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E Desde Quando Apego É Uma Coisa Ruim?

"A popularização do termo criação com apego trouxe à tona uma reflexão em torno da palavra apego. Sendo a tradução mais comum de attachment parenting, muita gente critica o emprego da palavra apego."

Nessa semana, no meu post para Os Mamíferos, no Vila Mamífera, falei um pouco sobre esse estigma que a palavra apego tem, principalmente utilizada para criticar o termo criação com apego. Você pode ler o texto aqui também.

E Desde Quando Apego É Uma Coisa Ruim?

A popularização do termo criação com apego trouxe à tona uma reflexão em torno da palavra apego. Sendo a tradução mais comum de attachment parenting, muita gente critica o emprego da palavra apego. Sugere-se alternativas como criação com amorcriação com vínculocriação com afeto, dentre outros mas, sei lá, sempre curti o termo criação com apego.

Por isso, resolvi tentar entender um pouco sobre por que as pessoas acabam vendo essa tradução negativamente, e agora vim compartilhar um pouco com vocês sobre o que eu andei descobrindo. A melhor maneira de se entender as coisas é voltando ao princípio de tudo e, nesse caso, vamos ver o que o dicionário nos diz sobre a palavra apego.

apego
a.pe.go
(êsm (de apegar1 Afeição, afeto, inclinação. 2 Afinco, constância, tenacidade. Agr Timão de charrua. Anat Articulação de ossos.

Ler isso me fez identificar duas coisas:

  1. 1. eu não faço a mínima ideia do que significa timão de charrua; e
  2. 2. o primeiro significado para apego é afeição, afeto, inclinação!

Eu realmente não esperava por isso, muito menos pelo timão de charrua. E saber que apego realmente significa afeto fez com que eu ganhasse o meu dia, porque mostra que lá no fundo, minha intuição já apontava para a direção certa. Eu tinha um medo absurdo de encontrar algo assim:

apego
a.pe.go
(êsm (de apegar1 Dependência emocional, mimo, imaturidade emocional. 2 Afinco, constância, tenacidade. Agr Timão de charrua. Anat Articulação de ossos.

Mas por que as pessoas tendem a associar o apego a coisas ruins, normalmente relacionadas à dependência? Imagino que, nos tempos de hoje, onde todos nós somos seduzidos por propagandas, existe essa grande propensão ao consumismo, esse culto às coisas materiais. E muito provavelmente devido ao fato de que as pessoas passaram a amar menos e a transferir suas necessidades de preenchimento para objetos.

Veja bem, hoje há maternidades que oferecem um serviço fantástico de televisões no quarto da mãe, onde ela pode assistir seu filho 24 horas por dia. Salvo em casos onde o bebê necessita realmente dos cuidados de uma UTI neonatal, por que diabos esse bebê não está ali ao lado da mãe? Por que o distanciamento?

Outro exemplo clássico são os brinquedos multifuncionais, anunciados como os melhores brinquedos para estimular seu bebê a ser o bebê prodígio mais inteligente do mundo, que fará seus pais muito orgulhosos, prontinho para ser apresentado numa feira de exposição de super bebês. Ué, por que tantos brinquedos se os melhores estímulos e brincadeiras que os pais podem oferecer aos bebês resumem-se a estar próximo, interagindo e brincando com eles?

Mais um exemplo: por que gastar tanto dinheiro com DVDs hipnóticos para deixar seu filho exposto às cores e músicas, se você mesmo não pode cantar e brincar com ele?

Todo esse afastamento entre as pessoas acaba fazendo com que esses vazios sejam preenchidos de outras formas, e nesse caso, os objetos tornam-se grandes aliados. Todo mundo já deve ter ouvido falar:

– Estou exercitando o desapego de XYZ.

Troque XYZ por um objeto a gosto do freguês, e pode-se perceber facilmente que, em dado momento, já admitimos que tivemos afeto por um objeto inanimado e que estamos tentando desfazer o encanto. Pensar em afeição por objetos é algo perturbador, não? Por isso que muitos de nós temos calafrios quando ouvimos falar em criação com apego, porque nos remete a incentivar nossos filhos a serem possessivos, consumistas e dependentes. Mas não é exatamente isso que estamos fazendo, quando não criamos com apego?

Criar com apego é estimular o afeto, o vínculo entre pais e filhos. Quando um vínculo é estabelecido de forma saudável, os filhos têm a certeza de que sempre que precisarem, terão seus pais para recorrer e, consequentemente, poderão buscar sua independência de forma natural e sem traumas. Se você tiver interesse, falo um pouco mais em detalhes sobre criação com apego bem aqui.

E então? Vamos parar de conjecturas e começar a criar com muito, mas muito apego?

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

6 comentários em “E Desde Quando Apego É Uma Coisa Ruim?”

  1. Paulinr Pelicer

    À respeito de criaçao com apego, o que costumam me per perguntar gira em torno de “se vc agir assim (lidando com situações por meio do apego), que preparo seu filho vai ter qdo o mundo agir de forma diferente com ele?”. Por isso, me senti legitimada e, confesso, aliviada ao ver em seu texto a resposta que sempre dou: se ele souber que estou sempre aqui qdo precisar, vai e enfrentar essas situaçoes com a segurança necessária, pois sabe que tem a família aqui, para o que der e vier.

  2. Tem uma frase marcante do Pequeno Príncipe, que talvez explique um dos motivos desse distanciamento entre pais e filhos, tão cultuado na nossa sociedade: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Isso é muito forte. Certa vez, ouvi de uma amiga: “não vale a pena se apegar demais aos filhos, porque, um dia, eles vão embora e ficamos sofrendo”. Quanto maior o vínculo, maior o sofrimento na hora da perda. Mas a vida não nos dá a opção de nos desvincularmos totalmente de um filho. Então, por mais distante que ele se torne de seus pais, a ligação paterna/materna prevalecerá, no entanto, desgastada, traumatizada para ambas as partes. Me parece que vivemos numa sociedade insegura dada a inversão de valores. Somos dependentes do consumismo, o que nos faz possessivos. Se temos medo de perder objetos de desejo, é bem provável que esse medo seja transferido a uma pessoa, cuja responsabilidade sobre sua vida seja infinitamente maior. Daí o afastamento.
    Também fiquei hiper curiosa com o timão de charrua.
    Acabei de conhecer seu blog e amei. O conteúdo é excelente! Depois, se der, dá uma passadinha lá no meu.
    Até mais!
    Sílvia Fernanda
    http://cademeutempo.blogspot.com.br/

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