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Quando os Filhos Começam a Enrolar

"De repente, seu filho aprende a enrolar você. E enrola você para tudo: banho, comida, arrumação de brinquedos. Como lidar com isso de forma respeitosa?"

Ter filhos é realmente uma coisa maravilhosa. Eles crescem, ganham novas habilidades e, se você estiver por perto, pode acompanhar tudo isso com seus próprios olhos. Mas nem tudo são flores, né?

Junto das habilidades novas vêm os novos desafios. E, no auge dos seus 4 anos, Dante começa a apresentar uma habilidade muito especial: a de nos enrolar. A coisa começa a acontecer sem aviso: um belo dia, você percebe que seu filho começa a enrolar você para fazer qualquer coisa. Bem, não exatamente qualquer coisa, mas as coisas que são chatas para ele.

Foi assim que eu descobri algo que me irritava horrores, que é justamente quando você fala mil vezes a mesma coisa, pede urgência, pede para fazer, e quando vira para o outro lado, seu filho está lá, do mesmo jeito que estava antes, enrolando você na maior cara dura.

Eu sei, eu sei, é difícil não levar isso para o lado pessoal e mais difícil ainda não perder a paciência. Ainda mais à noite, quando você já está muito cansado. Eu também já perdi a paciência algumas vezes, e quando isso começa a acontecer com alguma frequência, eu preciso parar para pensar no que está acontecendo de errado.

O que eu percebi é que, na verdade, eu tenho falado muito esse tipo de coisa:

— Bora, Dante.

— Dante, vamos!

— Dante, faz logo isso!

E, claro, ele não faz. Ou demora séculos para fazer.

Mas será que o tempo dele é igual ao meu? O fato de ele demorar séculos pode indicar que o meu tempo talvez esteja sendo muito mais rápido que o dele. Talvez eu esteja pedindo muita urgência para ele, em muitas coisas. E, se isso acontece, é claro que ele vai achar tudo chato e não vai colaborar em nada mesmo.

Eu só consegui entender isso depois de um tempo, e depois de perder a paciência algumas vezes. Mais vezes do que eu gostaria. E só nessas horas que percebemos que perder a paciência não é o jeito mais respeitoso do mundo de educar os nossos filhos, né?

Se pararmos para pensar, e só dá para pensar nisso quando você não tem que resolver problemas do dia-a-dia com filhos, ou quando já está completamente exausto no fim do dia, quando eles dormem, podemos entender que os nossos tempos são realmente diferente dos tempos dos nossos filhos. Isso, por si só, não é o problema, mas tudo começa a complicar quando passamos a maior parte do dia tentando impor o nosso tempo em cima dos nossos filhos.

Eu entendo que a vida, muitas vezes, traz alguns limites de tempo que não permitem ser tão flexíveis, mas será que todas as vezes que pedimos urgência aos nossos filhos eram realmente casos de urgências enormes? Eu pensei sobre isso e vi que muita coisa que eu pedia urgência nem era tão urgente assim.

Por exemplo, será que o banho tem que acontecer sempre exatamente na hora que eu declaro que está na hora do banho? Será que não podemos combinar que o banho acontece daqui a 15 minutos, dando um tempo para que os nossos filhos concluam (ou tentem concluir) o que estão fazendo?

De qualquer forma, numa noite dessas eu briguei com ele por causa da enrolação na hora do banho. E, na hora de dormir, eu e ele conversamos sobre tudo. Pedi desculpas por ter perdido a paciência, expliquei que eu ficava bravo quando ele não me ouvia, mas que também entendia que ele ficava triste quando eu ficava bravo.

E foi durante essa conversa que me veio uma ideia:

— Filho, já sei. Vamos fazer um combinado?

— Sim!

— Vamos combinar uma palavra especial, tá?

— Tá.

— Olha, sempre que eu falar algo que é muito importante, eu vou dizer: “Dante, atenção”. E sempre que eu falar “atenção”, é para você ouvir o que o papai está falando, tá?

— Combinado!

Pronto, esse passou a ser o nosso sinal. Sempre que existe alguma coisa que é urgente, e que eu preciso que ele me ouça, foque, ou faça o que estou pedindo, eu digo:

— Dante, atenção.

