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Mudança de Prioridades

"Ter filhos é algo engraçado em muitos aspectos, e um desses aspectos acontece durante a gravidez. Quando você está grávido com a sua esposa, você começa a perceber e conversar sobre filhos, com outras pessoas. É como se você quisesse dar uma espiada por trás das cortinas, antes do show começar. "

Vamos falar um pouco sobre prioridades? Na verdade, sobre como mudamos as prioridades. É sobre isso que escrevo para Os Mamíferos, no Vila Mamífera, nesta semana. Você pode encontrar o texto aqui também.

Mudança de Prioridades

Ter filhos é algo engraçado em muitos aspectos, e um desses aspectos acontece durante a gravidez. Quando você está grávido com a sua esposa, você começa a perceber e conversar sobre filhos, com outras pessoas. É como se você quisesse dar uma espiada por trás das cortinas, antes do show começar. Você quer saber como é, se dá trabalho, se o seu cabelo cai, se você fica maluco, se você ri ou se você chora, mas de uma maneira geral, a resposta sempre recai nessa frase famosa:

– Cara, você não tem ideia. Muda tudo.

Você, que ainda não tem a mínima ideia da dimensão do que lhe aguarda assim que o seu lindo bebê nasce (ah, sim, eu não acho bebês feios, mesmo os que têm cara de joelho são lindos, na minha opinião), muitas vezes pode pensar que é exagero e que não deve ser assim, afinal, é apenas um bebê. Bom, deixa eu dizer algo para você, leia atentamente:

Cara, você não tem ideia. Muda tudo.

Eu acho que foi isso que faltou para mim. Alguém dizer que realmente muda tudo, e não necessariamente para pior. Nesse caso, muda para melhor, mas não é bem como se você sentisse o processo de mudança. É mais como se você acordasse um belo dia, com bebê e esposa ao seu lado na cama e pensasse:

– Cara, mudou tudo! Que maneiro!

Pode acreditar (e tenho certeza que muita gente concorda comigo), é uma das mudanças mais bruscas e fantásticas que acontecem na sua vida. O que me traz ao assunto principal deste post: prioridades. Ter um filho faz você rever suas prioridades, não importa a configuração que você tem na sua família, vai mudar tudo. No meu caso, em particular, eu trabalho fora num emprego burocrático, como a minha esposa costuma dizer: de segunda a sexta, das 8:00 às 17:00, sentado numa cadeira de frente para um computador. Com muita sorte, conseguimos nos adaptar de forma que, pelo menos durante o primeiro ano de vida do Dante, a Anne conseguisse ficar em casa, dedicada à criação dele.

Como eu já falei anteriormente (veja Das Coisas Que Caras Curtem), minhas prioridades pessoais já mudaram logo de cara: desde que ele nasceu, joguei video-game poucas vezes, joguei basquete uma vez só e academia só algumas vezes (vide a pancinha charmosa que venho cultivando). Essas alterações de prioridade não fazem a minha vida ser miserável, ao contrário, fazem com que eu seja um pai feliz que acompanha o crescimento e os avanços que o seu filho tem, talvez não com a mesma proximidade que a mãe, mas com o máximo de proximidade que se pode oferecer. Lembro de uma época em que ele estava ameaçando começar a sentar e eu  sempre torcia para que ele conseguisse sentar pela primeira vez no turno da noite. Ok, não deu muito certo… Esses bebês e suas vontades próprias, humph.

De qualquer forma, não são apenas essas as prioridades que mudam, e é sobre isso que eu gostaria de falar um pouco. Como eu trabalho fora, tenho o que pode se chamar de carreira profissional, com suas respectivas prioridades profissionais. Em resumo, trabalha-se muito mais do que o horário normal para que você consiga resolver problemas e ser notado. Mas agora, além de marido amoroso e funcionário escravo, também sou pai babão, e isso trouxe uma grande mudança de prioridades para mim.

Pense comigo: oito horas de trabalho, seis horas de sono, mais o tempo que você consome no translado casa-trabalho, mais o fato de que quando eu acordo, todos estão dormindo; levando tudo isso em conta, eu teria, no máximo, e com muita boa vontade, umas cinco hora úteis do seu dia para curtir a sua família. Ou seja, uns 20% do seu dia são dedicados a ser feliz com a sua família. Ainda bem que nós temos uma cama de família, então as horas de sono também contam como horas felizes!

Ou seja, eu já largo mão de jogar video-game para curtir minha família, e não vou largar mão de trabalhar feito um cão? A resposta é óbvia, né? Já ouvi alguns tristes casos de profissionais muitíssimo bem sucedidos que simplesmente não viram seus filhos crescerem, porque estavam muito ocupados crescendo profissionalmente. Mas o que você prefere ver crescendo? O seu salário, ou o seu filho? É muito triste que as coisas são estruturadas culturalmente desta forma, mas a minha escolha foi muito fácil de fazer. Existem até estudos sobre como os pais que tomam estas posturas são tratados no ambiente de trabalho, que você pode ver aqui.

Essa mudança de prioridades também veio sem que eu percebesse o processo de alteração. De repente, percebi que não ligava mais para isso, e só queria mesmo era correr de volta para casa e ficar com a minha família. É claro que isso me rendeu algumas horas negativas no meu banco de horas, alguns olhares tortos de chefes, e muito provavelmente alguma estagnação na carreira mas, de verdade, quem se importa? O que eu estou abrindo mão agora me traz muitos benefícios em estar junto da minha família, curtindo o crescimento do meu bebê, sem contar dos inúmeros benefícios que eu ainda nem sei classificar quando meu filho crescer e nós tivermos um ótimo vínculo amoroso e duradouro, sem contar que ele sempre poderá contar com o pai-melhor-amigo-companheiro-de-aventuras por perto.

Eu já precisei ficar até tarde em alguns poucos dias desde que ele nasceu e acredite, chegar em casa quando seu filho está dormindo para sair de casa antes de ele acordar não é uma coisa bacana. E você? Vamos deixar um pouco as coisas de lado e focar no que importa de verdade?

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

14 comentários em “Mudança de Prioridades”

  1. Paula Inara R Melo

    Thiago Queiroz me identifiquei mais uma vez com o que vc escreveu. Rever prioridades foi uma coisa automática quando me tornei mãe. Neste momento, precisei voltar a trabalhar, mas estou recebendo 1/4 do que recebia antes, porém por ser perto de casa consigo amamentar o João na hora do almoço, não perco 04 horas por dia no trânsito indo e vindo do trabalho e quando chego em casa consigo dar atenção a ele. O dinheiro está curto? Sim, mas sei que posso ganhar mais depois quando ele estiver maiorzinho e tendo uma rotina diferente do que está tendo agora. Mais uma vez parabéns pelo post.

  2. Oi, Felipe, obrigado pela visita 🙂

    Pois é, essa realidade é bem ruim mesmo. Esse tipo de trabalho acaba nos fazendo perder momentos únicos de nossos filhos, e o máximo que podemos fazer é tentar apertar aqui e ali para conseguirmos perder o mínimo possível. Eu mesmo já pensei em trabalhar em casa, mas é bem difícil fazer isso.

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