Ontem foi um dia especial, mas muito especial mesmo! O pequeno Dante fez dois anos e isso significa que há dois anos atrás, Anne estava parindo um novo ser e a ela mesma. O nascimento do Dante foi um evento tão lindo e transformador para todos nós, que não tenho dúvidas que boa parte das fundações das nossas relações nasceram ali, junto dele, naquela banheira montada em nosso próprio quarto. Se você ainda não leu sobre o parto da Anne, e quer entrar nessa onda nostálgica comigo, pode ler o relato em De Quando Dante Nasceu – O Parto Domiciliar Visto Pelo Pai.
Assim como eu fiz ano passado, quando o Dante estava completando seu primeiro ano de vida, resolvi escrever sobre o que eu aprendi naquele período. O resultado está aqui, em Três Coisas Que Eu Aprendi Nesse Primeiro Ano de Paternidade mas, agora, o aprendizado é diferente e acho que pode ser interessante contar um pouco sobre o que eu aprendi nesse segundo ano de paternidade.
Se eu precisasse resumir tudo o que eu aprendi nesse ano com o Dante, eu diria: flexibilidade. Sim, flexibilidade. A capacidade de permanecermos flexíveis durante nossas vidas se torna ainda mais urgente quando estamos criando um pequeno ser que passa por tantas mudanças em tão pouco tempo.
Flexibilidade, para mim, é a capacidade de nos adaptarmos a novas situações, novas condições. E isso só acontece quando somos capazes de reavaliar constantemente nossas expectativas, de acordo com as novas realidades que se apresentam a nós. Esse foi (é) o grande desafio do segundo ano da minha vida de pai.
Muitas pessoas dizem que o bebê, quando faz 2 anos, põe em teste todas as habilidades do pai e da mãe. Alguns dizem que, quando fazem 2 anos, essas pequenas crianças começam a desafiar, testar, provocar, a fazer malcriações vis e cuidadosamente planejadas: é o famoso “terrible two”, que aterroriza qualquer um que tenha filhos. E, como não poderia ser diferente, de uns tempos para cá, oficialmente, o comentário que mais me fazem é justamente sobre os “terrible two” ou “terríveis dois”, que é uma expressão dada para a fase de grandes desafios que rondam os 2 anos de uma criança. As pessoas costumam falar:
– Se prepara! Terrible two vem aí!
– Cara, tenho pena de você. Terrible two vai vir com força!
Eu gosto de pensar que, se perguntássemos a essas mesmas crianças sobre seus pais, elas diriam que seus pais estão nos “terrible thirties” ou “terríveis trintas”, porque normalmente as crianças não são compreendidas com tanta empatia nessa fase. Normalmente, nós, adultos, damos muitos chiliques também quando estamos nos relacionando com nossos filhos. Mas, independente disso, eu acho que os desafios chegaram um pouco mais cedo lá em casa.
Lá pelos 1 ano e 4 meses de idade, percebemos que as coisas estavam mudando. Não só mudando, mas ficando mais desafiadoras. Dante, que se desenvolvia fisicamente de maneira muito rápida, começava a dominar habilidades físicas que lhe davam uma urgência de explorar e conhecer o mundo. Porém, como é comum nessa idade, o desenvolvimento emocional não acompanha na mesma velocidade, e essa diferença de velocidades entre os desenvolvimentos físico e emocional é o ingrediente principal para muitos acessos de frustração, raiva e outras explosões de sentimentos negativos.
Tente imaginar como um bebê, com 1 ano e alguns meses, seria capaz de entender por que não pode mexer em um fogão, ou por que não pode ter todos os brinquedos que deseja na pracinha. É difícil, muito difícil: para o Dante, e também para mim e para a Anne.
Nós não conseguíamos lavar uma louça sequer, sem que ele urrasse e chorasse como se estivesse sendo espancado. Para a Anne, então, que ficava sozinha com ele, isso era particularmente complicado. Achamos que poderia ser um salto, ou dente, ou um monte de outras coisas que realmente podem acontecer e fazer as coisas ficarem mais complicadas. Mas pesquisando, descobrimos algo que não sabíamos e fez bastante sentido: ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, a ansiedade de separação não é um evento que ocorre só aos 9 meses. A ansiedade de separação é intensa nessa época, mas pode ocorrer também ao longo do tempo, até que o bebê tenha uns 2 anos.
Ou seja, nada que provocasse uma mínima separação entre a Anne e o Dante era tolerável para ele. Foi muito, muito desafiador para todos nós, mas passa. Quando estamos no meio do furacão, a sensação é de condenação eterna, de que aquilo nunca vai passar. Mas acredite, passa.
