(traduzido e adaptado por Thiago Queiroz, da versão inglesa, link original)
19 de Agosto de 2013 — Conseguir que as crianças compartilhem seus brinquedos é uma batalha sem fim, e obrigá-las a fazer isso não parece ajudar. Uma nova pesquisa sugere que permitir que as crianças façam a escolha de sacrificar seus próprios brinquedos com o propósito de compartilhar com outra criança faz com que elas compartilhem mais no futuro. As novas descobertas estão publicadas na Psychological Science, um jornal da Association for Psychological Science.
Os experimentos, conduzidos pelos cientistas psicológicos Nadia Chernyak e Tamar Kushnir da Universidade de Cornell, sugerem que o compartilhamento, quando dada uma escolha difícil, leva as crianças a se verem sob uma nova luz, mais benevolente. Percebendo a si próprias como pessoas que gostam de compartilhar faz com que seja mais provável que elas ajam de maneira mais sociável no futuro.
Pesquisas anteriores mostraram que esta ideia — como descrita pelo efeito de sobre-justificação — explica por que recompensar crianças por compartilhar pode ser um tiro pela culatra. Crianças podem perceber a si mesmas como pessoas que não gostam de compartilhar, uma vez que elas precisaram ser recompensadas para fazê-lo. Porque elas não se veem como “compartilhadoras”, elas são menos propensas a compartilhar no futuro.
Chernyak e Kushnir estavam interessados em descobrir se o sacrifício por livre arbítrio poderia ter um efeito oposto no desejo de compartilhar das crianças.
“Fazer escolhas difíceis permite que as crianças infiram algo importante sobre si mesmas: fazendo escolhas que não são necessariamente fáceis, as crianças podem ser capazes de inferirem sua própria sociabilidade.”
Para testar isso, os pesquisadores apresentaram a crianças de 3 a 5 anos Doggie, um boneco que estava se sentindo triste. Algumas das crianças foram apresentadas com uma escolha difícil: compartilhar seu precioso adesivo com Doggie, ou guardá-lo para si mesmas. Outras crianças foram apresentadas com uma escolha fácil entre compartilhar e se desfazer do adesivo, enquanto que crianças em um terceiro grupo eram obrigadas a compartilhar pelo pesquisador.
Mais tarde, todas as crianças foram apresentadas a Ellie, outro boneco triste. Elas tinham a opção de escolher quantos adesivos compartilhariam (até três). As crianças que fizeram a escolha difícil de ajudar Doggie compartilharam mais adesivos com Ellie. As crianças que foram inicialmente confrontadas com a escolha fácil ou que foram obrigadas a dar seu adesivo para Doggie, por outro lado, compartilharam menos adesivos com Ellie.
“Você pode imaginar que fazer escolhas difíceis e custosas é desgastante para as crianças pequenas ou até mesmo que uma vez que as crianças compartilham, elas não sintam necessidade de fazer isso novamente,” diz Chernyak. “Mas este não foi o caso: uma vez que as crianças tomaram uma decisão difícil para desistir de algo por alguém, elas foram mais generosas, e não menos, mais tarde.”
Outro experimento apoiou estes resultados, ilustrando que crianças são mais generosas após escolher compartilhar brinquedos de sapo valiosos, comparados a pedaços rasgados de papel sem valor. Aquelas que inicialmente compartilharam os sapos com Doggie compartilharam mais adesivos com Ellie, mais tarde. Aquelas que prontamente compartilharam o papel, por outro lado, compartilharam menos adesivos com Ellie. Portanto, as crianças não apenas se beneficiaram por simplesmente abrir mão de algo, mas por terem optado abrir mão, por vontade própria, de algo de valor.
“Considerando a grande ênfase que damos à escolha durante a primeira infância, especialmente nesta cultura, é importante delinear especificamente o que a escolha pode fazer — ou não — para as crianças pequenas,” diz Chernyak.
“As crianças são frequentemente ensinadas a compartilhar, a serem educadas e gentis com os outros. Para que cheguemos mais perto de um dia descobrirmos a melhor maneira de ensinar estas habilidades às crianças, é importante descobrir que fatores podem ajudar no espírito de compartilhamento de crianças pequenas,” conclui Chernyak. “Permitir que as crianças façam escolhas difíceis pode influenciar seu espírito de compartilhamento, através do ensinamento de lições maiores sobre suas habilidades, preferências e intenções em relação aos outros.”
Referência:
N. Chernyak, T. Kushnir. Giving Preschoolers Choice Increases Sharing Behavior. Psychological Science, 2013; DOI: 10.1177/0956797613482335