Grupos de apoio são realmente fantásticos. Além de ajudarem você a ter força para seguir um determinado caminho, ainda permite que você conheça pessoas incríveis. Foi o caso do Ishtar, grupo de apoio à gestação e parto. No Ishtar, tive a oportunidade de conhecer um cara muito bacana e também um pai desses de dar gosto, o Glauber. Lembro que era uma reunião sobre relatos de parto e ele tinha ido sozinho, mas no momento que começou a contar como foi o parto domiciliar do primeiro filho, saquei na hora: era um dos relatos do livro Parto com Amor!
O tempo passou, o meu bebê nasceu e o dele também. E num grupo de Facebook, ele postou um texto que havia escrito sobre como foi a chegada da paternidade. Na época, nem pensava em escrever para um blog, mas no momento que a ideia do Paizinho, Vírgula! começou a povoar a minha mente eu já sabia qual seria o meu primeiro post convidado.
Paternidade é a Chegada de um Elefante
por Glauber Piva
Que ninguém duvide: paternidade é construção diária, descoberta que ultrapassa os limites da gestação e as obviedades várias. A maternidade, pelo o que percebo, nasce mais cedo. É percepção que se inicia física: a menstruação interrompida, os enjôos insuportáveis, o peito endurecido, a barriga que cresce, a pele bonita… são mudanças no corpo e nas relações em sociedade. Tudo muda quando chega uma grávida. Todos mudam quando a vida se anuncia por uma mulher.
A paternidade é diferente. O ultrassom se apresenta e o homem vê, chora, ri, mas ainda não sabe o que sente, não entende o que passa. De exame em exame, comporta no seu dia-a-dia mudanças radicais. A mulher que embarriga, os humores que se alteram, os cuidados que redobram, os assuntos que mudam e, principalmente, o mundo que se enche de descobertas e de informações que vão inundando o imaturo macho de responsabilidade projetada. Mas isso pode ser embelezado por lágrimas e palavras e fotos e carinhos, mas ainda não é paternidade.
Ela é construção lenta. A gravidez é o período das fundações. É determinante para a solidez do edifício, mas ainda não preenche entendimentos. Vem o primeiro choro, a primeira fralda, as noites de pouco sono, as belezas da convivência. E um pai vai nascendo aí.
A mãe já está ali há tempos, plena. Já sentira no corpo a vida se renovando e, agora, contempla sua cria continuando seu corpo a partir de seu peito. Por um tempo, serão um, ou quase-mais-que-um. Já o pai ainda tenta entender o que acontece. Nos primeiros meses oferece carinho e se põe de assessor. Ajeita a poltrona de amamentação, arruma o berço, compra coisinhas e oferece o colo nos intervalos, com intensidade e paixão. Mas, enquanto faz tudo isso, ainda luta por seu espaço, luta por entender sua nova vida.
O corpo onde se deleitava agora tem outro imperador. Que o homem lhe contemple pelas frestas do tempo, pelo cantos do desejo. Devagar e generosamente.
O filho, que sabe ser seu, ainda não o descobriu totalmente e nem ele, que faz um monte de coisas, conseguiu transferir para seu corpo o que sua cabeça já sabe. Paternidade é conhecimento que vira sabedoria aos poucos.
Essa relação pai e filho vai se construindo devagarzinho. No início são dois seres igualmente indefesos. Precisam se entender e se dispor a compartilhar. O entendimento e a cumplicidade vêm aos poucos, mas a tarefa da partilha é coisa pra gente grande. É preciso mudar de ponto pra que a vista se acomode e o novo seja leve.
Para superar fragilidades, só tem um jeito: muita dedicação. E aos poucos tudo vai se encaixando. Um dia, vendo um filme, o homem chora pensando no futuro da família. No outro, meses depois do parto, divide com a mulher um segredo. “Acho que só agora começo a entender esse lance de ‘ser pai’. Nosso filho é tão lindo…”
Eu tenho várias lembranças desse processo e sei que ele ainda vai longe. A gravidez foi uma longa viagem. Eu aprendi muito. Aprendi milhares de coisas que não sabia e que me ajudaram muito a me reorganizar. Mas um dia inesquecível foi quando o Théo tinha sete meses e, pela primeira vez, estando no colo da mãe, pediu para vir para o meu. Acho que neste dia eu virei pai de verdade.
Parir não é via de mão única. Quem pare, se pare também. Quem acompanha vai sendo parido aos poucos. Grávidas nunca estão grávidas só de um. Sempre são pelo menos dois: grávidas de outro, grávidas de si. Afinal, parir é partir, é romper, é chegar.
Com o pai a gravidez é diferente, é gravidez de bicho grande. Quase nunca um pai é partido no parto, como um ovo quebrado que não se cola jamais. Um pai nasce devagar, como elefante, cujo tempo é rarefeito: vem lentamente, ocupa os espaços e toma conta de tudo. Um pai também é partido, mas demora bem mais pra chegar.
3 comentários em “Post Convidado: Paternidade É A Chegada De Um Elefante”
Nossa, mais texto lindo! Parabéns!
que texto lindo!
😉