Muito se fala em comportamento, ou melhor, bom comportamento. É um dos objetivos principais na criação tradicional de filhos: que eles sejam bem comportados, obedientes. Por causa disso, acabaram sendo popularizados os métodos de adestramento de bebês nas últimas décadas. As pessoas chamam de behaviorismo, por causa do termo original em inglês behaviorism. Acho que chamar de behaviorismo faz com que o peso negativo seja menor que adestramento, não?
De qualquer maneira, esse post não tem a intenção de fazer uma análise deste modelo na Psicologia. É mais um convite para refletir algo que vem habitando os meus pensamentos: será que eu realmente quero que o meu filho seja comportado? Por que se elogia tanto um bebê ou criança comportada?
Antes disso, precisamos tentar nos afastar do micro-universo da criação dos nossos filhos e ter uma visão do panorama geral. Não que isso seja uma verdade absoluta, mas crianças comportadas tendem a ser adultos comportados. Esses adultos comportados são aqueles que podem se ver em um papel um pouco mais passivo, em relação à vida. Ou seja, assim como aprenderam quando eram crianças, perpetuam o comportamento condicionado de obedecer ordens e regras sem questionar. Mas preciso deixar bem claro que não estou generalizando, até porque exceções existem e graças a elas nós conseguimos evoluir como sociedade.
Eu vejo por mim mesmo, porque não sou um cara de conflitos, não sou de brigar tanto pelos meus direitos. Claro que hoje, depois da paternidade, brigo muito mais do que no passado. Mas ainda assim não é muito, não tanto quanto eu gostaria que fosse. É uma dificuldade mesmo, sabe? E sinto claramente que isso foi algo que veio desde pequeno, quando eu tinha que obedecer por obedecer.
Muita gente pensa que se um pai não bate no filho já é perfeito, que já dá uma disciplina perfeita. Não. Um pai ou mãe que não bate no filho está apenas demonstrando o mínimo de respeito pelo filho. Há muito mais do que isso, e isso faltou na minha criação. Aprendi que não valia a pena questionar minha mãe sempre que ela era controversa.
– Eu fumo pra você não fumar.
– Eu bebo pra você não beber.
– Respeite a sua mãe.
– Porque sim.
Por que? Como assim? Que tipo de explicação é essa? Hoje, vejo como eram absurdos esses discursos, mas quando criança, eles têm um poder gigantesco em minar a confiança e identidade da criança. Aprendi que discutir isso não valia a pena, e tenho essa dificuldade até hoje. E é engraçado, porque consigo conversar e discutir sobre criação de filhos com diversas pessoas, mas quando se trata de discutir sobre criação com apego com a minha família, tenho bastante dificuldade em fazê-lo. Parte por causa dessas travas que existem desde crianças e que ainda estão sendo quebradas, parte porque expor as minhas ideias pode parecer que eu esteja criticando e rejeitando a maneira que fui criado.
Mas criar um filho é isso mesmo, né? Essa avaliação constante de como foi a sua criação, com o objetivo de questionar para que você não faça a mesma coisa com o próprio filho. É um exercício importantíssimo na maternidade e paternidade. Isso é o que vem povoando os meus pensamentos, principalmente com o Dante crescendo com essa velocidade alucinante (ele já tem quase 11 meses!) e logo, logo, a maneira que iremos discipliná-lo começará a ser muito questionada. Seja por ele como por nós mesmos.
Foi então que eu me dei conta de que eu não quero que o meu filho seja comportado. Não no sentido popular da palavra, daquela criança que obedece os pais, não faz nada de errado, não faz perguntas demais e que tem respeito pelos pais. Aquele respeito que fica ali, no limiar do medo. Mas também não confunda isso com permissividade, não se trata disso. Trata-se de ver as coisas sob uma nova perspectiva: eu não sou melhor que o meu filho, não sou superior. Não há uma hierarquia, há parceria, amor e afeto. Descobriremos as respostas todos juntos, como família.
Eu quero meu filho livre.
Eu quero que ele questione.
Eu quero que ele me ponha em situações embaraçosas sempre que eu for controverso.
Mas eu sei que não há criação perfeita, nem pais perfeitos, nem filhos perfeitos. Portanto, quero que pelo menos ele seja mais livre do que eu.
9 comentários em “Por Que Não Quero Que Meu Filho Seja Comportado”
Olá Thiago!
Estou seu lendo seu texto 07 anos após ser postado. E me veio a curiosidade, de como foi até aqui com seus filhos com este olhar que você se mostrou preocupado na educação? Sou estudiosa do comportamento humano e estou adentrando neste mundo para atuar com um movimento educação com mais amor e respeito ao ser. Um abraço!
Oi, Marli, tudo bem?
Lembro de ter escrito esse texto como se fosse hoje, porque ele é ainda muito real para mim. Meus filhos continuam sendo extremamente empáticos e respeitosos, mas não por causa do “bom comportamento” e sim por conta da relação de vínculo afetivo seguro que viemos construindo todos os dias!