Um dos maiores medos ao redor da prática da cama compartilhada é a segurança. Como eu já escrevi no texto Cama Compartilhada: Os 5 Grandes Mitos, muitas pessoas têm um grande medo do risco da síndrome da morte súbita infantil pela prática de cama compartilhada, quando, na realidade, existem muitos estudos apontando para uma redução de até 50% do risco de morte súbita quando o sono compartilhado é praticado de maneira segura, e isto inclui a cama compartilhada.
Mas o que seria cama compartilhada com segurança? Existem recomendações de segurança? Felizmente, elas existem! A API (Attachment Parenting International) reuniu suas principais orientações para a prática segura do sono compartilhado, pois a segurança física é tão importante quanto a emocional no sono de bebês.
Essas recomendações não se aplicam apenas à cama compartilhada, mas ao sono compartilhado como um todo e, inclusive, para bebês que dormem em berço. As informações ficam em um folheto da API que eu traduzi, mas para facilitar a leitura, fiz um resumo logo abaixo. E para quem quiser fazer o download do folheto traduzido para o Português, é só clicar no botão ao final deste post.
Recomendações Gerais Para Sono Compartilhado
Estas orientações de segurança se aplicam não só a quem pratica a cama compartilhada, mas também para famílias que dividem o quarto com seus bebês.
- Coloque o seu bebê para dormir de costas, pois isto ajuda a proteger seu bebê da Síndrome de Morte Súbita Infantil.
- Escolha um colchão firme, sem cobertores que possam cobrir a cabeça, almofadas, e bichos de pelúcia. Nunca coloque seu bebê para dormir – ou adormeça com ele – em um local ou superfície insegura, como sofá, cadeira, poltrona de amamentação, sofá-cama, cama inflável ou colchão d’água. Deste modo, você elimina os riscos do seu bebê cair do seu colo quando você adormecer ou que ele entre embaixo de uma depressão do colchão muito macio.
- Deixe o bebê fresco, ajuste as roupas e a temperatura do quarto para evitar que o bebê superaqueça.
- Use um ventilador no quarto onde o bebê dorme, para ajudar a circular o ar e manter o ambiente mais fresco.
- Bebês não devem dormir sozinhos em uma cama de adulto, mesmo nas sonecas. Se você não possui um berço ou outro lugar seguro para seu bebê tirar sonecas, coloque um colchão menor no chão ou até um futon, e certifique-se que o ambiente está seguro para o bebê. O bebê conforto não deve ser usado para sonecas, nem para dormir.
Recomendações Específicas Para Cama Compartilhada
- Amamente o seu bebê! Mães que amamentam permanecem mais tempo em estágios leves de sono, fazendo com que elas estejam mais alertas aos bebês. Elas também tendem a dormir numa posição protetora (com os joelhos dobrados para cima), e isso previne que o bebê desça e acabe ficando debaixo de um cobertor, por exemplo.
- Ponha o bebê próximo à mãe, ao invés de deixá-lo entre o pai e a mãe. Isso evita que um pai que tenha sono muito pesado, por exemplo, não perceba o bebê ao seu lado.
- Use grades ou protetores de cama quando colocar o bebê na cama da família. Preencha qualquer espaço entre a cama e as paredes, cabeceira e móveis com uma manta ou toalha enrolada. Se você colocar o colchão (ou futon) no chão, longe das paredes, você também evita o risco de quedas, além do risco do bebê cair em algum espaços pequenos.
- Seja consciente sobre o arranjo de sono. Coloque o bebê próximo à mãe, em um ambiente planejado e seguro, ao invés de cair no sono por exaustão no sofá, cadeira, poltrona, ou qualquer outro lugar inseguro.
- Apenas cuidadores primários devem dormir com um bebê, pois apenas eles poderão dormir em um estado leve de alerta, atentos aos movimentos e à presença do bebê.
- Não deixe que babás ou irmãos mais velhos durmam próximo ao bebê, pois eles também não estarão alertas aos movimentos e à presença do bebê.
Quando Você Não Deve Fazer Cama Compartilhada
Criar filhos é algo que deve focar tanto na saúde como na segurança, e praticar cama compartilhada com um bebê é saudável e seguro na maioria dos casos, mas há situações que farão com que os pais precisem deixar o bebê dormir em outra superfície, mas ainda assim podendo ser no mesmo quarto.
Você NÃO deve fazer cama compartilhada com o seu bebê se:
Você usa álcool ou drogas
Qualquer substância que interfira no seu julgamento ou nível de consciência à noite vai interferir na sua habilidade de estar atento ao seu bebê. Estas substâncias também incluem medicamentos de farmácia, como remédios para dormir ou para resfriados. De uma maneira geral, qualquer substância que altere o seu estado de consciência é proibido para quem pratica cama compartilhada.
Você fuma
Existe um risco aumentado de SMSI (Síndrome da Morte Súbita Infantil) associado ao tabagismo e cama compartilhada. Pare de fumar, por você e pelo seu bebê!
Você é extremamente obeso
Também existe um risco aumentado de SMSI, que foi associado à obesidade parental e a prática de cama compartilhada.