Ele para, olha para mim e entende que aquilo é importante. É o nosso código especial. E a chance de ele me enrolar com aquela tarefa específica é muito, mas muito baixa.

Dessa maneira, ajudamos os nossos filhos a focar no que é importante de verdade. Com tanta informação no mundo de hoje, e tantas demandas urgentes, esse tipo de ferramenta ajuda a organizar a cabeça dos nossos filhos. Se para nós, adultos, já é difícil priorizarmos o que é importante, imaginem para uma criança de 4 anos.

Espero que isso ajude você também, mas é importante avisar que não é porque um código especial funciona em alguns momentos que você possa usá-lo para tudo, cinquenta vezes por dia. A força do código especial está justamente no fato de não acontecer toda hora, senão você acaba diluindo a “urgência” dele.

Por enquanto está funcionando para mim, mas isso também não significa que irá resolver todos os seus problemas (e os meus) com o “filho enrolador”. Pode ser que ajude, mas pode ser que, em alguns casos, não ajude também. E, se não ajudar, deixe um comentário aqui no post, para conversarmos e pensarmos em outras estratégias!

Até a próxima habilidade desafiadora aprendida! Pelo menos, quando o Gael aprender a enrolar, já estarei craque em lidar com enrolação de filhos.

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

8 comentários em “Quando os Filhos Começam a Enrolar”

  1. Pedro Souza Pinto

    Thiago, a Luísa, minha filha de 2 anos e 10 meses, já enrola há pelo menos uns 6 meses hehe. Por sorte eu sou a paciência em pessoa. Algumas vezes já funcionou isso de pedir atenção, mas percebi que ela ainda é muito pequena para entender esse tipo de combinado de longo prazo.
    Em compensação, o de curtíssimo prazo funcionou bem em algumas situações, principalmente a do sono. Explico: ela estava fazendo de tudo para esticar a hora de dormir. Era comum ela deitar e, dali 5 minutos, pedir pra fazer xixi. Deitava de novo e mais 5 minutos pedia pra fazer cocô. Deitava de novo e gritava que queria outra garrafa de água, ou que abrisse ou fechasse a cortina e por aí vai. E estava claro que ela queria ficar mais um pouquinho com papai ou mamãe.
    Então um dia, sentei pra ler a historinha com ela como de costume . Quando terminamos falei “vem aqui, vamos conversar”. Sentei-a no meu colo: “olha, presta atenção no papai: agora, a gente vai no banheiro, fazer xixi e cocô, tá?” “Tá!” “Depois a gente volta pro quarto, apaga a luz e papai fica aqui um pouquinho, tá? papai não vai trocar a garrafa de água, não vai pegar outro travesseiro, vai só ficar quietinho aqui. E você também tem que deitar e ficar quietinha, senão papai fica cansado e não consegue ficar aqui tá?” “tá!”
    Ela foi no banheiro, depois voltamos e ela começou a querer enrolar de novo. Mantive a firmeza e não atendi nada. A partir da segunda noite e desde então, depois da historinha é ELA quem pede pra gente conversar hehe. Ela gosta porque sabe que “conversar” neste caso significa sentar no colo bem pertinho e ter toda a nossa atenção. Eu repito tudo, e ela segue direitinho. Fica quietinha e dorme em menos da metade do tempo que demorava antes.
    Outra coisa que faço é dizer que vou esperar ela acabar o que está fazendo (se vejo que vai ser rápido) e aí simplesmente empaco do lado dela, sem dizer nada. Apenas fico parado olhando. Eu disse que ia esperar é exatamente o que estou fazendo. Percebi que se falo que vou esperar e vou fazer outra coisa ela entende que ela também pode fazer outra coisa. Mas se fico lá parado geralmente ela termina o que está fazendo e imediatamente vem fazer o que pedi.
    Acho que é negócio é basicamente isso. Entender a necessidade da criança (de presença, de atenção, de terminar o que começou etc) e a limitação de compreensão sobre tempo ou coisas abstratas e implícitas (tipo, dizer que vai esperar mas não ficar literalmente esperando).
    Ah, foi mal o textão, mas é a criação da Luísa tem sido uma vivência ótima de que adoro falar desde o 1º dia (e tá chegando outra neném, aliás!)
    Abraços
    Pedro

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