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…e pulsa, desafiando tudo, uma imensa vontade de amar

"Ser pai é uma jornada para dentro si. Uma visita às memórias. Um encontro. Um conflito. É ter que encarar o nosso pai, que se alojou em nós em pequenos flagrantes. É ter que enfrentar o passado para seguir livre das correntes de uma estrutura social opressora."

…e pulsa, desafiando tudo, uma imensa vontade de amar

É desse modo que penso o tecido da vida, depois de ser pai. Não é romantismo, clichê barato, palavras feitas jogadas à sorte ou coisa análoga. É ininteligível, é pulsante e nos desconstrói de dentro para fora, para, adiante, nesse labirinto do Minotauro, que é o nosso ser, sermos todos Ícaros a desafiar o longínquo. Enfim, ser pai é uma jornada para dentro si. Uma visita às memórias. Um encontro. Um conflito. É ter que encarar o nosso pai, que se alojou em nós em pequenos flagrantes. É ter que enfrentar o passado para seguir livre das correntes de uma estrutura social opressora, cuja intenção é nutrir preconceitos, práticas contraditórias e fomentar o conflito, os acirramentos, a indiferença, o ódio, o desrespeito, a violência, a babaquice…

Os pais que conheci eram quietos, enquanto à coragem de expressar em atos e palavras o amor por seus filhos. As conversas giravam em torno de amenidades, de temas que passam ao longe da criação de filhos. São fortalezas bem trancadas, fechaduras inquebráveis, sentimentos tão enterrados dentro de si que não sabem nem nominá-los. Essa herança maldita parece desafiar a vontade de mudar, e muitos pais têm sucumbido. Quando soube que seria pai, recusei a me tornar mais um na estatística de fortalezas impenetráveis. Queria me permitir expressar emoções, estabelecer um relacionamento de empatia com o meu filho. No entanto, como fazê-lo, se mil cadeados já trancavam a janela de minha alma?

Eu me sentia alguém afundando na areia movediça, tendo que me puxar pelos cabelos para sair de lá, mas Fabiana, minha companheira, tomou-me nos braços. Compreender meu contexto de fraqueza e estender-me a mão fez com que conseguisse seguir jornada adentro, em trilhas labirínticas alojadas em mim. Os cadeados que guardavam sentimentos conflitantes explodiram, e, numa espécie de catarse, expurguei monstros horríveis.

Os próximos passos são reconstruções, aprender que laços fortalecer, que erros não cometer e como desenvolver uma relação amorosa com as pessoas que guardo cá dentro. Tropeço muito. Hoje, choro muito. Não guardo os sentimentos, tento sempre expressá-los na frente do meu filho. O que mais quero é que ele seja o que ele quiser ser. Não viva tolhendo as emoções, não esconda seus desejos, mas desenvolva um relacionamento franco com os seus afetos.

Estou aprendendo a lidar com essas questões, o processo é lento e desafiador, mas percebo o quão é poderoso ser empático, afetuoso e sincero com os próprios sentimentos. Vitor deu-me a oportunidade de renascer, de reconstruir-me, de romper com certezas que me acorrentavam, irmanar-me com pessoas incríveis e, acima de tudo, fez e ainda faz pulsar, em mim, uma imensa vontade de amar.

Rodrigo Malheiros

Rodrigo Malheiros

Pai de Vitor e Elis, parceiro de Fabiana para todas as horas, professor de literatura e Padawan dedicado a aprender os desígnios da Paternidade.

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