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Como a Escola Influencia o Nosso Relacionamento com os Filhos Adolescentes

"A nossa postura perante estudos e escola afeta - e muito - o nosso relacionamento com os nossos filhos. E isso só se intensifica na adolescência."

Chega um momento da vida de um pai e uma mãe que a gente se depara com um adolescente em casa e esse ser começa a apresentar muita resistência ao jeito que conduzíamos as coisas com ele. Beleza, é uma situação que todo mundo consegue “dar um google” e entender sobre fases do desenvolvimento e o motivo da necessidade que eles tem de romper com a gente. Spoiler bem resumido, é porque eles estão querendo descobrir quem são e como serão suas personalidades.

Só que eu tenho notado que os relacionamentos que os pais constroem com os filhos enquanto eles são crianças praticamente se dissolve por completo quando eles se tornam adolescentes, se estendendo para a adultez essa falta de conexão.

Então te pergunto: será que é somente porque eles estão crescendo e querem romper com a gente para achar quem eles são de verdade?

Spoiler de novo, não é só por causa disso.

Eu consigo perceber que existem alguns fatores, como a falta de manejo do pai e da mãe em lidar com os temas polêmicos da adolescência, a falta de conexão com o adolescente que a gente foi e a comunicação estar muito esquisita por conta desses outros fatores. Geralmente é ensinado que pai e mãe são os reis da razão o tempo todo e isso é cansativo à beça, só que quando os filhos são adolescentes, os pais tendem a amplificar esse comportamento e beirar para um autoritarismo desenfreado.

Enquanto que na infância é mais fácil criar com apego e praticar a disciplina positiva, na adolescência se a gente não ficar ligado, acaba voltando para a criação que tivemos, por pura falta de conexão com o adolescente que já fomos. Então, como já disse anteriormente, eu resolvi bater nessa tecla de novo para finalmente entrar no motivo principal que tenho notado na minha prática como orientadora educacional em escolas.

A rotina escolar tem sido, ao meu ver, o principal fator de desconexão entre pais – filhos e escola. E por que isso tem rolado? A pressão que a gente coloca no ato de estudar; eles tem que fazer todas as atividades com perfeição, chegar em casa já executar todas as tarefas da escola e de casa, e se a escola quer marcar reunião com a gente, a gente surta com nosso filho, começa a questionar o que ele tem feito, se não está cumprindo o papel dele na escola, falamos sobre quanto de dinheiro e tempo investimos nele e todo assunto relacionado a escola vira uma briga cheia de falas pesadas e desnecessárias.

Fala sério, seja sincero com você mesmo agora, você como adulto, gostaria de viver em constante briga com uma pessoa que você ama por conta de um assunto que você nem gosta tanto e ainda faz por que é obrigado? Aqui está a parte que eu falo que a gente precisa se reconectar com o adolescente que a gente foi.

O sonho de todo adulto que cria filhos é qual, gente? Que eles sejam responsáveis e autônomos, né? A gente não aguenta mais repetir as mesmas coisas 450 mil vezes e aí eles crescem fisicamente e a gente assume que eles já estão 100% preparados para viver a rotina do jeito que a gente faz. Não é bem assim. Por conta dessa desconexão que a gente insiste em fazer, e digo insiste porque eles realmente são bem resistentes à nossa tentativa de deixar mais por conta deles, eles começam a falar que odeiam a escola, resistem a fazer as atividades, acham que vocês sempre vão dar mais crédito para a escola e não para o que eles falam. E antes de vocês pensarem: Raquel, mas eles se aproveitam também dessa autonomia que a gente dá e acabam deixando a gente desconfiado quando não cumprem as atividades, é porque eles não tem ainda maturidade para fazer isso sozinhos sempre. Mostre sempre APOIO.

Então, o peso da escola deve existir, óbvio, mas o peso da escola no relacionamento de vocês não deve existir.

Por exemplo, quando um filho seu repetir de ano, isso não significa nada mais do que “ele irá fazer aquele ano novamente”, de maneira nenhuma deixe que isso se torne um medidor de relacionamento com frases tipo “agora você não vai ter mais nada de mim”, “eu te dei tudo e você faz isso”, eu já ouvi essas frases quando precisei dar essa notícia e sempre intervenho com as seguintes perguntas:

  • Quando seu filho sair da escola (ou fizer 18 anos) ele vai deixar de ser seu filho?
  • Quando ele não passa de ano, ele deixa de ser seu filho?
  • Quando ele vai mal em uma prova, ele deixa de ser seu filho?

E o que eu vejo na minha prática é isso, a gente coloca sempre a escola na frente do acolhimento do nosso filho.

Tá, dito isso, como mudar o comportamento com a escola?

Encare as atividades com leveza, enquanto seu filho estiver fazendo o dever de casa, pesquisa, atividade, leve uma pipoca, dê um beijo, pergunta se precisa de ajuda, NÃO apresse, não arranque folha do caderno, não mande ele fazer de novo porque VOCÊ não gostou. Deixe os professores fazerem o trabalho deles, corrigirem, saberem realmente como seu filho está na aula e fique sempre feliz quando ele chega da escola, mesmo que tenha vindo alguma situação que você desaprova. Ser parceiro da escola também é fazer esse trabalho de “tirar o ranço” que a escola deixa neles — e na gente, hahaha.

Um PS: Eu sei que as escolas querem isso da gente, cobrança extrema, atividades mirabolantes, tudo em excesso. Mas repensem, um adolescente que leva a escola com leveza não irá perder nada com isso, apenas ganhar, inclusive confiança para quando precisar se dedicar mais um pouco, ter vocês segurando a onda dele e sendo porto seguro.

Outro PS: Com leveza, digo com responsabilidade, ficando na média, respeitando os professores e os espaços de convivência, sendo um bom amigo e evoluindo suas capacidades cognitivas e sócio-emocionais. É mais fácil do que parece… 🙂

Mais um PS: Desejem que seus filhos sejam mais do que notas e bom comportamento.

Espero que vocês tenham gostado dessa reflexão, retirei esse tema da minha vivência e isso que estou falando com vocês é o que falo para os pais dos meus alunos. Seguimos com amor e embasamento científico.

Raquel Petersen

Raquel Petersen

Raquel Petersen é Pedagoga, Neuropsicopedagoga e Terapeuta Familiar. Usa a psicanálise e evidências científicas como norte do seu trabalho. Aos 30 anos continua honrando sua criança e adolescente interior sendo uma entusiasta desses processos. É mãe de 3 meninas e ajuda famílias a criarem crianças maneiras e terem relacionamentos saudáveis. <3 Instagram: @educacaoneuroafetiva

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