Como você já deve saber, meu filho, Dante, nasceu em um emocionante parto domiciliar (caso não saiba, dê uma lida em De Quando Dante Nasceu – O Parto Domiciliar Visto Pelo Pai), mas para isso, precisamos nos informar e tomar decisões empoderadas, para que tudo ocorresse da melhor maneira possível, e que os riscos sempre fossem conhecidos e mitigados.
Tivemos tanto cuidado, tanta dedicação, tanta determinação para o parto, mas e agora? Como podemos garantir que a criação do nosso filho tenha os mesmos princípios de amor, respeito e liberdade que vínhamos garantindo até o parto? É aí que entra a Criação com Apego (tradução do inglês, Attachment Parenting). Foi a minha esposa quem encontrou a criação com apego pela primeira vez e, aos poucos, fui sendo conquistado pelas ideias fantásticas, e ainda, tão simples, para uma criação que, infelizmente, é pouco conhecida Brasil. Por outro lado, por tratar-se de uma criação mais intuitiva, felizmente é praticada por muitos pais, sem ao menos saberem que chama-se criação com apego. Mas quem se importa com definições e enquadramento a modelos?
Antes de engrenarmos no assunto, gostaria de declarar algo a você, que talvez nunca tenha tido contato com humanização do parto e criação com apego: eu já estive do seu lado. Eu já vivi na Matrix (leia mais em A Pílula Vermelha e Saindo da Matrix), e nunca imaginei que estaria praticando esses princípios hoje com a minha esposa, o que acabou despertando meu desejo de escrever este blog. Acredito que só é preciso informação e vontade de refletir sobre assuntos importantes, para que você passe a considerar a criação com apego na sua família. E assim, talvez tudo isso faça você pensar em como as coisas podem melhorar na sua família, esteja você esperando ou criando um bebê.
Esse post é muito importante, porque ele funciona como um marco zero, a partir de onde começarei a falar mais e mais sobre a criação com apego, mas sem a pretensão de propor um método mirabolante e infalível de como criar filhos perfeitos e sorridentes. Não, devemos concordar que estamos cansados destes métodos e todos os livros que falam disto. Estamos cansados de sermos apresentados a maneiras de “treinar” nossos filhos. A minha ideia é relatar como foi (e está sendo) a nossa experiência com a criação com apego e, a partir daí, você terá mais informações para decidir o que melhor se aplica à sua família, buscando mais informações.
Se você me pedir para resumir a Criação com Apego, eu diria: crie seguindo seus instintos. Claro que se eu ficasse por isso mesmo, este blog seria composto de um post com uma frase, mas na verdade, criação com apego é basicamente isso. O termo Attachment Parenting foi criado pelo Dr. William Sears, junto à sua esposa, Martha Sears, mas eles apenas identificaram esse estilo de criação através de observação, e classificaram-no em oito princípios, conforme publicado em seu livro The Attachment Parenting Book : A Commonsense Guide to Understanding and Nurturing Your Baby:
- preparação para a gestação, parto e criação;
- alimentar com amor e respeito;
- responder com sensibilidade;
- usar o contato afetivo;
- garantir um sono seguro, física e emocionalmente;
- prover cuidado com amor de maneira consistente;
- praticar disciplina positiva; e
- manter o equilíbrio entre a vida pessoal e familiar.
Lendo os princípios acima, você pode concluir que criar com apego é muito fácil e que, na verdade, os princípios são bem óbvios. Se você concluiu isto, já é um ótimo avanço! Isto é o seu instinto, lhe dando uma pequena prova de que você pode confiar nele, inclusive, para criar seus filhos. Desde os tempos em que o homem vivia em cavernas, a criação de filhos era baseada em instintos, até porque não imagino que eles pudessem escrever livros sobre como fazer seu filho dormir sem chorar, ou sobre como ele pode aprender a não depender de você.
De uma maneira geral, somos tentados a subjugar nossos instintos, o que é péssimo, pois a nossa sobrevivência enquanto espécie muito se deve aos nossos antepassados que confiaram integralmente em seus instintos. Também não acho que devemos abandonar tudo e voltar a viver em cavernas, mas apenas que, se alguma coisa lá no fundo lhe parece esquisito ou errado, principalmente na criação de seus filhos, vá com o seu instinto e não com o estranho que lhe parou no meio da rua para dizer que o que você está fazendo com o seu filho está errado.
Hoje em dia, o tempo é escasso. A modernidade e a tecnologia que, a princípio, vieram para facilitar nossas vidas, acabam nos pressionando a assumir ainda mais responsabilidades e, por incrível que pareça, temos ainda menos tempo disponível para coisas importantes do que tínhamos há 50 anos atrás. Tudo é terceirizado, inclusive a criação dos nossos filhos: temos babás, creches e toda a sorte de aparatos eletrônicos que capturam a atenção dos bebês e cuidam deles por nós. Todas as noções de carinho, segurança e proximidade vêm se tornando cada vez mais escassas para os nossos filhos. E assim eles crescem, com a noção de desapego e falta de vínculo.
O movimento de Criação com Apego busca retomar esses valores: os pais precisam estar disponíveis para os seus filhos. E eu falo de disponibilidade eficaz, pois de nada adianta você estar presente, com o seu bebê em um braço, e o celular no outro, checando como anda a vida dos seus amigos na sua rede social preferida (resolvi não dar nomes aqui, porque vai que tem alguém mais vintage por aí, que ainda usa o Orkut?). Que tal checar e curtir como anda a vida do seu bebê? Garanto que ele perceberá a diferença.
Eu sempre gosto de provar certos pontos sugerindo que nos coloquemos no lugar do outros. Então façamos assim: imagine que você é um bebê. Você não tem noção alguma do que você é, ainda não sabe o que aconteceu desde que você saiu do útero seguro e aconchegante da sua mãe, e agora você está do lado de fora. No mundo externo, com espaço demais, informação demais. Ah, sim, e sua única forma de comunicar-se é através do choro.
Agora, imagine o que você pode fazer para comunicar desconforto, medo, fome, necessidades fisiológicas, e coisas do gênero. Chorar? Exatamente, chorar! Esta é a ferramenta básica de comunicação de necessidades dos bebês. Sempre tenha em mente que o cérebro de um bebê não é desenvolvido o suficiente para ter manhas, então o que ele comunica são apenas as suas necessidades básicas.
Não pretendo entrar no mérito e discutir sobre os métodos que são amplamente difundidos para “treinar” seu bebê, mas pense comigo que, se você deixa seu filho chorar até, bem, ele parar de chorar, você não está resolvendo sua necessidade e, sim, ensinando a ele que, naquele momento, você não está disponível para atender a sua necessidade.
Voltemos ao instinto humano: isso lhe parece razoável?
17 comentários em “Sobre Essa Tal Criação Com Apego”
Eu acho que pratico essa criação com a pego antes de ter um rótulo, mas entendo que esse apego não é necessariamente deixar de falar não e dar broncas, é simples, quem ama cuida e se preocupa.
eu me pergunto,se vc não cria c/ apego cria c/ o quê….descaso,indiferença…
Acho estranho as pessoas acharem que no Brasil não existe criação com apego, e pior ainda achar que isso é um termo novo, algo pós moderno, qndo na verdade nossos ancestrais muito sabiamente já praticava.
Sou adepta da prática, aliás não vejo sentido em criar filhos de forma diferente.
Brigado 😀
Luiza, tendo alguma dúvida, é só falar!