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Puerpério e comunidade: como ajudar as mães nesse momento tão delicado

"Puerpério é o período de fusão emocional do binônimo mãe-bebê após o parto que pode durar 40 dias, 3 meses, 6 meses ou até 2 anos, cada mulher tem seu tempo. Ok, mas o quê torna o puerpério um momento tão delicado?"

A gente passa nove meses organizando o enxoval, o quarto, a mala da maternidade, lendo sobre o parto (o que eu acho muito válido e importante) mas não nos atentamos, em muitos casos, ao puerpério. O puerpério é punk. É uma bomba de hormônios que, por mais que a gente leia sobre e faça cursos, nunca estaremos realmente prontas para ele. Não que ler sobre esse processo seja desnecessário, muito pelo contrário: é de extrema importância, mas ter ciência que esse é um período completamente imprevisível (assim como o parto) pode torná-lo um pouco mais administrável.

Puerpério é o período de fusão emocional do binônimo mãe-bebê após o parto que pode durar 40 dias, 3 meses, 6 meses ou até 2 anos, cada mulher tem seu tempo. Ok, mas o quê torna o puerpério um momento tão delicado? Nesse período a puérpera (mulher que está no puerpério) passa por várias transformações não só corporais, emocionais e psicológicas como também no estilo de vida e tem de lidar com, por exemplo:

  • O coquetel de hormônios em que seu corpo está embebido;
  • Amamentação;
  • Pressões sociais;
  • Depressão pós-parto
  • Solidão.

Logo após o parto, principalmente quando respeitadas, as mulheres são apossadas por um sentimento de felicidade e euforia e, em muitos casos, podem se sentir poderosas, como verdadeiras leoas. Enquanto isso, aguardam a descida do leite que pode acontecer três dias após o parto, em caso de parto normal, ou mais em caso de cesárea. Mas não há pressa, não há porquê se preocupar com a descida do leite: ele chegará e o colostro é um alimento poderosíssimo.

O ideal é que o bebê tenha contato pele a pele com a mãe assim que nascer e que o seio seja oferecido ainda na primeira hora de vida, mas uma amamentação bem sucedida ainda é possível caso isso não aconteça. Tenha em mente que amamentar, apesar de fazer parte da nossa natureza como mamíferas, não é algo simples nem automático e alguns problemas podem aparecer pelo caminho. Se necessário, a puérpera pode receber ajuda gratuita das enfermeiras no Banco de Leite da sua cidade ou contratar uma consultora em aleitamento materno. Mesmo com a ajuda de profissionais, infelizmente algumas mulheres não conseguem amamentar, mas isso, claro, não as impede de construir um vínculo com sua cria. Amamentação é muito importante, mas não é régua para medir o amor da mãe.

Dias após o parto, os hormônios baixam e as puérperas podem ser tomadas por alguns sentimentos melancólicos ou por crises de choros que desconhecem a razão. Esse fenômeno, conhecido como Baby Blues, não é tão raro, mas é passageiro. Se persistir, fiquem atentos aos seus sentimentos e procurem ajuda psicológica, pois pode ser uma depressão pós-parto.

Depressão já é um tabu por si só, com um recém-nascido nos braços mais ainda. “Como assim estou triste se tenho minha cria saudável nos meus braços? Que tipo de mãe eu sou?”, pensamentos como esses podem invadir a mente da mulher, mas saiba que isso não a torna uma mãe horrível nem quer dizer que ela não ama a sua cria. Aliás, pode ser que a puérpera não sinta aquele amor avassalador que tanto ouvimos falar quando sua cria nascer, nem no dia seguinte, e está tudo bem. Amor é uma construção e manutenção, inclusive o nosso pelas nossas crias. Aprendemos a amá-las a cada choro acolhido, a cada fralda trocada, a cada noite mal dormida, a cada conquista alcançada.

