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De Pai Para Pai: Gestação e Parto

"Aprendi que o vínculo da mãe com o bebê é algo muito forte, mas isso não quer dizer que o pai precisa assumir sua posição de expectador e ficar de fora de tudo."

Ah, o parto… Esse momento tão único, tão poderoso… Uma experiência que muda completamente a mulher, o homem, e ainda traz um bebê lindo para o mundo. Este post faz parte de uma série de textos que eu comecei em De Pai Para Pai: Criação com Apego, onde eu busco falar sobre como o pai pode usar a ajuda dos Princípios da Criação com Apego para participar ativamente da criação do seu bebê. Dessa vez, vou falar um pouquinho sobre como eu pude assumir meu papel de pai já no primeiro Princípio da Criação com Apego.

Só para contextualizar, a API (Attachment Parenting International) é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão difundir a criação com apego ao redor do mundo. Ela criou os Oito Princípios da Criação com Apego, com informações importantes para que pais e filhos possam criar vínculos saudáveis e duradouros. O primeiro princípio é Preparando para a Gestação, Nascimento e Criação (clique no link para ler a tradução do princípio) e é incrível saber que muito pode ser feito em termos de criação de vínculos já durante a gestação.

Fazendo as Pazes com o Passado

Antes de mais nada, a gestação é uma ótima oportunidade para você avaliar o seu próprio passado e fazer as pazes com ele, se for o caso. É muito importante que você comece a pensar em como foi a sua própria criação, sobre como isso influenciou quem você é hoje e  como você se imagina criando um bebê. Em alguns casos, é importante até procurar uma ajuda profissional, quando você perceber que tem dificuldades em processar algo da sua infância.

Durante a gestação, eu comecei a pensar bastante sobre a minha criação e vi que, apesar de ter sido uma criação que não me causou nenhum trauma, algumas coisas não me pareciam muito positivas como, por exemplo, a maneira com que alimentos foram inseridos na minha vida e a maneira que a disciplina era conduzida. O regime de disciplina era bem tradicional e autoritária, não havia muito espaço para questionamentos ou argumentações, mas ainda assim, não havia punição na forma física.

Você, então, se vê analisando a própria infância, vendo erros e acertos que você vai certamente levar em consideração quando seu bebê nascer. Conversei muito com a Anne sobre como isso seria, baseado nas experiências que ela teve na própria infância. Afinal de contas, se vamos criar juntos, precisamos alinhar as nossas expectativas.

Esse momento é muito importante, porque é nessa hora que você começa a se questionar. E se você não faz esse questionamento, a tendência é que você repita o mesmo estilo de criação que teve, ou supercompensar aquilo que você não teve quando criança. O equilíbrio na criação do seu próprio filho depende dessas análises que continuam acontecendo até hoje.

 Criando Vínculos na Gestação

Se tem algo que me ajudou muito a entender melhor essa coisa abstrata de ser pai, enquanto o bebê ainda está na barriga, foi participar ativamente dos eventos da gestação. Isso incluía ir a todas as ultrassonografias, consultas de pré-natal e reuniões do grupo de apoio a gestantes e parto natural: Ishtar. Pode parecer bobeira, mas participar disso me ajudou a me enxergar melhor enquanto pai.

Sem contar que era muito divertido, porque nós transformávamos essas atividades rotineiras em mini-eventos. Se tinha alguma ultrassonografia para fazer, era um dia que eu sabia que sairia mais cedo do trabalho, encontraria com a Anne, veria o nosso bebê e ainda faríamos um lanche especial em algum lugar. Ou quando era dia de encontro do grupo de apoio, a gente acordaria mais cedo, aproveitaria mais o sábado, encontraria um monte de gente querida, aprenderia mais coisas sobre o parto e ainda almoçaríamos em algum lugar diferente. Sério, não consigo imaginar maneira melhor de se curtir a gestação como um pai!

Em paralelo a isso tudo, existe um processo gigante de conhecimento do parto como processo fisiológico. Nós, pais, precisamos entender, nos educar, nos empoderar para conseguirmos participar e suportar nossas esposas nas escolhas feitas contra o resto do mundo. Porque é assim mesmo: será uma luta contra o resto do mundo. Por isso que grupos de apoio e amigos que tenham passado por uma experiência parecida são tão importantes neste momento. A decisão informada, discutida, é sempre a melhor a ser tomada. É nessa hora que você pode ajudar muito a sua esposa e se sentir parte importante do processo.

Pode parecer muita coisa para você, todo esse universo de gestação e parto. Mas fique tranquilo, é muita coisa mesmo, principalmente para nós, brasileiros, que não tivemos educação sobre isso nas escolas e vivemos em uma cultura com valores completamente invertidos sobre o parto. Pode dar preguiça ler toneladas de textos, participar de reuniões nas manhãs de sábado, mas, olha, faz toda a diferença. Vale a pena participar e se educar.

O Pai no Parto

Mas e o parto? Como fica? Obviamente, o parto é um momento próprio da mãe, um evento que nem eu, nem qualquer outro pai jamais terá a menor ideia de como é, do que se sente, do que se pensa. Cabe a nós entender e respeitar esta experiência única na vida das nossas parceiras, mas isso também não quer dizer que precisamos nos reduzir e não participarmos. O parto é absurdamente transformador para a mulher, mas é também para o homem.

O pai pode também participar do parto e ter a sua história de transformação pessoal. De quebra, ainda consegue assistir a sua mulher se transformando na sua frente: ela certamente não vai lembrar da sua reação durante o parto, mas você nunca vai esquecer como ela pariu. Eu tive a sorte de estar no momento certo e na hora certa, porque consegui amparar o Dante assim que ele nasceu. Esse momento, seguido do momento em que ele foi para os braços da Anne e ficamos os três juntos, pela primeira vez, foi inesquecível. Momentos como esse mudam completamente a vida de uma pessoa, e sou outro cara desde então.

Fora isso, aprendi que o vínculo da mãe com o bebê é algo muito forte, intenso, orgânico, visceral. Além de passar os 9 meses na barriga da mãe, todo o trabalho de parto e os hormônios envolvidos no parto funcionam como um empurrão da natureza que propicia a criação de um vínculo quase visível a olho nu. Eu sei disso e sei que precisarei me dedicar para que o vínculo com o meu filho seja criado e mantido, ou seja, o pai não precisa assumir sua posição de expectador e ficar de fora, reduzido e conformado.

O pai pode (e deve) participar e curtir essa nova etapa da vida, deve se deixar apaixonar pelo bebê e pela nova mulher que nasceu junto dele, a sua esposa que agora é mãe. O pai pode participar sim, e pode começar a promover seus vínculos tão cedo quanto a gestação. Só não vai ser intenso quanto o da mãe, mas também muito importante para toda a família. Não fique de fora!

 

Se você ficou interessado, você pode gostar de mais alguns textos aqui do meu blog. Os dois primeiros são os meus relatos de gestação e parto, enquanto que o terceiro link é um texto ótimo sobre como promover vínculo entre pai e bebê ainda no útero:

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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