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Criação com Apego Não É Um Livro de Regras

"A criação com apego é uma ideia cercada por tantos mitos e preconceitos que, muitas vezes, nos impede de entender qual é a sua ideia central."

Se tem algo que me deixa muito feliz é saber que a criação com apego está cada vez mais difundida e acessível para novas pessoas conhecerem, e se beneficiarem dela. Eu vejo isso não só pelo crescimento aqui do meu blog e do meu canal do YouTube, mas também vendo tantos outros blogs e canais falando sobre esse tema.

Há alguns anos atrás, você não encontraria muita coisa se buscasse por “criação com apego” no Google, por exemplo. Hoje, se você for lá, vai encontrar muitos textos bacanas, inclusive todo o conteúdo dos Princípios da Criação com Apego traduzidos para o português, na página da Attachment Parenting International, uma ONG que trabalha fortemente divulgando a criação com apego e oferecendo apoio a famílias pelo mundo.

Por outro lado, quanto mais popular algo se torna, maior é o preconceito ao redor. A criação com apego é uma ideia cercada por tantos mitos que, muitas vezes, impedem as pessoas de entender qual é o foco dela, de perceber qual é a ideia central da coisa toda.

Então, vamos tentar desfazer alguns desses mitos aqui e, se você tiver ainda alguma dúvida, pode deixar nos comentários do post que nós continuaremos a discussão por lá. E se você lembrar de algum mito que eu deixei de fora no texto, pode escrever nos comentários também!

LIVRO DE REGRAS?

Em primeiro lugar, criação com apego não é um livro de regras. Não existe um livro que você precise decorar, com diversos passos que você precisa seguir para ser considerada uma mãe ou pai que cria seu filho com apego.

— Ah, mas e aqueles oito princípios que você mencionou no início do texto? Parece muito com um conjunto de regras.

Eu realmente entendo que possa parecer com uma pequena listinha de coisas a fazer, como se você precisasse seguir os oito princípios à risca para criar com apego. Mas não é. A ideia desses princípios é mostrar como que, na prática, você pode desenvolver e fortalecer um vínculo de apego seguro com o seu filho.

Em outras palavras, é como se você tivesse uma caixa de ferramentas, com oito ferramentas para escolher. Pode ser que todas as oito ferramentas sejam úteis para você, mas pode ser também que você só sinta necessidade de usar cinco ferramentas, por exemplo.

O importante mesmo é que você conheça todos os esses princípios. Entenda para que eles servem, sobre o que dizem e, então,  você poderá decidir o que mais se aplica na sua vida e na vida da sua família.

Em resumo, é bem como o que William Sears e Martha Sears escreveram no livro The Attachment Parenting Book:

A criação com apego é uma abordagem para criação de filhos, não um conjunto rígido de regras. Algumas práticas são comuns a pais que criam com apego; tende-se a amamentar, dar muito colo aos filhos, e praticar disciplina positiva, mas estas são apenas ferramentas para o apego, não critérios para se ter um certificado de pais apegados.

o que não importa na criação com apego?

Para sermos bem diretos, não importa como ou onde o seu bebê dorme. Se ele dorme com você na mesma cama, se dorme em um bercinho colado à sua cama, ou se dorme no bercinho em seu próprio quarto. O que precisamos ter em mente é que os nossos filhos continuam com necessidades durante a noite, ou seja, ainda precisarão de contato físico, alimento e segurança, mesmo depois que o sol se põe.

Então, se o seu filho dorme bem no berço dele, em outro quarto, e quando chora você atende o choro, para que mudar esse arranjo? Se, nessa configuração, toda a família dorme feliz, maravilha! A criação com apego vem, na verdade, falar de cama compartilhada mais no sentido de dar uma possibilidade para uma família dormir melhor. Sabe aquele ciclo bem conhecido por todos nós, onde o bebê chora demais, acorda a madrugada inteira e os pais estão completamente exaustos com esse leva e trás de bebê? Aquele ciclo enlouquecedor de bebê chora no berço, pega bebê, amamenta bebê, faz bebê arrotar, troca a fralda do bebê, põe para dormir, coloca o bebê no berço, dorme por quinze minutos e começa tudo de novo?

Pois é, muitas família nunca nem cogitaram levar esse bebê para a cama dos pais, porque tem toda uma sociedade dizendo que isso é errado, que ela nunca mais vai sair da cama dos pais, e que é perigoso para o bebê. Tenho textos que falam muito bem sobre esses mitos aqui e aqui. Por isso, a criação com apego vem para dizer, entre outras coisas, que não tem nada de errado dormir com o seu filho e que isso pode, certamente, melhorar a qualidade de sono de toda a família.

