultos que sabem falar! Para os bebês, a comunicação é algo a ser aperfeiçoado ao longo dos meses, de forma que os pais consigam entender a necessidade do bebê em cada situação. Com o passar do tempo, os pais aperfeiçoam essa “leitura” e conseguem diferenciar quando o bebê está com fome, sono, ou qualquer outra coisa. Por outro lado, o bebê, cuja única ferramenta de comunicação é o choro, começa a ficar mais confiante na sua capacidade de se comunicar com os seus pais. Ele confia tanto na sua capacidade de se comunicar, como na capacidade dos pais em atender suas necessidades.
Atendendo prontamente o seu bebê desde os primeiros meses ajuda ele a criar pequenas imagens mentais. Ou seja, se ele tem fome, chora e a mãe já amamenta-o, o bebê consegue associar aquela sensação boa como uma solução à necessidade dele. Consequentemente, o bebê percebe que ele não precisa mais atingir o nível de choro completo, porque apenas uma resmungada ou choramingada já são suficientes para passar a mensagem para seus pais.
É como se a mãe (o pai também) e bebê entrassem em sintonia, como se eles se entendessem cada vez melhor. Então, o bebê não precisa mais chorar no último volume para que suas necessidades básicas sejam atendidas. Com o Dante é assim, ele raramente chora de se esgoelar, como as pessoas tanto abominam. Ele reclama, dá uma choramingada e pronto, nós meio que já sabemos o que ele quer. Se ele chora pra valer, então sabemos que tem algo realmente errado acontecendo.
A comunicação é eficiente, o vinculo é forte e o conhecimento mutuo é grande.
Sentimento de segurança
Bebês que recebem colo quando precisam, que têm os pais sempre próximos, dispostos a prover um cuidado consistente e amoroso, são bebês mais seguros, de maneira geral. Eles não costumam ficar inseguros em lugares desconhecidos ou perto de pessoas desconhecidas, porque eles sabem que seus pais estão ali, disponíveis, sempre que precisarem.
O Dante sempre foi um bebê muito sociável, nunca reclamou de pessoas diferentes e sempre curtiu ir no colo de outras pessoas. Tudo bem, talvez ele tenha realmente um temperamento que propicie isso, mas o fato de que ele é criado com apego acaba acentuando essa característica dele. Ele sabe que não precisa ficar com medo de ir no colo de outra pessoa, pois a mãe e o pai sempre estão por perto. Ele não tem que se preocupar com a mãe se separando dele.
Até durante a noite, quando cuidar do Dante é facilitado pelo fato de praticarmos cama compartilhada, ele também sabe tem aos pais quando precisa, mesmo quando o sol se põe. Tudo isso ajuda o bebê a criar esse sentimento de confiança em seus pais, permitindo que ele se sinta mais confiante no mundo.
O estado de alerta tranquilo
Você já deve ter visto alguns bebês assim por aí. São bebês que parecem estar em um estado de alerta tranquilo, capazes de observar e absorver as informações do meio em que estão, só que de maneira serena. Não são bebês tensos, olhando de um lado para o outro, ao contrário, eles olham para todos os lados, mas demonstram uma expressão muito tranquila. Essa é uma característica de sling.
O babywearing tem inúmeras vantagens, e uma delas é a de proporcionar que o bebê esteja em ao mesmo tempo acolhido e seguro pelo pai ou mãe, e em uma posição favorável para observar o mundo. Um bebê de sling (ou qualquer outro carregador) é um bebê que consegue observar e aprender sobre o ambiente em seu máximo potencial, pois ele não está preocupado em ficar longe dos pais, muito menos olhando para o céu, se estivesse em um carrinho. Ele tem a mesma visão dos pais e consegue observar muito mais coisas interessantes.
Agora, é claro que cada bebê é um bebê, e tudo depende muito da personalidade de cada um, mas o que acontece é que, de uma maneira geral, bebês criados com apego normalmente são mais calmos e não costumam chorar para tudo, com exceção de alguns bebês como, por exemplo, os bebês high-need. Bebês high-need são bebês com necessidades mais intensas que a maioria dos bebês. Eles necessitam de mais contato, mais colo, mais peito, mais tudo, e são nesses casos que a criação com apego realmente brilha, pois esses bebês terão pais realmente sensíveis às suas necessidades.
Eu chamo isso de síndrome de pais sortudos porque cada vez mais vemos exemplos parecidos. Os pais sortudos estão se espalhando por aí, com seus bebês calminhos. O mundo pode até não saber os reais motivos disso tudo, mas o que importa é que esses bebês que são sortudos em ter pais apegados.
Diga olá ao Dante, meu bebê apegado feliz.
73 comentários em “A Síndrome dos Pais Com Sorte e do Bebê Calmo”
Sou mãe do meu segundo filho. O primeiro aos 33 anos e o segundo agora, aos 45. O primeiro, tranquilo. Até hoje, observador, calmo, apaziguador! E.o segundo: mais calmo ainda, sorridente dese um mês de vida! Ouço as mesmas coisas sobre sorte e tal… Mas o que prevalece é o amor.e o que transmitimos aqui em.casa. ambiente calmo,. serenidade e.ele é um ser.novo que precisa de.gente disposta a apresentá-lo ao mundo. Meu bebê não chora!!!
