Nessa semana, escrevi sobre apego e superproteção para Os Mamíferos. Você encontra também o texto aqui.
Apego e Superproteção, Até Onde Ir?
Uma das coisas que as pessoas costumam confundir é apego e superproteção. É normal as pessoas dizerem que temem exagerar no apego, fazendo com que a relação entre pais e filhos deixe de ser saudável. Simplificando bastante, você pode (e deve) enxergar apego como amor: da mesma maneira que amar nunca é demais, apego nunca é demais. Porém, vale relembrar que o apego aqui, no sentido emocional, significa afeição, afeto. O apego material não é sequer assunto da nossa discussão, como já abordei em E Desde Quando Apego É Uma Coisa Ruim?
Mas por que então existe tanta confusão? De uma maneira geral, porque criação não é uma receita de bolo, que você pode seguir e o resultado será sempre o mesmo. Há muitas variáveis envolvidas e, nesse caso, existe a influência do que os pais viveram enquanto crianças. É preciso saber distinguir uma criação saudável que estimule o seu filho a buscar a independência de maneira natural e apropriada, da criação superprotetora que provoca dependência nociva no filho.
A criação com apego busca atender as necessidades não só do seu filho, mas dos pais também, em um equilíbrio que às vezes é bastante difícil de atingir. Os pais devem ser figuras cuidadoras presentes, que os filhos podem ver e sentir que, sempre que precisarem, terão a quem buscar apoio. Isso proporciona um cenário em que os filhos sentem-se seguros o bastante para explorar a vida, sabendo que seus pais estarão disponíveis sempre que eles precisarem de ajuda.
Mas aí a confusão começa, porque estar disponível para ajudar seu filho não é a mesma coisa que estar seguindo o filho, aparando e protegendo ele de tudo e de todos. Esse tipo de atitude impede com que o seu filho desenvolva sua individualidade, porque ele acaba sendo tolido de experimentar o mundo.
Exemplos clássicos disso são as crianças no parquinho que têm pais correndo apavorados atrás deles, bebês impedidos de explorar suas casas porque são mantidos em “ambientes seguros” tais como chiqueirinhos, e por aí vai. E antes que o apedrejamento comece, não estou sugerindo que devemos largar nossos filhos por aí, para enfrentar todos os perigos do mundo por conta própria, mas sugiro, sim, que analisemos muito criteriosamente qual seria o balanço ideal dessa equação.
A superproteção pode ter diversas origens, mas uma delas (talvez a mais importante) é quando um dos pais está tentando atender suas próprias necessidades de criança que não foram atendidas, no momento oportuno. Ou seja, se um dos pais sofreu com a falta de proteção ou segurança por parte dos seus pais, a tendência é que a pessoa tente supercompensar essa deficiência em seus próprios filhos. Essa projeção é perigosa, pois não nos permite enxergar as reais necessidades dos nossos filhos, uma vez que estamos “cegos” olhando as nossas próprias necessidades camufladas.
O vínculo saudável é dinâmico, pois varia de acordo com o estágio de vida do filho. Quanto mais madura a criança se torna, o vínculo se adapta para atender novas necessidades. A superproteção não é flexível, pois a visão está presa àquela situação de necessidade de quando você era criança. A superproteção sufoca e impede a independência natural da criança.
Desencane, viva com o seu filho e deixe-o viver.
1 comentário em “Apego e Superproteção, Até Onde Ir?”
De muitas coisas que li aqui, sempre me pergunto a razão pela qual diversos pais com acesso e uso de níveis satisfatórios de cultura acabam repetindo um erro tão nocivo como a superproteção… Lembro sempre de amigo que disse “vaitom***** me trouxe ao mundo, agora aguenta, pai”. Isso me chocou de uma tal maneira que pensei que diminuiría anos mais tarde. Meu amigo mudou para melhor, mas vejo outras crianças, em maior número, mandando os pais “pra casa do chapéu”.