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Sobre Esse Tal Amor Incondicional

"Todo mundo fala em amor incondicional, principalmente em relação aos nossos parceiros e parceiras. Mas e quanto aos nossos filhos? Onde entra?"

Todos nós vivemos falando em amor incondicional. Pode ficar atento que, de vez em quando, aparece um textão no Facebook falando sobre a beleza do amor incondicional e que, geralmente, esse amor é relacionado ao seu parceiro amoroso, ou parceira.

Ainda assim, eu percebo que poucas pessoas realmente utilizam a expressão com o sentido real dela. Amor incondicional é normalmente usado para definir um amor muito grande, um amor infinito. Mas, na verdade, amor incondicional é um amor que não aplicamos condicionantes. Ou seja, é um amor que se recebe independente do que você faça. Um amor que você não precisa merecer.

Essa definição de amor incondicional é uma definição muito boa, e cabe muito bem no contexto de criação de filhos. Foi por isso que resolvi escrever sobre como é essa coisa de amar sem condicionantes.

O amor incondicional que podemos oferecer aos nossos filhos é algo ainda raramente abordado em textos. Mas por que isso? Talvez porque existe toda uma cultura que nos diz que amar demais os nossos filhos irá estragá-los. Que não podemos dar muito carinho, nem colo, nem atenção, tampouco ouvidos, porque eles ficarão mal-acostumados e mimados. E, principalmente, porque o mundo lá fora é muito cruel, e eles precisam ser treinados para lidar com isso.

O curioso disso tudo é que, quando paro e penso sobre isso, percebo que é justamente por isso que eu quero dar carinho, colo, atenção e ouvidos para os meus filhos, para que eles se protejam nesse amor dos desafios que a vida poderá trazer a eles. Alfie Kohn, um autor que eu admiro muito, falou uma vez algo que sempre volta à minha cabeça:

 

Pense que o seu objetivo é dar ao seu filho um tipo de inoculação, proporcionando um amor incondicional, respeito, confiança, e senso de perspectiva que servirão para imunizá-lo contra os efeitos mais destrutivos de um ambiente supercontrolador ou uma figura autoritária irracional.Alfie Kohn

Se pararmos para analisar o que pratica-se tradicionalmente na criação de filhos, perceberemos que o amor está sendo condicionado a todo momento para os nossos filhos. Se eles fazem algo que consideramos errado, lá vão eles para o castigo — ou cantinho do pensamento — ficar segregados. Lá, eles recebem a mensagem invisível de que nós, pais, só os queremos por perto quando eles atendem as nossas expectativas.

Na disciplina autoritária tradicional, condicionar o amor ao comportamento é algo bastante frequente. Já presenciei, inclusive, uma criança ouvindo isso, enquanto estava tendo uma crise de choro:

— Pare de besteira, pare esse choro agora, ou eu não vou mais te amar.

De todo modo, eu não conheço o contexto daquela família, nem sei os desafios e desesperos que eles podem estar vivendo, por isso não os julgo. Mas a tradição difundida de brincar com os sentimentos de uma criança dessa maneira é um jogo perigoso. Isso pode até funcionar durante algum tempo, mas logo para de funcionar porque o vínculo fica enfraquecido. E além do vínculo, a auto-estima da criança também fica enfraquecida, afinal de contas, justamente quando a criança menos aparenta merecer ser amada é quando ela mais precisa ser amada.

O Dante, por exemplo, durante algum tempo, sempre perguntava para mim o seguinte, quando eu brigava feio com ele:

— Papai, eu ainda sou o seu amor?

Isso sempre serve como um alarme para mim, para eu me lembrar que mesmo uma criança que é sempre amada, e não recebe condicionantes para receber esse amor dos pais, ainda tem muito medo de não ser amada. É um dos maiores pânicos dos nossos filhos imaginar que seus pais não os amam mais.

E pensando nisso, eu sempre respondo dessa maneira:

— Filho, você sempre vai ser o meu amor. Mesmo quando eu ficar muito bravo com você, ou quando eu brigar, você vai ser meu amor.

Ainda assim, por incrível que pareça, são eles, os nossos filhos, as únicas pessoas que genuinamente nos amam incondicionalmente. Você pode ter dentes grandes, ser careca, estar acima do peso que você gostaria de ter, pode não estar se achando a pessoa mais bacana ou linda do mundo, mas nada disso importa para esses pequenos seres. Você pode até gritar com eles, e eles vão continuar amando você.

É claro que isso não significa que nós temos que amá-los sempre, obrigatoriamente, a todo momento. Somos humanos e tem dias que sentiremos raiva e até ódio dos nossos filhos, ou dias em que pensaremos que não os amamos. Isso tudo é normal, porque somos humanos e os nossos sentimentos são variáveis.

A grande diferença é que não usamos o nosso amor como objeto de barganha para que os nossos filhos se comportem da maneira que esperamos. Criação com apego é amor incondicional.

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

1 comentário em “Sobre Esse Tal Amor Incondicional”

  1. Fabiola Nunes Sobral

    Caiu como uma luva esse texto. Tenho brigado muito com meu filho, Sendo muito exigente. Tenho que mudar logo isso! Senão vou afasta-lo de mim. Não posso perder esse vínculo com ele. Porque eu o amo incondicionalmente!

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