Boa tarde, sou mãe do Eric de 3 meses e tive uma gestação tranquila. Eu e meu marido somos tranquilos e sem agitacao. E nosso príncipe é muito quietinho.
Uma dúvida: eu dou mtooo colo, será que isso ajuda tb?
Suzielly, parabéns pelo pequeno Eric! Deixa eu te dizer uma coisinha: dar muito colo é uma das coisas que mais ajudam.
Olá… Meu bebê também se chama Dante e também é calminho, ele está com seis meses… Fui procurar sobre bebês calmos, pq parece que o meu filho que tem problema por ser tão sereno e não estranhar ninguém e os outros bebês que deixam todos malucos com os gritos é que são sadios, e encontrei seu artigo e achei incrível…quero apenas agradecer… Obrigada por compartilhar sua experiência com o seu Dante. Abraço.
Obrigado, querida! E parabéns pelo seu Dante!
Estou no grupo criação com apego, estou amando aprender, meu bebê está sendo chamado de bebê feliz e bebê sorriso. Acho que estou no caminho certo. Obrigada
Parabéns!
Maravilhoso seu artigo.
Então, aqui é assim. As pessoas sempre elogiam minha filha, que tá para fazer um ano, como muito calminha, “nem chora, que sorte”. E eu sempre imaginei que fosse isso: dorme na cama com a gente, mama em livre demanda, tem colo, tem sling… Vai chorar porque mesmo? Eu realmente acho que bebê que não pode mamar quando quer e que é deixado sozinho pra se acostumar vai, obviamente, chorar mais. O que não acontece quando todas as necessidades são atendidas. Mas acho que a coisa vai mudando de figura pq filho não é um quadrinho que a gente desenha. Filho é ser humano imperfeito, como a gente, que vai se formando, mas que já vem com uma personalidade ou um temperamento pelo menos. E que a formação desse serzinho é muito complexa pra ser reduzida a “dormiu com os pais”, “mamou à vontade”, vai ser mais calmo sempre. Eu sei que isso pesa na formação, mas quanto? Quais as outras variáveis? A gente pode se responsabilizar, se culpar ou se congratular por tudo? Sabe, pra mim não existe outra possibilidade a não ser criação com apego. Não pq eu faça um levantamento da melhor teoria e escolha uma, mas pq é da minha natureza. Pra mim não existe outra forma de se relacionar com quem a gente ama e com quem é importante pra gente sem apego. Eu fui criada assim tb, com beijo e abraço, compreensão e carinho, dormindo na mesma cama. Isso pra mim não é teoria, livro, filosofia, é o mais natural pra mim no mundo das relações humanas. O que eu quero colocar aqui não é uma crítica pra invalidar isso que vc falou ou a criação com apego, mas as nossas expectativas. Bebê cresce, criança cresce e o mundo não é tranquilo e calmo, nós não somos perfeitos e nem tranquilos e calmos o tempo todo e com tudo. E principalmente: a gente nem sempre vai “estar lá”, tem dia que a gente não pode atender a todas as demandas e necessidades. Aqui tem rolado irritação por querer mexer no que não pode, fazer o que não pode. Aí a gente diz não e conversa e às vezes até vai, ela deixa a coisa de lado, mas às vezes tem berreiro, tem chateação, tem reclamação sem fim exigindo atenção cada minuto e a gente até deixa de fazer um monte de coisas pra ficar com ela: deixa casa por limpar, trabalho… mas não dá pra deixar tudo sempre, não dá pra deixar de fazer almoço por exemplo. Também noto que o estresse é maior quando ela tá com sono. Mas às vezes rola estresse em horários diferentes, que deveriam ser tranquilos. E nessas horas eu penso em duas coisas: primeiro, que ela é um bebê como qualquer outro. Tá aprendendo, tá começando a ouvir não, a não ter tudo quando pede, sabe? Nem tudo é o peito que ela tem quando quer. O controle, a rua, o celular não são o peito. Rs. E não adianta colocar ela numa redoma só com coisas que ela pode mexer, pq o mundo real não é isso, pode acontecer em todo lugar dela querer mexer em tudo, a gente vai ter que dizer não de qualquer jeito e vai ter choro e estresse. Claro, em casa a gente tenta minimazar o estresse não deixando tudo à vista o tempo todo, mas enfim, não tem como deixar tudo fora do alcance dela. A segunda coisa é que eu lembro de mim quando eu era criança, com os pais maravilhosos que eu tive e que mesmo assim fiz birra, briga, teimosia. Também fui considerada uma criança maravilhosa por eles, mas fui tb uma criança que chorou, berrou e se jogou no chão querendo as coisas. Respeito demais a criação que meus pais me deram, eles deram amor sem limites e souberam dizer não e eu acho que isso foi importante pra formação de um bom caráter, não de uma pessoa tranquila o tempo todo, totalmente assertiva e com excelente comunicação, como às vezes parece que querem dizer que serão as crianças criadas com apego. Tudo é muito mais complexo.