Durante essa época, nos adaptamos, de forma a sobreviver com o mínimo de decência, e reavaliamos a divisão de rotinas domésticas, além de buscar alternativas para o preparo dos alimentos. Como nem eu, nem a Anne somos grandes chefs da culinária contemporânea, começamos a flertar com a possibilidade de ter uma cozinheira que fosse lá em casa, de tempos em tempos, preparar uma grande quantidade de comida para congelar. É o que tem nos aliviado muito, hoje em dia.
Mas a cada nova fase, eu percebia que era a fase mais desafiadora que já tínhamos vivido até o momento, como se sempre o que nós estivéssemos vivendo fosse o momento mais difícil de nossas “carreiras” de pais. Ao mesmo tempo, sempre nos parecia a fase mais fascinante que já houvera. Essa dualidade, pelo que me parece, é o que garante a nossa sanidade.
Então, sempre quando chegávamos a algum ponto que desejávamos chegar há muito tempo, aconteciam tantas outras situações que acabavam nos fazendo esquecer das coisas positivas e nos deixavam perseguindo expectativas irreais. Não estávamos sendo tão flexíveis quanto gostaríamos de ser e, por muitas vezes, ficávamos presos em nossas próprias expectativas e ansiedades, lutando com um problema que, na verdade, dependendo do ponto de vista, poderia não ser um problema de fato.
Isso aconteceu com o sono do Dante. O sono dos nossos filhos é constantemente um assunto que, sem intenção de fazer trocadilhos infames, nos tira o sono. Não é a toa que tantos métodos de treinamento de sono são famosos onde em dia, porque vendem a “solução para um grande problema”. Mas o fato é que, devido ao constante desenvolvimento de um bebê, há muitas alterações nos padrões de sono, ao longo do tempo. Não só alterações, mas também regressões de sono são comuns.
Além disso, no nosso caso, sempre achamos que nossa vida seria infinitamente melhor, a partir do dia que Dante dormisse durante a noite toda. Poderíamos, finalmente, dizer que existe vida após os filhos! E, de fato, lá pelos 1 ano e 9 meses, Dante começou a dormir a noite inteira! Que maravilha!
Espere um momento, vamos com calma. Não foi tão maravilhoso assim porque, apesar de dormir a noite inteira, a batalha para dormir à noite passou a ser uma batalha épica, todas as noites. E nós lutávamos em todas as noites. Nós, para fazê-lo dormir na hora que entendíamos que ele deveria dormir e ele, para dormir na hora que o corpo dele dizia a ele que precisava dormir. Foram muitas semanas nessa rotina de brigas e, quando ele finalmente dormia, estávamos tão desgastados com as lutas, que não conseguíamos fazer nada juntos. Estávamos cansados física e emocionalmente.
E por que? Por que estávamos forçando ele a dormir em um horário que nós pensamos ser o horário dele dormir? Como havíamos definido esse horário? Até então, nós não estávamos seguindo os sinais dele, respeitando a rotina dele? O que aconteceu que nos deixou cegos? Eu não sei muito bem, mas eu diria que foi o cansaço mesmo. Às vezes, caímos nas armadilhas que nós próprios colocamos em forma de expectativas. Tínhamos grandes expectativas sobre o sono dele e queríamos resgatar parte do que tínhamos, o mais rápido possível.
Além disso, também estávamos tentando fazê-lo dormir mais ou menos da mesma forma que fazíamos desde sempre, desde quando ele era um pequeno bebê. O problema é que ele já não era mais aquele bebê, e não dependia apenas do peito para dormir. Ele precisava de mais, precisava de nós para relaxar e conseguir dormir. E nós precisávamos descobrir como ajudá-lo.
Hoje, ainda estamos nos encontrando nesse quesito, mas pelo menos não lutamos mais como inimigos mortais. Não nos frustramos mais (tanto) com nossas expectativas irreais. Na realidade, estamos mais conscientes novamente da necessidade de sermos flexíveis e abrimos mão de algumas coisas, como o horário esperado por nós, para algo mais tarde e mais condizente com a energia dele. Ficamos mais flexíveis a ponto de explorar novas maneiras para ajudar o Dante a relaxar e gastar a energia final que não o deixa dormir.
