Uma coisa muito bacana que vem acontecendo é a popularização do termo attachment parenting, ou criação com apego. Mas junto da popularização, há o risco da coisa virar modinha e aí tudo fica mais complicado. A modinha data as coisas e normalmente faz com que as pessoas se atenham às noções superficiais dos assuntos, pelo preço de se poder alcançar um grande número de pessoas. Tudo tem seu lado bom e ruim.
Volta e meia, vemos alguém com algumas reclamações sobre a criação com apego, típicas de desconhecimento sobre o que a coisa realmente trata. Por isso, estou escrevendo esse post, para tentar desmistificar esses enganos comuns que as pessoas fazem e que, às vezes, até as impedem de olhar para este tipo de criação com bons olhos.
A criação com apego não é um manual de regras
Acho que esse deve ser um dos enganos mais comuns. Algumas pessoas podem até evitar o uso do rótulo criação com apego para evitar se vincularem a um conjunto de regras a serem seguidas, alegando que toda a generalização tende a ser burra, mas sem se dar conta do que estão fazendo: generalizando.
Você já deve saber que a criação com apego foi compilada em oito princípios, que resumem muito bem o espírito deste estilo de criação. Mas não se trata de um manual de regras, porque você não precisa seguir todos os oito princípios para dizer que esta criando com apego. Este é o ponto mais importante para termos em mente, pois não estamos falando de um método para treinar seu filho.
Criação com apego não é um checklist. É uma maneira de enxergar as coisas.
Tudo o que a criação com apego busca, no final das contas, é estabelecer um vínculo forte e saudável entre pais e filhos. Esse vinculo é atingido, dentre outras maneiras, através do atendimento consistente e amoroso das necessidades do bebê, independente do momento da vida do bebê e do que você já fez ou praticou no passado, por quaisquer motivos.
Não precisa parir para criar com apego
Essa é uma questão muito sensível, porque muitas pessoas podem ser levadas a crer que a via de parto possa definir o modo de criação. Para manter o post no foco, vou me abster, no momento, quanto a discussão sobre as escolhas e opções de parto, mas o que importa é deixar claro que isso não impede uma mãe de criar com apego. Muito embora o princípio que trata sobre a preparação para gestação, parto e criação faça referência e incentive o parto, isso não faz com que seja um impeditivo à mãe que teve uma cesárea, por exemplo, de criar com apego.
Independente de como o bebê veio ao mundo, existe todo um novo universo que surge depois disso. E é nesse universo que os pais poderão atender às necessidades de seus filhos consistentemente, para fortalecer seus vínculos. Um bebê nascido por cesárea eletiva não obrigatoriamente estará fadado a chorar sozinho por noites sem fim, até aprender a não chorar mais de noite.
Caso contrário, se apenas as mulheres que pariram pudessem criar com apego, o que seria das crianças adotadas?
Para mais informações sobre este princípio, leia Preparando para a Gestação, Nascimento e Criação.
Não precisa amamentar para criar com apego
De maneira bem análoga ao parto, o princípio que trata de alimentar com amor e respeito, apesar de incentivar fortemente a amamentação, não exime uma mulher que, por algum motivo, esteja impossibilitada de amamentar. A bem da verdade, a Attachment Parenting International oferece, inclusive, algumas ideias para que a alimentação por outros meios sejam utilizados de maneira que o vínculo mãe-bebê ainda seja resguardado. Para maiores informações, leia Alimentando com Amor e Respeito.
Por outro lado, é importante ressaltar que a amamentação é, sim, a melhor maneira que uma mãe tem para alimentar seu filho e criar um vínculo. Há muitos grupos de apoio (virtuais e físicos) dedicados a ajudar a mulher na amamentação, porque para muitas mulheres essa não é uma tarefa nada fácil.
Questões como vacinar (ou não) e usar fraldas de pano (ou descartáveis, ou EC) não são obrigatoriedades
Estas questões sequer têm posicionamento formal da Attachment Parenting International, mas como são questões que normalmente estão alinhadas com o pensamento de alguns pais que criam com apego, podem acabar sendo confundidas e entrar no kit “crie com apego”. Fique tranquilo, você não precisa fazer Elimination Communication para participar do clubinho.
A mãe ou o pai não precisam largar o emprego e virar dona(o) de casa.
Que a criação com apego é um estilo de criação que demanda mais dos pais, isso todo mundo já sabe e concorda. Criação com apego tenta resgatar o tempo de qualidade entre pais e filhos, para promover uma relação saudável na família. Porém, isso não quer dizer que um dos pais deva ficar em casa em função dos filhos, pois isso é uma decisão apenas dos pais e deve ser respeitada.
O princípio que aborda o tema “cuidado consistente e amoroso” até fala que, em uma análise direta, se um dos pais se propusesse a ser o cuidador principal do bebê, seria a situação ideal. Mas não vivemos em um mundo ideal e poucas famílias têm possibilidade de manter um dos pais em casa. Com isso em mente, algumas alternativas são oferecidas, como incentivar a criação de vínculo entre o bebê e o seu cuidador (por exemplo, a babá), limitar a permanência do bebê em creches por um certo período de horas semanais e, na minha opinião, a dica mais importante: que os pais que ficam separados de seus filhos durante o dia, dediquem um tempo focado ao restabelecimento de vínculos, assim que estiverem de volta.
Para saber mais, leia Provendo Cuidado Consistente e Amoroso.
Então, o que eu preciso fazer para criar com apego?
Você tem aqueles oito princípios que, na verdade, podem ser encaradas como dicas práticas que ajudam pais e filhos a terem um vínculo forte e saudável. O que você precisa fazer é avaliar tudo o que a criação com apego apresenta e, então, aplicar tudo aquilo que você entende se adequar melhor na realidade da sua família.
E talvez o mais importante: entender que não existem pais perfeitos.
18 comentários em “Desmistificando a Criação com Apego”
Mariana Amaral hahahaha 😉
Muito esclarecedor, adorei.
Maravilhoso o post muito bem escrito. Adoei!
Atenção para o "vc não precisa praticar EC para participar do clubinho"! Rindo horrores
Excelente. Perfeito como tudo o que meu "chefe" escreve 🙂