Então você gritou com seu filho.
Você sentiu suas cordas vocais tremerem furiosamente de raiva.
Mas você viu o medo dentro da pupila dos olhos do seu filho.
E talvez tenha até se encontrado lá, na sua versão infantil, quando também ficou com medo dos seus pais.
Agora, você se sente um lixo.
Vamos conversar?
A primeira coisa que eu queria dizer a você é: respira. Respira fundo mesmo. E então olhe para esses sentimentos, que são reais. Raiva, culpa, confusão, impotência? O que será que está aí nesse mix de emoções de uma mãe (ou pai) totalmente sobrecarregada?
Agora, saiba que isso não acontece só com você. Acontece comigo também. Eu grito também. Suas amigas e amigos gritam também. Aquela influenciadora perfeita que sempre fala calmamente e tira as fotos mais lindas dos filhos também grita. Todos nós gritamos.
O problema é ficar preso na culpa, porque isso nos paralisa e impede que pensemos no que pode ser feito diferente. Culpa por culpa não serve para absolutamente nada, a não ser para enriquecer pessoas que usam da sua culpa para vender produtos e serviços que, adivinhe, não farão você parar de gritar magicamente.
E veja, você já quer fazer diferente. Sabe por que? Porque você está aqui. Você leu a primeira mensagem desse texto, se identificou, e está aqui comigo. Isso significa que você sabe que gritou, mas quer fazer diferente.
E como fazer diferente? Essa é a pergunta de um milhão de reais, porque filhos não vêm com manual, muito menos com fórmula mágica, mas eu gostaria de dividir com você um primeiro passo importante.
Entenda que quando você grita, não é culpa do seu filho.
Você não gritou porque seu filho não colaborou, ou porque sua filha derrubou comida no chão.
A responsabilidade pelo grito é nossa, não dos nossos filhos. Entender e admitir isso pode ser doloroso, mas também nos coloca de volta em um lugar de consciência e controle.
Entender isso é fundamental para fazer o que deve ser feito depois que você grita: pedir desculpas. Reparar a relação. Mas isso não é o suficiente, porque também precisamos saber por que, afinal, nós gritamos.
E, na verdade, nós gritamos porque estamos exaustos. Sobrecarregados. Sem rede de apoio. Sem a possibilidade de conversar sobre nossos próprios dilemas e nossas infâncias. Sem isso, gritar torna-se quase uma sentença.
Não adianta prometer a si mesmo que você nunca mais irá gritar, sejamos honestos. Mas pedir desculpas ao seu filho de uma forma diferente, mais genuína, pode ser já uma excelente mudança:
“Filho, desculpa, o papai gritou, mas não foi culpa sua o meu grito. Eu estou tão cansado e preocupado que perdi o controle.
Mas e como parar de gritar? Infelizmente, essa continua sendo uma das perguntas mais difíceis e, de uma forma geral, só conseguiremos quando tivermos rede de apoio, condições mais humanas de trabalho, formas de conversar e receber ajuda com relação às nossas questões emocionais.
Não é fácil, mas como eu sempre falo, nós somos os adultos da relação. Você tem mais capacidade de se regular emocionalmente do que uma criança. Ter consciência do que você passa, sente e necessita, é uma ótima forma de saber como pedir ajuda.
De todo jeito, o primeiro passo você já deu. Você está aqui. E juntos, nós conseguimos. Um dia de cada vez.
Com carinho,
Thiago Queiroz.
8 comentários em “Gritei com o meu filho, e agora?”
Eu não sou mãe. Sou irmã mais velha dos meus irmãos, e eu gritei com meu irmão por quê ele estava me ensinando algo que eu já sabia e isso me estressou e ele ficou no canto, agora tô me sentindo a pior pessoa do mundo.