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Ah, Mas Vai Piorar!

"Nessas minhas andanças de pai, eu acabo percebendo algumas coisas interessantes. Hoje, eu venho falar sobre a visão pessimista das pessoas sobre a criação de filhos."

Meu texto da semana passada para Os Mamíferos, onde falo um pouco sobre a necessidade das pessoas de enfatizarem os pontos negativos da criação. Como lidar com essas pessoas? Como responder?

Ah, Mas Vai Piorar!

Nessas minhas andanças de pai, eu acabo percebendo algumas coisas interessantes. Tudo bem que não ando como pai há tanto tempo assim, mas já é o suficiente para perceber algumas tendências, ainda mais quando a andança de pai é uma andança apegada. Hoje, eu venho falar sobre a visão pessimista das pessoas sobre a criação de filhos, de uma maneira geral.

Imagine essa situação: você está com o seu bebê na rua (ou no trabalho, ou na casa de alguém), seu bebê está engatinhando (ou se arrastando, ou andando) e um conhecido (ou desconhecido, ou familiar) chega para você e diz:

– Olha, que bonito, seu bebê já está engatinhando (ou se arrastando, ou andando)! Mas olha, vai piorar, hein? Você vai sentir saudade dessa época! Imagina quando ele estiver andando (ou engatinhando, ou correndo)?

Mas como assim vai piorar? Será que a mesma pessoa veria como uma melhora se o bebê regredisse em termos de desenvolvimento? Então, o discurso poderia ser melhor:

– Vixe, seu bebê está andando, né? Mas fica tranquilo que daqui a pouco melhora! Em breve ele vai estar engatinhando, depois se arrastando, depois volta para a barriga da mãe e tudo se resolve!

Por que as pessoas gostam de dizer que vai piorar? Que tipo de incentivo isso dá aos pais que, talvez, estejam passando por alguma dificuldade? Seria um incentivo para os pais entregarem o bebê para adoção? De uma maneira geral, as pessoas gostam de comentar e até enfatizar os pontos negativos da criação. Eu costumo ouvir bastante no trabalho ou na rua pais que começam diálogos desse jeito:

– Rapaz, o (insira o nome do bebê aqui) tá brabo (troque “brabo” por um palavrão).

E é claro que inícios de conversa como esse só vai levar a um:

– Ah, mas vai piorar!

Tudo bem que para a mãe que está de licença maternidade, ou um dos pais que tenha decidido ficar em casa para cuidar do filho, um bebê que aprendeu a engatinhar ou andar represente uma verdadeira maratona, e todos temos direito de ficar cansados, exaustos e reclamões. Mas precisamos tomar cuidado para que isso não vire uma rotina, pois não podemos deixar que esse tipo de visão continue sendo uma convenção para interações sociais entre pais.

Sabe, ter filhos não é um fardo. É uma das coisas mais incríveis que podem acontecer na vida de alguém, e as pessoas precisam manter essa visão mesmo quando se passa por algum momento de turbulência, seja por cólica, alguma doença, dentes nascendo, salto de desenvolvimento, qualquer coisa. Na verdade, se você se prende à ideia de que ter filhos é algo incrível, até ajuda a passar pelos momentos de turbulência.

Isso torna-se especialmente importante à medida que o bebê cresce e começa a entender o que os pais falam. Imagine quão péssimo é para um filho ouvir seu pai reclamando dele para outro adulto, porque ele é muito bagunceiro, ou birrento, ou preguiçoso, ou chorão? Dar nomes negativos ao comportamento do seu filho tem consequências pesadas em sua auto-estima e no vínculo entre pais e filhos.

Ainda assim, mesmo que você comece a se policiar para não enfatizar pontos negativos no seu discurso, você ainda corre o risco de participar de uma conversa com alguém que faça isso. Mesmo que alguém chegue para mim e fale algo desse tipo, eu sempre tento enfatizar o lado positivo. Recentemente, um pai veio iniciar um small talk paterno comigo:

– E aí, beleza? Como vai o Dante?

– Ah, ele tá ótimo. Engraçado demais, tá começando a andar segurando na nossa mão, sabe? E o seu bebê?

– Pô, o moleque não para! Sério, tá brabo… Corre, trepa na rack da TV, faz o diabo.

– Mas que bom, né? Imagina que saco se a criança ficasse sentada o dia inteiro! Que bom que ele tá com saúde e disposição para explorar o mundo!

Eu entendo que dessa maneira a gente consegue ajudar um pouco esses pais. Fazendo esses comentários sutis, talvez a gente consiga fazê-los enxergar as coisas positivamente. Eu sei que é uma coisa cultural, essa de interagir socialmente falando mal das coisas, mas isso reflete em como nós lidamos com os nossos filhos no dia a dia.

Para mim, o sentimento é um pouco diferente. Se hoje meu bebê está num determinado estágio de vida, eu frequentemente me encontro dividido entre a saudade de como ele era um bebê lindo há pouco tempo atrás, mas ao mesmo tempo super ansioso para saber o que vem por aí. Na dúvida, curto o agora mesmo.

Então, se alguém vier lhe perguntar como está o seu bebê, tente responder positivamente mesmo que você esteja passando por algum momento difícil. É um bom exercício para se iniciar!

– Ele aprendeu agora a andar. É cansativo, mas é lindo vê-lo explorando o mundo de um jeito diferente!

– Puxa, os dentes dela estão nascendo. Ela tem estado bastante sensível, mas com uma dose extra de carinho, tudo se resolve!

– Ele está passando por um salto de desenvolvimento, então está demandando um pouco mais de atenção e carinho. Imagine a confusão que deve estar dentro da cabecinha dele!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

32 comentários em “Ah, Mas Vai Piorar!”

  1. Debora Colley

    No mundo feminino é interessante que antes de engravidar a maternidade é um mar de rosas. Depois que se engravida, quando “não tem mais volta”, começa o discurso de “vai piorar”. Acho que esse pessoal quer que se viva arrependido, sofrendo, ou sei lá o que.
    Eu entendo que piora quando não se sabe o que está fazendo, quando se é inconsistente na educação do filho, quando uma hora se dá uma orientação ao rebento e na hora seguinte se dá uma orientação oposta. Daí a criança vai ficar confusa e vai “tocar o terror”, pois se não sabe qual a atuação esperada dela vai fazer qualquer coisa mesmo. Se não se sabe o que fazer para corrigir uma conduta inadequada com certeza vai piorar muito antes de melhorar. Aliás, muitas vezes se acha que conduta inadequada é aquilo que eu não quero naquela hora, sem consistência nenhuma.
    Meu filho está com 5 anos. Acho tão lindo ver o desenvolvimento dele, ver como ele está compreendendo bem as coisas, como ele está aprendendo a se divertir mas sendo empático com os outros, seja com os colegas ou com a família. Claro que não é um mar de rosas, mas aprendendo a saborear cada passo a experiência é maravilhosa.

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