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Paternidade e Mudanças

"Existem fatos que mudam nossas vidas, que nos amadurecem. A chegada de um filho é sem dúvida um desses. Um diálogo sobre masculinidades atual."

Olá, me chamo Angelo Bernardo, sou homem cis, branco e heterossexual. É assim que eu me percebo atualmente e assim que eu acho justo começar a me apresentar, já que agora sou colunista daqui e não tinha me apresentado ainda. É uma questão de educação, não é? Pois é, esse texto é uma revisão de mim por mim mesmo e uma tentativa de fazer com que vocês me conheçam melhor. Eu sou avesso a redes sociais então ninguém irá me achar, ou até irá, mas não vai ter muito pra ver por lá. De toda forma, eu preciso escrever e por isso estou me apresentando da melhor forma possível, usando a língua escrita. Esse é um texto sobre minha mudança de vida depois da paternidade, já que não tem muito sentido vocês conhecerem o Angelo de 2017 ou até mais antigo, pois é outro cara.

Vamos lá, eu comecei falando que sou homem cis, branco e heterossexual, mas tá, e daí? E daí que pessoas dessa categoria normalmente não têm o trabalho de se reconhecer como nenhuma dessas coisas, pois elas são os “padrões” da nossa sociedade, são coisas normalizadas, que eu aprendi a problematizar. Eita, já usei a palavra com P! Calma gente, eu vou voltar nela, pois nós a utilizamos de forma errada, eu inclusive. A coisa toda de se normalizar a nossa própria identidade é que além da gente não reconhecer nossos privilégios a gente cai nas estruturas muitas vezes perversas de nossa sociedade, tais como a cisnormatividade, heteronormatividade, masculinidade tóxica e patriarcal e o racismo. Na realidade, eu nem sabia direito o que era isso, tinha ouvido falar, mas entender eu nem chegava perto. Eu era muito imaturo, vivia a vida do homem padrão, saindo, bebendo, sendo machista, racista, homofóbico, e que era visto como um “menino brincando”. Acontece que têm coisas nas nossas vidas que fazem com que a gente acorde e pense: “cara, eu não posso mais ser assim”. A primeira coisa foi quando eu passei a trabalhar no terreiro de umbanda. Eu pensei comigo: “se eu vou passar uma mensagem de melhora, eu preciso viver essa melhora”. Nisso eu mudei pra caramba, nem que fosse da boca pra fora, pois a religião sempre foi muito importante para mim e eu agora estando dentro do terreiro a coisa ficou mais séria, pelo menos para mim mesmo. A outra coisa e a mais impactante foi a chegada do meu filho a quem tanto amo, João Pedro, conhecido pelos ouvintes do Tricô como Jeipi.

O processo de me tornar pai pra mim foi bem coisa de filme mesmo, até ver ele saindo eu meio que não tinha me ligado tanto, a ficha não tinha caído, sabe? Não vou contar tudo, vou me ater nas mudanças. Eu continuava vivendo minha vida normal, continuava tomando cerveja nos finais de semana, vendo minhas séries, até que um sábado eu me sento na sala pra ligar a TV e a Day me chama – eu já imaginava o que era, a bolsa rompeu e com ela o antigo eu estava começando a se despedir. Foi aquela ansiedade, ela calma e preparada como sempre e aí tudo deu certo no parto e ele estava entre nós. Tive sorte de ter uma boa licença paternidade, perturbei a doula quando ela teve dificuldades na pega, mas alguns serviços eu não pude largar totalmente e nisso em um dos meus deslocamentos eu penso “poxa, eu queria voltar a ouvir podcasts” e eis que eu acho um tal de Tricô de Pais, um episódio em que o Thiago Berto estava pistola com seus amigos… me conquistaram na hora! Logo depois, foi o episódio de masculinidade tóxica, olha aí um dos assuntos que eu falei antes. Cara, o Fred estourou minha cabeça e me fez lembrar das chacotas que eu fazia do paizinho vírgula, típica coisa de machão que, mesmo em busca de textos sobre paternidade, não pode confiar em outro cara que estava dando uma mão virtual de apoio. Faço questão de contar isso aqui, pois essa ficha caindo foi o início da minha viagem de mudança, tanto que agora eu tô escrevendo aqui. Como o mundo dá voltas, não é? E olha que tem gente que diz que a terra é plana, rsrsrssr. Eu assumi que para eu ser um bom pai pro Jeipi eu ia ter que melhorar como pessoa. Eu não queria criar um homem machista, LGBTfóbico e racista, e eu tenho plena consciência que eu sou uma pessoa assim. Nisso fui atrás do conteúdo do Tricô, AfroPai e mais uma penca de podcasts que hoje eu tenho orgulho de dizer que apoio e ouço com muito carinho, como o Benzina e o Hora Queer (antigo HQ da Vida).  Estes podcasts me fizeram ouvir as vozes das mulheres dos negros, das mulheres negras e da comunidade LGBT.

Mas é natural que eu não melhorei só com podcasts, eu tive que passar por terapia. Eu tinha uma neura de que eu não era tão bom quanto os caras que eu conhecia, eu não era um bom guitarrista, não era faixa preta, não tinha um emprego em que ganhasse tanto e nem fazia carpintaria… do que o João iria poder se orgulhar? Fui lá eu pra terapia, descobrir-me, pois eu nem sei direito quem eu sou, e faz parte do caminho isso né? Eu descobri algumas coisas que eu nunca iria imaginar, como o fato de eu ser uma pessoa que busca aprendizado, mas que passei a vida toda dizendo que odiava estudar, vide os podcasts todos, né? Eu descobri que eu sou uma pessoa que ouve as outras e que é capaz de ser gentil e que isso seria muito mais do que qualquer coisa concreta para oferecer ao meu filho. Sempre que eu faço uma gaivota com papel de encarte de mercado e jogo com ele, giro um pedaço de ioiô como se fosse um pião e ele fica maravilhado eu vejo que é isso que eu tenho para dar e que dinheiro nenhum pode comprar. E por isso eu deixei um dos meus trabalhos para ficar com ele quando a Day saiu da licença.

Neste tempo, eu estudei muito, aprendi muito e estou até cursando uma faculdade a distância de pedagogia, aprendendo muito sobre ele e sobre uma das minhas bandeiras, a educação. E aí, querides leitores, eu vou voltar pra problematização. Eu me descobri um cara de humanas, se é que faz sentido caracterizar isso, descobri que eu usava essa palavra errado. Eu tomava problematizar da mesma forma errada que se toma o termo lacração, que eu não vou comentar aqui por não estar no meu lugar de fala. Problematizar não é ser chato e estragar a festa dos outros, é na verdade o contrário de naturalizar, saber olhar uma questão tida como natural e pensá-la criticamente e colocar isso em debate. Por isso que agora eu me identifico como homem cis, branco e heterossexual, porque agora eu sei que isso não é um padrão, é uma característica minha. Ouvindo relatos de LGBTs eu me pus a pensar como todes precisam se apresentar como gays, lésbicas, bi, trans ou qualquer outra coisa, quando a gente hetero é hetero e nunca pensou nisso, já que é normal né?

Pois é, agora eu estudo mais, bebo menos, tive uma recaída, mas estou voltando a parar de fumar e sou vegetariano. Eu assisto menos séries e tv, pois tenho menos tempo, mas estou aprendendo a gerenciar para continuar curtindo as coisas que eu gosto, afinal o antigo Angelo se foi, mas a minha individualidade existe e eu preciso me reencontrar com ela aos poucos e fazer tudo melhor e com mais significado.

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