Celular toca no meio da tarde, no visor o número da escolinha.
Os pensamentos se organizam em check-list: febre, dor de barriga, vômito, caiu e se machucou…
Caiu, se machucou e quebrou o dente da frente.
Na educação física. Bateu na testa do amigo e viu o dente da frente inteiro no chão.
Embora a professora tente descrever a situação, você desobedece seu último comando: mãe, fique calma, ele está bem, só perdeu um dente.
Traumatismo é o nome que se dá para a quebra de alguma estrutura da boca, seja ela no osso, dente, raiz, corte de gengiva, lábio…
Predomina em crianças na faixa etária de 8 a 13 anos, mais prevalente em meninos e bem comum no verão, mais especificamente férias escolares (mais piscina, mais bicicleta, mais puladas de muro…).
O trauma dentário é bem comum de acontecer por quedas e colisões acidentais, maus-tratos, práticas esportivas, estresses entre outros fatores de menor ocorrência.
Bebês que estão na fase de exploração de ambientes e aprendendo a caminhar também são fáceis alvos de traumas na boca.
A primeira medida a ser tomada quando ocorre um trauma é MANTER A CALMA do adulto que está em contato com a criança. Normalmente, professores de educação infantil e educadores físicos.
Quando a criança cai a tendência é bater nariz e boca ao mesmo tempo, e provocar um sangramento que muitas vezes não conseguem distinguir a origem.
Lavar bem a região com soro fisiológico e estancar o sangramento é a orientação até chegar o socorro, ou os pais.
Caso a criança apresente sintomas de urgência médica, tais como: dor de cabeça, náusea, confusão mental e vômito (sintomas de traumatismo craniano) ou sangramento de orelha, dor abdominal, dificuldade para respirar…esqueçam os dentes! A gente restaura tudo depois… corre para o médico.
Mas vamos colocar uma cena que foi descartada a urgência médica.
Criança caiu, quebrou o dente e passa bem.
A sequência dos passos vai depender de como o dente quebrou, por isso vamos dividir didaticamente:
- Criança caiu, dente ficou amolecido mas não saiu do lugar: não tem necessidade de consulta IMEDIATA ao dentista. Dente com mobilidade pode precisar de uma contenção ou pode voltar ao normal sozinho. Procure o dentista quando possível, para avaliarmos o tipo de mobilidade, e se há necessidade de uma radiografia. Não mexa no dente para ver se ´firmou´. Faça higienização local com uma gaze e prefira alimentação pastosa no primeiro dia. O dente pode ficar escuro com o passar do tempo. O dentista saberá indicar o melhor tratamento, que pode variar de clareamento (dependendo dente e idade), tratamento de canal, se o nervo foi atingido, ou até mesmo nenhum procedimento, apenas acompanhar.
- Criança caiu, dente ficou mole e saiu de posição: (foi para dentro, está mais curto que os outros, deslocou para o lado…):
Corre para o dentista. É preciso reposicionar na primeira hora. Se é dente de leite, provavelmente a indicação é extração. Se já é permanente então é preciso colocar o dente no lugar, imobilizar com uma contenção e acompanhar. Alguns casos podem precisar de antibiótico. Outros de tratamento de canal. Mas o mais importante é chegar no dentista logo que o acidente aconteceu.
- Criança caiu e um pedaço do dente caiu no chão:
Chamamos de fratura de coroa. O fragmento pode ser colado de volta, e seria o ideal, mas também se não achar o fragmento ou ele não servir, os materiais restauradores atualmente são esteticamente eficazes. O objetivo aqui é cuidar se o trauma expôs o nervo ou foi muito perto dele, precisando talvez de uma proteção pulpar ou até tratamento de canal. Se conseguir uma consulta imediata, ótimo. Pegue o fragmento de dente, armazene no leite gelado e siga para o dentista. Caso não seja possível e a criança não esteja com dor, tudo bem. A consulta pode esperar.
- Criança caiu e o dente saiu com raiz e tudo para fora da boca:
É o caso mais grave que pode acontecer. Se é em dente de leite a conduta é de não colocar o dente de volta, apenas manter o espaço do dente perdido e acompanhar.
Quando é dente permanente, tem a possibilidade de REIMPLANTAR o dente, ou seja, colocar de volta. Por isso, o padrão-ouro de tempo fora da boca é de 30 minutos. Quanto mais tempo demorar para ir ao dentista, a chance de sucesso decai, embora tenham casos de sucesso em reimplantes tardios (até 2h depois).
Armazenar o dente de forma correta também influencia no sucesso. Precisamos de um meio de equilíbrio iônico com as células do dente, e uma temperatura baixa, para reduzir a o metabolismo celular e aumentar a viabilidade de reimplante.
Ou seja, o melhor lugar para deixar o dente que caiu é no LEITE GELADO. Nunca lavar com água corrente ou tentar tirar a sujeira que ficou no dente. Deixe para o dentista tratar a peça.
Depois de reimplantar, radiografar e colocar uma imobilização nos dentes, é preciso tomar vacina antitetânica, antibiótico e realizar tratamento de canal, além de acompanhar mensalmente, no mínimo por 6 meses.
Muitos traumas causam lesões em lábio, que precisam ser suturadas. O local pode ficar inchado e roxo, por isso é importante seguir as recomendações de alimentação e higienização.
Manter a calma dos pais e da criança, com certeza é a tarefa mais difícil do dentista. Os dentes têm tratamento, se possível imediato, ou tardio. A gente sempre encontra a melhor maneira de restabelecer dente quebrado, pode demorar meses, ser um pouco dolorido, mas tem solução.
O que ainda não conseguiram encontrar foi uma maneira de tranquilizar os pensamentos dos pais quando o telefone toca no meio da tarde.
2 comentários em “Meu filho caiu e quebrou o dente. O que fazer?”
Não imaginava que o tempo seria tão curto para o sucesso do reimplante! Realmente manter a calma é vital!
Adorei!!!