Eu recebo muitas mensagens de pais perguntando sobre os 5 anos de idade. “Thiago, meu filho fez 5 anos, como lidar com essa nova fase?” É uma pergunta que faz todo sentido, porque essa é realmente uma idade de transições importantes e características bem específicas.
E eu preciso dizer: sim, os 5 anos trazem desafios únicos, mas também conquistas incríveis que vão te surpreender como pai ou mãe.
Aos 5 anos, as crianças vivem um momento de grande expansão da independência e uma nova compreensão social que vai transformar a forma como elas se relacionam com o mundo.
Vou dividir nossa conversa em quatro partes para você entender melhor essa fase: desenvolvimento social e emocional, medos e desafios, desenvolvimento cognitivo e, por fim, como podemos ajudar nossos filhos a navegarem por essa idade da melhor forma possível.
Desenvolvimento Social e Emocional aos 5 Anos
A Consolidação da Empatia
Uma das coisas mais lindas que acontece aos 5 anos é a consolidação da empatia. Seu filho já tem uma boa habilidade para “ler” o outro, para tentar entender o que a outra pessoa está sentindo. Essa compreensão de diferentes pontos de vista vai aparecer nas brincadeiras, na relação com amigos e outros adultos.
É por isso que a leitura de livros infantis fica ainda mais rica nessa fase. Quando você faz uma leitura guiada, explorando histórias e pontos de vista diferentes, seu filho consegue acompanhar de uma forma muito mais profunda.
Regras e Jogos: O Equilíbrio é a Chave
Na hora das brincadeiras, as crianças de 5 anos conseguem entender melhor o conceito de regras e esperar sua vez. Mas aqui vem uma característica interessante: elas têm uma tendência natural a querer flexibilizar as regras para facilitar a vida delas.
E aí surge aquela discussão: flexibilizar tudo para a criança ficar feliz ou ser extremamente rígido para ela “aprender”?
Eu, particularmente, sou mais a favor do diálogo e do equilíbrio. Você não precisa flexibilizar tudo para garantir que seu filho sempre ganhe, porque isso não é legal para o desenvolvimento dele. Mas também não precisa ser um carrasco e garantir que ele perca todas as vezes só porque você é intelectualmente superior. Isso só vai fazer com que seu filho perca o gosto de jogar com você.
O Senso de Justiça Aflora
Essa é a fase em que as crianças adoram acusar os outros de trapaça. Existe um senso de certo e errado que vai se construindo muito a partir dessa idade. A criança quer fazer tudo certo e começa a perceber quando algo não está seguindo as regras.
As brigas com “ele está roubando”, “ele está mentindo” começam a acontecer com muito mais frequência nessa fase. É normal e vai acompanhar a criança por um bom tempo.
Compartilhar: Sim, Mas Não os Favoritos
As crianças de 5 anos conseguem ter uma capacidade maior de dividir brinquedos, de entender “qual é a minha vez, qual é a vez dele”. Isso fica mais facilitado nessa fase, porém não com os brinquedos preferidos.
Aqui em casa, eu sempre faço esse combinado: “Filho, você quer levar seu bonequinho preferido para o play? Quando você for, talvez seus amigos queiram emprestar. Você vai querer emprestar? Porque os brinquedos que a gente leva para os lugares de brincar são brinquedos que a gente pode emprestar um para o outro. Se tem alguma coisa que é muito importante para você, deixa eu guardar.”
A Busca por Independência
Como eu falei no início, essa é uma fase que caracteriza muito uma busca por independência. Você começa a perceber que a criança já tem um olhar diferente sobre si mesma, uma conquista da autonomia dela.
Ela vai demonstrar isso no dia a dia: pintando, tentando arrumar as coisas, reclamando para si o direito de escolher a roupa que veste, desenvolvendo o próprio estilo, tentando escolher a comida que prefere.
E aqui costuma haver algumas questões, principalmente na hora de comer. A criança vai querer comer exatamente aquilo que ela quer, e aí precisamos lembrar: os adultos da casa continuam sendo os responsáveis pela alimentação saudável.
