Recentemente, viajamos para um hotel fazenda com os nossos filhos. Fizemos a mesma coisa ano passado, quando Dante nem tinha 2 anos e ele gostara tanto da viagem que até hoje ainda lembra de pequenos detalhes, como o nome do papagaio que morava no hotel! Então, resolvemos repetir a dose nesse ano.
Só que dessa vez a viagem foi diferente, porque fomos também com mais duas famílias de amigos que fizemos depois que tivemos filhos, e uma dessas famílias é a do Parto com Sucrilhos. Para ilustrar um pouco a nossa situação, éramos 6 mães e pais com 5 filhos (2 crianças e 3 bebês). Por pouco, não éramos minoria!
Mas este post não é para falar sobre a viagem em si e, sim, sobre uma situação que tem tudo a ver com a reconciliação que, de vez em quando, os nossos filhos nos dão oportunidade de vivenciar.
Em um dado momento, eu estava de olho no Dante enquanto carregava no colo o bebê de uma das famílias. Viajar assim, entre amigos, é ótimo porque o cuidado compartilhado ajuda muito a aliviar o trabalho e nos permite aproveitar ainda mais as viagens!
De uma hora para outra, Dante saiu correndo de dentro do refeitório, e eu fui atrás dele. Com um bebê no colo, eu não podia correr muito, então ficava chamando por ele lá atrás, bem alto.
– Dante! Dante, para!
Claro, ele não ouviu. Ou, se ouviu, não quis parar. Na verdade, jamais saberemos e isso pouco importa, para ser sincero. Só que essa é uma das coisas que mais me irritam: não ser ouvido. Então, no calor do momento, fica bem difícil não levar para o lado pessoal e pensar que ele está propositalmente me ignorando. Quem nunca pensou assim, né?
Nessa correria, ele passou pela recepção do hotel e foi correndo ladeira abaixo, em direção ao portão da propriedade. Dentro de mim, um misto de medo de que ele tropeçasse na ladeira e se machucasse, irritação por não ser ouvido e, claro, vergonha pelos olhares julgadores que eu estava recebendo por ser “aquele pai patético correndo atrás do filho que não o ouve”. É curioso como nós não conseguimos nos desligar desses potenciais julgamentos, por mais que exercitemos um desligamento dessas pressões sociais.
Eu continuei atrás, falando para ele parar, até que finalmente consegui alcançá-lo no meio da ladeira. E aí tudo veio à toda, comecei a brigar e falar muito duramente com ele, que ele não podia fazer aquilo, que tem que parar, que tem que me ouvir, que isso, que aquilo. Ele, claro, chorando copiosamente.
Lembro que briguei muito, insistindo e falando que ele não me ouvia, mas eu mesmo não me dispus a ouvi-lo. Fui levando ele aos trancos e barrancos de volta para o hotel; ele chorando e eu louco de raiva. Mas, em momento algum, eu pensei em perguntar o que ele estava querendo fazer.
Não tinha jeito, eu realmente levara aquilo para o lado pessoal, e o resto do dia teve um gosto meio amargo. Eu e ele ficamos desconectados, meio que chateados um com o outro. E a noite veio para nos acalmar. Dormimos.
Na manhã seguinte, acordo com Dante me cutucando para eu acordar. Ele, com um sorriso no rosto, falando:
– Papai acordou!
Pronto, isso já tinha sido o suficiente para lavar todos os meus sentimentos negativos. Começamos a nos preparar para levantar até que Dante, muito sabido para uma criança de 2 anos, percebeu que as coisas ainda não estavam resolvidas, e quis dar cabo disso:
– Papai, Dante correu, papai ficou bravo e Dante ficou triste.
Parei e senti tudo aquilo. Senti em como aquele convite era precioso para nós, para reparar nossa relação, para curar o que provavelmente foi nossa primeira briga de verdade. Não éramos apenas pai e filho, éramos seres humanos consertando nossas relações. E eu disse:
– Sim, filho, desculpa que o Dante ficou triste. O papai fica muito bravo quando Dante não para, porque é perigoso correr assim.
– Papai ficou bravo?
– Fiquei, filho. Vamos fazer um combinado? Sempre que o papai falar para você parar, você para, tá bom?
Ele concordou e demos um abraço daqueles que cuida qualquer ferida. Aquele abraço de encher os olhos de lágrimas e aquecer qualquer coração.
Dali em diante, ele saiu correndo algumas vezes sozinho, mas passou a parar quando eu pedia para ele parar. E todas as vezes, ele parava e falava para mim, com satisfação:
– Papai, Dante parou!
– Isso, filho! Você ouviu o papai e parou! Agora está tudo bem!
Isso quer dizer que ele sempre vai me ouvir e parar quando eu pedir? Não, eu seria louco de imaginar isso. Mas tenho certeza que esse evento me ensinou coisas sobre nós que eu dificilmente saberia medir em palavras.
Dentre essas coisas, que somos humanos e que, às vezes, os maiores tesouros estão nas reconciliações.
20 comentários em “O Poder da Reconciliação com Nossos Filhos (e Nós Mesmos)”
Caraca! Sempre achei que só acontecia comigo! Maravilhoso texto
Chorei! Oh, Just it!
:’)
E eu chorei… pronto! Estava lendo agora o texto sobre xilique da Stheffany Nering e o seu veio completar o conteúdo. Ter um filho nos possibilita um renascimento que vida sozinha nenhuma faria. Como a gente aprende, né?! Obrigada por compartilhar.
Aprendemos muito, né? E é muito poderoso se dar conta disso!
Amei!!! Chorei e me enchi de um sentimento que nem sei explicar! Gratidão!!!
Que lindo, da parte dele, retomar o assunto no dia seguinte. Eu choraria rios, de emoção e de orgulho!