Na criação com apego, não importa se os filhos são amamentados em livre demanda até os 3 anos de idade, ou se a amamentação é interrompida aos 6 meses de idade, ou até mesmo se não houve amamentação. Claro, todos sabemos dos benefícios da amamentação, mas a ausência dela não é uma sentença de fim de vínculo entre mãe e bebê. A amamentação não é um pré-requisito para a formação de um vínculo de apego seguro, mas a relação que se constrói através dessa alimentação, seja pela amamentação, ou pelo copinho, ou pela sonda, ou pela mamadeira, é o que vai dizer como será o vínculo.

Além disso, também não importa que tipo de comida você dá. Você pode oferecer um cardápio completamente vegano para o seu filho, desde a introdução alimentar. Você pode oferecer apenas comida orgânica para ele, ou pode até dar um bolinho de vez em quando para o seu filho. Definitivamente, não é sobre o que você dá para o seu filho comer.

Também, pouco importa se o seu bebê usa fraldas de pano modernas, ou fraldas descartáveis, ou até se você faz elimination communication com o seu filho. A título de curiosidade, EC é um método em que não se usa fraldas com o bebê e, desde os primeiros dias de vida, ele já utiliza o vaso ou penico para suas necessidades fisiológicas, obviamente, com a ajuda dos pais.

Poderíamos continuar a lista dizendo que não é sobre vacinar ou deixar de vacinar seus filhos, sobre escolas com pedagogias construtivistas, Montessori ou Waldorf, mas acho que você já pegou a ideia, né?

Sobre o que é, então?

É sobre o vínculo.

Pensar sobre a criação com apego é, na verdade, repensar o olhar que temos sobre os nossos filhos. É deixar de buscar métodos e dicas para fazer com que os nossos filhos, sejam eles bebês ou crianças, façam o que o mundo acredita que eles devem fazer.

É sobre olhar o mundo através dos olhos dos nossos filhos.

É sobre empatia.

Quando passamos a ter um olhar empático sobre os nossos filhos, passamos a entender que o vínculo se constrói quando atendemos as necessidades dos nossos filhos, consistentemente. É nesse atendimento de necessidades que construímos confiança e conexão, pois nossos filhos crescerão sabendo que nossa relação é um grande porto seguro, onde eles podem encontrar acolhimento e amor incondicional.

É sobre ouvir o choro de um bebê e entender isso como um pedido de ajuda, não uma maneira de um pequeno bebê nos manipular. É sobre dar colo, sem medo do que todos ao seu redor diz, porque bebês precisam de colo e contato físico mesmo. E dia após dia, choro atendido após choro atendido, colo após colo, que essa confiança é construída e o vínculo é fortalecido.

E nisso, nossos filhos vão aprendendo que podem contar conosco mesmo de noite. Mesmo que eles sintam medo, ou fome, ou necessidade de contato físico depois que o sol se põe, eles saberão que estaremos lá para ajudá-los.

É nessa construção diária que eles acabam aprendendo que as refeições também podem ser momentos de vínculo, onde não precisarão comer com medo, frente à ameaça iminente de levar uma chinelada caso não comam tudo o que esperam que eles comam.

Mas também é sobre entender que nós somos humanos. Saber que haverá dias em que não conseguiremos dar conta de tudo, e que faremos coisas que nos arrependeremos com os nossos filhos. Mas são nesses momentos que os nossos filhos vão nos acolher, com todo esse vínculo que construímos, e nos mostrar que também somos amados incondicionalmente por eles.

Então, vamos focar mais no vínculo e menos em regras? A criação com apego é bem mais leve do que se diz por aí.

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

3 comentários em “Criação com Apego Não É Um Livro de Regras”

  1. Carolina Peçanha

    Acho q as pessoas buscam soluções práticas para questões complexas. É mais fácil repetir um comportamento que funcionou com determinada família do que analisar e repensar o nosso próprio comportamento. Claro q algumas vezes vai funcionar, mas nem todas, pois cada indivíduo é único e cada família tb. Adorei a reflexão!

  2. Crislaine Mayer

    Perfeito..
    O mundo eh cheio de regras e paradigmas demais…
    Eh bom agir de forma livre, mas sempre respeitando nossos filhos como indivíduos que tem necessidades e vontades. .
    Aqui n teve amamentação exclusiva, por problemas mamários e tb n uso as fraldas ecológicas o dia todo… rsrs.. mas a gente segue na certeza que está no caminho certo… com muito amor e apego! !!

    Amo esse blog.

    S2

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