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E se cárie fosse letal…

"É preciso entender a cárie como uma doença! Só assim, conseguiremos entender suas causas, sintomas e tratamento para, enfim erradicarmos essa doença."

…90% das crianças estariam mortas.

Segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde, em 2018, 90% das crianças em idade escolar e quase 100% do público adulto sofreram com a doença cárie em algum período da vida.

Isso torna a cárie a segunda doença mais prevalente no mundo, ficando atrás APENAS do resfriado.

A nossa sorte é que tem tratamento, cura e prevenção.

Com muito cuidado e conhecimento a gente pode ter gerações futuras livres de cárie.

Precisamos contextualizar a cárie como uma doença, com causas específicas que são consolidadas na literatura.

A partir desse conhecimento, podemos agir na prevenção. Vamos lá?

Cárie é causada por uma bactéria, que habita nossa cavidade bucal naturalmente, ou seja, não há possibilidade de agir sobre a cárie excluindo a bactéria. Primeiro ponto, doença bacteriana que não se resolve tomando antibiótico pois não há como eliminar especificamente essa bactéria.

A bactéria se agrega em forma de placa (famoso biofilme), que se fixa na superfície do dente.

Logo, para existir a cárie é preciso ter dente.

Parece óbvio, mas é um aspecto importante quando a gente conversar sobre uso de flúor em bebês!

Bactérias aderidas precisam de alimento, tal como qualquer ser vivo no planeta.

O prato preferido é o AÇÚCAR, mais especificamente a sacarose. Já estamos na batalha do controle do açúcar muito antes de virar moda nas redes sociais! É nossa causa primordial.

Enquanto a bactéria usa o açúcar para se manter viva, produz um subproduto ácido, que corrói a superfície a qual está inserida a placa: o dente. Essa corrosão, desmineraliza os tecidos do dente. Começa no esmalte até gradativamente atingir o nervo do dente, causando dor.

Por isso, nem sempre a cárie dói, nem sempre tem um aspecto de buraco, nem sempre é visível clinicamente. Podemos ter uma lesão de cárie em formato de mancha branca, ou no meio dos dentes que somente com radiografias para confirmar, ou podemos até tratar a cárie com uso de flúor, sem necessidade de broca e anestesia. Em estágio avançado, podemos ter uma lesão irreversível a ponto de precisar remover o nervo infectado (tratamento de canal).

Tudo depende do estágio que está ocorrendo a lesão de cárie, de quão profundo ela conseguiu invadir e quantas estruturas a bactéria conseguiu corroer. Aí entra nosso mantra de visite o dentista regularmente. Pequenas lesões podem ser paralisadas, diagnosticadas precocemente evitando tantas dores e traumas, tão peculiares a nossa profissão.

Toda vez que comemos, formamos placa e temos a chance de ter a doença cárie. Porém, esse biofilme pode ser desorganizado e a bactéria terá que esperar a próxima refeição para reiniciar o ciclo de fermentação (alimentação + excreção + corrosão…).

A desorganização é feita de forma simples, com produtos baratos e de fácil manuseio, e aposto que todo mundo tem em casa: escova, pasta com flúor e fio dental!

Quando escovamos, basicamente destruímos toda a escalada da bactéria, sua alimentação e formação do ácido.

Ou seja, escovando a gente evita a doença cárie!!!

A saliva tem um papel importante nessa história porque ela ajuda a não deixar tão ácido o meio onde é excretado o subproduto gerado pela ingestão de açúcar da bactéria. Por isso a escovação noturna é a mais importante.

A noite diminuímos a produção de saliva, logo, temos um soldado de folga no combate.

Voltando as causas, nossa balança está dividida entre bactéria, dente, açúcar e escovação.

Como bactéria e dente fazem parte do organismo, trabalhamos com dois pesos: açúcar e escovação.

Toda vez que a balança pesar para o lado do açúcar e diminuir o lado da escovação a doença cárie se instala.

O contrário é verdadeiro também, se a escovação for frequente o suficiente para equilibrar e até pender mais forte, não há chance de ter cárie.

Dado o mecanismo de formação da doença cárie, fica claro que o uso de antibiótico não influencia em nada a formação de lesão. Ter tomado muito antibiótico na infância não fez da criança uma portadora nata de cárie. Não ter escovado direito ou ter ingerido muito açúcar refinado, sim.

Outro mito derrubado recentemente é que o açúcar do leite materno, a lactose, causaria cárie principalmente na amamentação noturna, sendo até indicado o desmame noturno em função disso. Mas não procede. O leite materno não é capaz de deixar o meio ácido para que ocorra a corrosão do dente.

Portanto, é possível erradicar a doença cárie. É só equilibrar nossa balança. A evolução humana é perfeita até na criação das doenças, pois se a cárie fosse letal a gente não teria chance de aprender sobre o que rege a vida: EQUILÍBRIO.

Karoene Denardi Vanzela

Karoene Denardi Vanzela

Cirurgiã-dentista, com ênfase em Odontopediatria e atendimento para pacientes com necessidades especiais. Especialista e mestranda em tratamento de canal. Mãe da Isadora, da Gabriela e aprendiz em conciliar a teoria com a prática! Instagram: @karoene

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Comentários

10 comentários em “E se cárie fosse letal…”

  1. Super válida a reflexão! Entender com seriedade a doença cárie é o primeiro passo para que possamos diminuir cada vez mais sua incidência!

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