Já vivi em depressão e tinha um grande medo de passar por uma depressão pós-parto. Não queria de maneira alguma viver aquela situação novamente, muito menos com um bebê no colo. Pensamentos que me incomodavam, que não queria ter e muitas vezes me tiravam a paz tomavam a minha mente todos os dias. Conversava com meu companheiro, que sempre me ouvia e acolhia meus sentimentos sem nunca duvidar da minha capacidade de cuidar da cria, e achamos melhor que eu tivesse um acompanhamento psicológico. Atitude que fez toda a diferença: os pensamentos foram embora com o tempo e pude tratar outros temas relacionados à maternidade, inclusive uma segunda gestação e puerpério.

Por mais que todas essas situações sejam imprevisíveis e só saberemos o que acontecerá no momento, podemos nos preparar para o puerpério durante a gestação combinando com a família, parentes ou pessoas amigas como cada um pode nos ajudar: seja com comida congelada, limpando ou arrumando a casa, fazendo as compras de supermercado ou feira, lavando roupas ou simplesmente fazendo companhia nesse momento que nos é tão solitário.

Substituir as tradicionais fraldas ou adicionar uma lista de ajuda ao “Chá de bebê” pode ser uma ideia democrática, assim cada pessoa poderia se responsabilizar pela atividade que lhe é mais confortável. O puerpério é extremamente cansativo, mesmo quando a única atividade da puérpera é cuidar do bebê, receber esse auxílio permitirá que ela tire algumas sonecas durante o dia tranquilamente. A propósito, durma sempre que possível: de manhã, de tarde ou de noite.

Por mais que a figura paterna tenha tempo disponível para realizar todas essas tarefas, aceitem ajuda das amigas e dos amigos, pois se ele (ou ela) cumprir o papel que lhe cabe estará extremamente cansado (cansada) por ter passado a noite em claro ao lado da recém-mãe. Por falar em sono, é completamente normal um recém-nascido não dormir a noite toda. É normal também que ele chore, não esqueça que é através do choro que os bebês se comunicam. Cada bebê é único e a mãe também, não comparem uma mulher que voltou à academia com 45 dias de puerpério com uma que passa a maior parte do dia de pijama, nem o bebê que acorda de hora em hora com o que com dois meses de vida já dorme a noite inteira.

É possível também que a puérpera não queira a presença ou ajuda de algumas pessoas próximas. Para evitar situações desagradáveis, recomendo conversar com elas ainda na gestação ou escrever uma mensagem depois do nascimento do bebê como, por exemplo,

“É com muita alegria que anuncio a chegada do meu bebê. Ainda estamos nos conhecendo e preciso de um tempo sozinha com ele. Assim que me sentir pronta para receber visita lhe aviso”.

Querer ficar no ninho apenas lambendo a cria é um sentimento muito comum, principalmente quando queremos fugir dos pitacos. É importante respeitar o tempo da mulher, mas também que ela não se isole. Se não há uma rede de apoio por perto ou pessoas que lhe façam bem, participar de um grupo de mães, com pessoas empáticas e que passam o mesmo que ela, pode fazer toda a diferença.

O puerpério é terra desconhecida até chegar lá. Passei por dois e cada um foi uma experiência diferente: no primeiro quase tive uma depressão pós-parto, enquanto que no segundo minha maior dificuldade foi as tais cólicas. Se passasse por um terceiro, tenho certeza que seria diferente desses dois. Cada puerpério é único e a mesma mulher passa por seus puerpérios de maneiras distintas.

Demorei um parto, um puerpério, sinais de depressão pós-parto e dois anos para entender que não consigo nem posso dar conta de tudo sozinha e que pedir ajuda não me torna uma mãe menos dedicada. Ao contrário disso, essa comunidade, além de fazer bem para mim, faz às crias, pois como bem diz o provérbio africano: é necessária uma vila inteira para se criar uma criança. Aceitar ajuda de pessoas queridas pode aliviar suas obrigações, mas confie: você é capaz de cuidar do seu bebê.

Este texto foi revisado por Nádia dos Santos Aguiar.

Taís Weilandt

Taís Weilandt

Sou a Taís, feminista, matemática, casada, mãe de duas crias, doula e facilitadora de aleitamento materno. Acredito que acolhimento, empatia e respeito são a base de qualquer relacionamento.

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