Estamos na semana #AgoraÉQueSãoElas, criada por Manoela Miklos, onde mulheres ocupam o espaço de fala dos homens, que reconhecem a urgente luta feminista por igualdade de gênero e o protagonismo feminino.
Aqui no blog, abri as portas para mulheres muito queridas, e agora é a vez da Luana Xavier, doula, estudante de Obstetrícia e minha irmã do coração. Acompanhem o blog que teremos ainda mais textos escritos por mulheres, sobre as temáticas que mais instigam-nas!
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As últimas semanas foram extremamente difíceis para as mulheres do nosso país: sofremos ataques muito contundentes e cruéis sobre nossa autonomia, que evidenciaram o quão forte ainda é a cultura do estupro e da pedofilia. Corajosamente, nos expusemos para jogar luz sobre nosso #PrimeiroAssédio sofrido e fomos às ruas, fortes como as águas quando se encontram, para não nos calarmos jamais sobre a tentativa nefasta de controle e violação de nossos corpos que configura o PL 5069/2013.
Vocês podem estar se perguntando o que esse texto está fazendo no blog do meu maninho do coração. A explicação é bem simples: todos os retrocessos que o PL traz desembocam diretamente na ideia da maternidade como algo compulsório, que foge à nossa escolha e se torna uma finalidade em si do corpo feminino. Não importa que tenhamos sido violentadas, não importa que possamos ter contraído DST, não importam os danos físicos e psicológicos decorrentes de um estupro: a mulher é destinada a ser um depositório. E tudo isso é oposto ao que as ideias desse blog difundem. Por isso, cá estou eu.
Então, prazer, sou Luana Xavier, irmã do Thiago, militante feminista pelos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, doula e estudante de Obstetrícia da USP. Essa é a semana do #AgoraÉQueSãoElas — movimentação dentro da qual espaços de escrita comandados por homens estão sendo ocupados por mulheres. E, não, agora não tem mais volta: não vamos nos calar.
No momento em que o Paizinho me fez o convite para aqui escrever, eu assistia a um seminário sobre métodos de contracepção e medicalização do corpo feminino na faculdade, que trazia exatamente a discussão sobre o tal PL. Depois de tantos dias sombrios, é preciso dizer que ouvir meninas de 18/19 anos — futuras profissionais que acolherão e assistirão mulheres em situações delicadas de suas vidas reprodutivas — indo de encontro ao que está colocado pela aberração proposta por Cunha, foi alento para o coração.
A luta é ampla e necessita que nos mobilizemos todas para que haja avanços. Não pense que, porque hoje você deseja ser mãe, esse assunto não te diz respeito: é sobre nós, sobre todas nós. É sobre a vida das mulheres, é sobre a vida da sua irmã, das suas filhas, das suas netas. Elas merecem viver em um mundo que entenda, de uma vez por todas, que somos gente.
Como disse em certa ocasião a querida professora do curso de Obstetrícia, Bete Franco, “que coisa boa não sucumbir ao que está posto e lutar pelo que se acredita. Na vida tão breve não se leva, mas se deixa”. Lutemos, então, para que as experiências de maternidade que deixaremos para as nossas meninas sejam voluntárias, prazerosas e socialmente amparadas, como pontua a também incrível professora Simone Diniz.
E saibam que, enquanto assim não forem, estaremos aqui a postos como disse Pagu: “esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre”.