Para mim, a melhor forma de lidar com isso é garantir que na sua casa tenha só as coisas que você gostaria que seu filho comesse. Se você é daquela pessoa que adora ter doce espalhado pela casa inteira, saiba que vai ser uma batalha fazer seu filho não comer aquilo. Então escolha suas batalhas, como eu sempre falo por aqui.
Medos e Desafios dos 5 Anos
Monstros e Fantasmas Ainda Existem
O medo de fantasma, de monstro, continua firme e forte nessa fase. Não acabou, e a melhor forma de lidar com isso é reassegurando nossos filhos de que estamos ali para deixar as coisas seguras.
“O que a gente pode fazer, filho, para seu medo melhorar? É deixar uma luzinha ligada?”
Não vá pelo caminho de minimizar, ridicularizar ou invisibilizar aquele medo. Aquele medo é genuíno para aquela criança. Por mais que para você não faça sentido, para ela faz. Não é dizendo que não existe que vamos fazer o medo deixar de existir.
Dificuldades com Mudanças Sociais
Como a criança começa a desenvolver essa habilidade de leitura social com mais complexidade, ela pode ter mais dificuldade para lidar com outras crianças em períodos de adaptação escolar, ou quando entra uma criança nova na turma.
Para ela começa a ficar mais complexo do que com crianças menores, que na metade do dia já estão todas amigas. Essa coisa de “ler” o outro, de criar vínculos e entender quais são suas redes de contato faz com que uma criança de 5 anos seja um pouco mais resistente a novas presenças.
É normal. É a gente acolher nossos filhos, mostrar que as outras pessoas não são ameaças e que podemos receber essas pessoas perto da gente. “Poxa, amiguinho novo! Vamos perguntar qual é o nome dele?” E aí você dá aquela mediação que é super importante.
O Medo de Falhar
Como a criança começa a ter uma percepção diferenciada sobre a realidade e sobre o outro, para ela já existe aquele princípio de não querer falhar, de ter medo de receber crítica.
Com essa elaboração sobre as relações sociais que ela constrói nessa fase, ela vai se sentir mais insegura ou tender a ser aquela criança que vai tentar fazer tudo certinho para conseguir a aprovação, normalmente do pai e da mãe.
Não é para usarmos isso como recurso para controlar o comportamento de uma criança de 5 anos. É para entendermos que para ela é importante ser reassegurada do valor das tentativas, de que o que ela está fazendo é importante – não só o resultado final -, de que ela é amada por quem ela é e não por aquilo que ela faz ou deixa de fazer.
Desenvolvimento Cognitivo: As Novidades dos 5 Anos
O Senso de Humor se Refina
As crianças começam a desenvolver um senso de humor mais refinado nessa fase. Não que antes não contassem coisas engraçadas, mas existe uma sutileza, um refinamento do senso de humor.
Não vai fugir de piada de cocô – as crianças amam isso. Mas já existe uma percepção sobre o que é humor, sobre o que é uma piada. Tem crianças que com 5 anos começam a contar suas primeiras piadas.
Pode até parecer que não façam muito sentido, mas é muito legal ver uma criança começando a construir a capacidade de contar uma história com uma finalidade – uma história que às vezes nem é real, mas que ela conta porque quer provocar o riso. Isso é fantástico!
Conversas Mais Profundas
Ela consegue ter conversas cada vez mais profundas, e com 5 anos você consegue ter conversas mais complexas do que quando ela tinha 4 anos. A forma como vamos falar não precisa ser tanto simplificada – dá para falarmos sobre coisas mais complexas que a criança vai conseguir acompanhar.
Claro que você não vai fazer uma tese de mestrado para explicar por que seu filho não vai poder visitar a vovó nesse fim de semana, mas conseguimos sentar e conversar melhor com uma criança de 5 anos.
Maior Capacidade de Concentração
A criança tem uma capacidade maior de prestar atenção em determinadas coisas. A atenção dispersa menos, e você começa a ver que ela consegue se concentrar de forma mais intensa e extensa para fazer alguma atividade – seja pintar, seja brincar, seja brincar sozinha.
Se a criança está na escola fazendo atividades, isso vai refletir também lá – ela vai conseguir se desenvolver com maior concentração. Não confunda isso com concentração absoluta de adulto. A criança vai continuar dispersando, se sentindo ociosa, ficando entediada com coisas repetitivas. Isso varia muito de criança para criança.
