Chovia muito, mas eu estava decidido. No pouco tempo que tinha de intervalo de almoço no trabalho eu comprei uma bicicleta para o Frederico. Presente de 5 anos para o filhote. Depois de muita pesquisa, sabia o modelo e estava pronto. Malabarismo com guarda-chuva, sacolas e porta-mala pequeno, mas tudo certo. Guardei a bicicleta em casa e voltei para o trabalho.
O Frederico tem um bom equilíbrio. Brinca de pular num pé só, se arrisca jogando com o peso do corpo. Além disso, ele usava bicicleta de equilíbrio, que é sem pedal, quando era menor, e conseguia se manter com as perninhas pro ar por um bom tempo enquanto a bicicleta embalava. A Carol, minha sábia esposa, sugeriu que a gente estimulasse o Frederico a usar a bicicleta sem as rodinhas. Pensei, concordei e combinamos desse jeito. Por conta disso, tirei as rodinhas de apoio do presente dele. Guardei em uma sacola no meu quarto.
Quando chegou da escola, ainda estava chovendo. Deixar pra depois? Nem pensar. Frederico quis andar de bicicleta dentro de casa, mesmo. Deu suas primeiras pedaladas. No entanto, não era como a outra bicicleta que ele tinha. Ficou frustrado pela necessidade de um apoio para não cair. Na bicicleta de equilíbrio isso não era necessário. Ele ia por conta própria, na velocidade que queria, para onde bem entendia.
Um pouco depois, ele encontrou as rodinhas. Pediu com todas as forças para que eu as colocasse na bicicleta. Perguntei o motivo, e entre choros e pedidos, consegui entender que era para ele ter maior autonomia. Não queria que eu ficasse ajudando a pedalar na super bicicleta de criança grande que ele recém tinha ganho de presente.
Eu conversei bastante com o Frederico. Tinha certeza que ele era capaz de aprender a pedalar sem usar as rodinhas. Disse que eu confiava que ele conseguiria após treinar comigo do ladinho dele. Sem as rodinhas, era possível andar mais rápido e com maior agilidade. Ele ficou chateado mesmo assim, e passou. Procurei deixar claro que se ele tentasse e mesmo assim quisesse usar as rodinhas, não tinha problema, eu colocava de volta. Não queria forçar a barra de forma alguma.
Brincamos algumas vezes para que ele aprendesse a andar por conta própria. Foi divertido e cansativo. Minha coluna que o diga (ai!). Ontem, depois de um tempo sem pedalar e de uma semana inteirinha de chuvarada, resolvemos levar Frederico de novo para a pracinha. Ele queria muito retomar o contato com a bicicleta.
Foi quando aconteceu. Tentou uma, tentou duas…lá pelas tantas, Frederico só precisou de um impulso para seguir sozinho! Pouco depois, conseguiu sair do chão sem a minha ajuda. Minha esposa e eu vibramos (e choramos).
Tal pai que empurra o filhote do ninho para voar, soltei o selim, e ele foi. Daqui pra frente, e pra sempre. Essas asas que despontaram vão oferecer o vento no rosto, a autonomia e a liberdade.
Essas mesmas asas talvez levem Frederico pra longe da gente. E ele vai sempre saber que pode voltar e descansar dos vôos sem fim.
Ser apoio para as primeiras pedaladas de um filho é inesquecível. Imaginava como seria esse momento, mas a realidade desintegrou a ficção: foi muito melhor do que eu idealizei. Foi de repente, sem expectativa. Frederico chegou lá e impressionou. Vimos a motivação dele, demos corda, e ele levitou na bicicleta.
Vi até um raio de sol seguindo o movimento, descobrindo aquela felicidade toda, desenrolando e iluminando o caminho. Talvez a luz de quem quer bem o nosso filho.
Sabe aquele sorriso que escapa dos lábios, expande até a ponta das orelhas e voa pelo ar? Frederico está assim.
E nós também.