Tivemos que passar por tudo isso para lembrar que aquele mesmo pequeno bebê, hoje, pode precisar de outros tipos de cuidados e rotinas, mas uma coisa não mudou: ele demanda respeito para com o corpo e a natureza dele. E sempre que nós atravessarmos essa linha, como uma pequena fera, ele vai lutar e reivindicar seus direitos.
Afinal de contas, durante esses primeiros anos de vida, com todas as mudanças que o seu corpo passa, por tantas desconstruções e reconstruções que seu cérebro passa, é impossível esperar que o padrão de sono não irá mudar constantemente. É impossível pensar que não será possível, mas é impossível não se sentir exausto também.
E continua assim. Hoje, vivemos o que parece ser o momento mais desafiador desde que o Dante nasceu, mas, ao mesmo tempo, é o momento mais delicioso que já vivemos com ele. Ao mesmo tempo que tentamos nos entender com o sono do Dante, que ainda luta bravamente para dormir à noite, sabemos que nunca o amamos mais do que o amamos hoje. Nunca nos fascinamos tanto com sua capacidade de interação e demonstração de afeto conosco, nunca o admiramos tanto pelas novas e (mais) complexas relações que estamos construindo juntos.
Nós nos lembramos como precisamos permanecer flexíveis, e constantemente lembramo-nos disso, mas tomar novamente consciência da importância disso, quando se tem um segundo filho a caminho, é um aprendizado muito, mas muito valioso.
11 comentários em “O Que Eu Aprendi Nesse Segundo Ano de Paternidade”
Parabéns ao Dante e família. Que bacana colocaste de forma muito linda a fase que passam e que passamos com a Sophia, hoje com 2a e 7m. Sim, flexibilidade e respeito duas palavras chaves. Também tivemos de achar um jeitinho para acalmar este corpo que não quer parar e vale muito a pena. O importante é descobrir aquilo que nosso filho ou filha precisa e estarmos atentos, pois eles nos
avisam. Abraço. Adoro ler teus artigos.
Gratidão, Michele 🙂
Gosto muito de vir aqui ! É diferente ler o relato quando é do pai. Talvez seja minha mente condicionada a essa cultura machista do nosso país, mas a verdade é que vemos poucos pais do seu modelo….rs
Parabéns ao Dante, a voce e a Anne. E parabéns pelo bebê2 que vem por aí.
Muito bacana seu blog Thiago! Meu pequeno tem a mesma idade que o seu (faz 2 anos dia 16) e aqui em casa vamos tendo mais ou menos as mesmas experiencias. Gostei de saber sobre a angustia de separação, agora entendi o porquê de tanto “grude” e de não poder ir ao banheiro sozinha… rs. Muito obrigada, sigo acompanhando seus posts cada dia!
Oi, Andrea!
Pois é, quando a gente compreender melhor o que está acontecendo com nossos filhos, fica ainda mais fácil ter empatia, não?
Parabéns pro Dante e pra Anne pelos dois anos de paridos, e pra você, pelos dois anos que nasceu como pai! Iuri está com 4 meses e meio, nós com olheiras profundas, mas o apego é grande e o aprendizado também!
Obrigado pelos parabéns, Daniela 🙂
Amei seu texto. Posso dizer com certeza absoluta que a ansiedade é um problema que afeta muito a qualidade de vida dos nossos bebês. Bem, pelo menos afetou muito a vida do meu pequeno desde que tive que voltar p universidade. Desde um mês de vida ele era irritadiço e sufocava direto por causa de um refluxo que “apareceu” nessa época. Meus orientadores m, que são psicólogos, e a pediatra dele, uma profissional incrível, me disseram que era ansiedade e medo de ficar longe de mim. Viajamos só eu e ele para o RN, fui apresentá-lo à minha família. E lá ficávamos muito tempo a sós. Cama e banho compartilhados. Ele ficou “curado” do refluxo e deixou de chorar por tudo. Parecia milagre. E eu cheguei relatando esse milagre para a médica que o acompanha. Ela riu e disse que não havia milagre algum, e sim minha presença constante. Me sinto culpada demais por todas vezes que falhei e ainda falho. E ultimamente tenho me sentido ainda pior. Mas tenho me educado muito, se assim posso dizer, para ser uma mãe e educadora melhor para o meu pequeno amor. Agradeço a você por compartilhar suas experiências, seus sentimentos e sua filosofia conosco, mães e pais; transmitindo-nos um pouco de esperança de que podemos deixar nossos filhos de forma tão amorosa sem nos sentirmos seres esquisitos, e loucos… Obrigada!
Olá, Cristina!
Que belo relato! E obrigado pelos elogios 🙂