O Pequeno Especialista
Uma característica que eu acho muito divertida é a criança se tornar o “palestrinha”. Ela vai se tornar aquele pequeno experto das coisas da vida, vai pegar algum tema que goste muito e querer focar naquilo, tentando saber o máximo sobre aquele assunto.
Aqui em casa, nessa fase as crianças ficavam sempre numa fissura danada com dinossauros. Parece que vão ser paleontólogos, mas depois esquecem. Os meus todos esqueceram – ainda gostam de dinossauros, mas não com a intensidade de quando tinham essa idade.
É impressionante como uma criança desenvolve um interesse específico e quer se tornar experta naquilo. É muito divertido acompanhar e fomentar isso, porque faz bem para o desenvolvimento dela.
Como Ajudar Nossos Filhos aos 5 Anos
Trabalhe a Flexibilidade nas Regras
Uma das coisas que precisamos trabalhar é a noção de flexibilidade e ajuste de regras. É uma ótima oportunidade para usarmos esse diálogo que eles são capazes de ter de forma mais complexa conosco.
Podemos discutir juntos as regras, os limites. Não que eles vão ter a palavra final sobre algum limite que temos que colocar, mas podem participar de forma mais ativa da elaboração, do questionamento e de tentar criar novos combinados.
“Não, tomar sorvete antes do jantar não pode de jeito nenhum. Mas talvez, se for um feriado, um dia diferente, a gente pode pensar em fazer diferente. Se formos passear e tiver uma sorveteria, a gente pode tomar.”
Dá para fazer flexibilizações que não sejam tão drásticas a ponto de comprometer o limite, mas que deixem seu filho se expressar com aquilo que ele precisa.
Continue com a Corregulação Emocional
Muita gente confunde: “Ah, meu filho tem 5 anos, já consegue se comunicar muito bem, já está desenvolvendo a empatia, então agora está resolvido esse negócio de emoção. Não vai ter mais crise emocional, não vai mais chorar, não vai dar mais birra.”
Errado! Ela ainda é uma criança, ainda está com o cérebro em desenvolvimento. Pode ter mais noção sobre emoções e sentimentos, mas nós, adultos, ainda temos um papel muito importante: a corregulação emocional.
Com 5 anos ainda é muito importante que ajudemos nossos filhos a nomear os sentimentos deles. Eles vão ter um repertório maior, mas não necessariamente esse repertório vai servir para resolver todas as questões. Às vezes vão estar com raiva de alguém, ou muito tristes, e não vão conseguir elaborar isso – ainda precisam da nossa ajuda.
Garanta Tempos Dedicados
É importante garantirmos tempos dedicados para nossos filhos. Com 5 anos, abrimos espaço não só para brincar de alguma atividade por uns 10 minutos de forma totalmente dedicada (sem celular, sem irmãos), mas também para ter conversas mais significativas.
Não é só sair para tomar um sorvete ou ir na padaria e ter aqueles 15 minutinhos sozinho com seu filho de 5 anos. É principalmente usar esse momento para conversar e trocar ideia.
Se você tem uma criança de 5 anos, tenho certeza que já sentiu isso: trocar ideia com seu filho fica cada vez mais incrível. Se você tem mais de um filho, é super importante tentar garantir que essa criança tenha um tempinho sozinho com o pai ou com a mãe.
É nessas horas que seu filho vai falar sobre problemas que aconteceram na escola, que ele nunca falou, que nunca achou que precisava falar.
Considerações Finais
Minha intenção com essas conversas específicas para cada idade é trazer naturalidade para algumas características das fases das crianças. Às vezes achamos que nosso filho está com algum problema, quando na verdade é só ele sendo uma criança de 5 anos.
Criar filhos é incrível, mas também é desafiador. Os 5 anos trazem conquistas lindas e desafios únicos. Lembre-se: seu filho está crescendo, mas ainda é uma criança que precisa do seu acolhimento, da sua paciência e do seu amor incondicional.
Se você percebeu que tem alguma outra característica dos 5 anos que não mencionei aqui, deixe nos comentários. Sua experiência pode ajudar outros pais a entenderem que aquilo também está acontecendo com seus próprios filhos.