Seu bebê é prematuro, tem baixo peso de nascimento, ou tem uma febre alta.
Há filhos mais velhos ou animais de estimação por perto
A cama da família não deve incluir um irmão mais velho próximo ao bebê, que não estará tão atento ao bebê na cama. Ou seja, se você tiver um filho que ainda durma na sua cama, deixe-o dormir entre o pai e a mãe, enquanto o bebê dorme entre a mãe e a parede.
Essas informações foram extraídas do folheto “Sono Infantil – Orientações de Segurança” da Attachment Parenting International. Se você desejar, pode clicar no botão abaixo para fazer o download da versão de impressão do folheto. É necessário que você imprima o folheto em frente e verso.
A UNICEF também tem suas recomendações de segurança, que são bem parecidas com as da API. Se você tiver interesse, pode acessar o folheto deles também, em Português de Portugal.
22 comentários em “Orientações de Segurança Para Cama Compartilhada”
E uma criança de 8 anos quando não quer dormir no quaró dela de jeito algum, como faz????
Renata,
Respondi muito recentemente a um email muito parecido com o seu comentário, e o que tenho a dizer a você é bem parecido com o que disse na época para essa pessoa.
O caminho é sempre o da empatia e compaixão. Entendo que você deve estar muito angustiada e sentindo-se perdida sobre isso, mas o foco da questão aqui não deve ser “como fazer meu filho dormir sozinho”, e sim “como ajudar meu filho com seus sentimentos, para sentir-se seguro”.
Uma criança de 8 anos que não quer sair da cama dos pais precisa ser ouvida, entendida e acolhida. Tente conversar com ela francamente, de maneira que ela se sinta segura para abrir seu coração. Você precisa entender quais os sentimentos que ela tem, quais medos, receios, quais dificuldades que ela tem e que tipo de relacionamento ela tem com você.
Trabalhar no vínculo entre vocês é sempre muito importante, porque às vezes nem percebemos, mas há pontos no vínculo que possuímos que não nos transmitem segurança na relação. Talvez seja interessante levá-la para fazer terapia, isso talvez ajude-a a processar esses sentimentos também. Mas o que eu gostaria de deixar bem marcado para você é que enquanto pensarmos que o problema está em nossos filhos, não conseguiremos ajudá-los verdadeiramente. Temos que pensar em contexto e sentimentos.
Acabo d eter um bebe, ele tem 54 dias, ele ainda dorme no carrinho, mas na primeira mamada da madrugada coloco ele entre eu e meu marido, nossa cama é grande, mas sempre penso q posso colocar o berço sem grade para melhorar essa cama compartilhada, q acha?
Karla, parabéns pelo seu filhinho! Sobre o berço sem grade, é uma alternativa boa também. Vocês podem tentar e ver o que melhor se adequa à realidade de vocês 🙂
Olá, Thiago.
Eu tenho uma dúvida quanto à densidade do colchão, minha cama tem o colchão bem macio que, especialmente agora durante a gravidez, minhas costas agradecem, mas já tá chegando a hora de trocar e como nós pretendemos usar a técnica de cama compartilhada, eu queria aproveitar pra já mudar pr’um colchão mais seguro pro bebê. Eu vi que pra berços existe o colchão com densidade D18 em tamanho especial pra recém nascidos, mas não encontrei referência para um colchão de casal… Você saberia me informar ou pelo menos me direcionar pra alguém que saiba?
Oi, Taís.
Não existe nenhuma especificação para a densidade do colchão, pelas orientações de segurança. Um colchão de densidade considerada normal é bom o suficiente, e recomendo que você faça um teste antes de comprar. Deite no colchão e tente notar se o colchão afunda muito com o seu peso. Se ele afundar o suficiente para criar uma depressão ao redor do seu corpo, ele é muito macio. A grande preocupação aqui é evitar que seja criada uma depressão muito grande onde o bebê possa entrar e acabar sufocando.
Abraço e boa hora!
Olá, Thiago!
Muito bom texto!
O ” Cama Compartilhada: Os 5 Grandes Mitos” também é ótimo!
Gostaria de saber o que fazer quando o bebê estiver com febre. Não pretendo ter berço, moisés ou qualquer outro lugar de dormir exclusivo para ele, então, qual seria a solução? Enquanto ele estiver com febre posso dormir sozinha com ele na cama e o pai em outro local, por exemplo?
Obrigada!
Oi, Lívia!
Obrigado pelo elogio 🙂
Acho que depende muito do tipo de febre e temperatura do bebê. Normalmente, nós não tirávamos o Dante da cama compartilhada, mas ficávamos ainda mais atento à temperatura dele e às roupas que ele usava, para evitar superaquecimento.
Que bom que você postou essas dicas no mesmo dia em que saiu um artigo na Pediatrics dizendo que a cama compartilhada é perigosa. Ainda não li o artigo, mas como sempre a mídia mistura todas as informações e coloca tudo no mesmo balaio.
Oi, Bruna!
Não só li, como acabei de publicar um post sobre esse estudo cheio de falhas: Cama Compartilhada NÃO é Fator de Risco para Morte Súbita.
Obrigado pelo seu comentário!