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Sobre Expectativas

"Expectativa é um negócio curioso. Quando menos esperamos, toma conta de nós. E mesmo que você pense que não dará trela para ela, pode cair na armadilha."

Expectativa é um negócio curioso, né? Quando menos esperamos, ela está lá, tomando conta da nossa mente e das nossas reações. E mesmo que você tenha bem claro na sua cabeça que não dará trela para a expectativa, você ainda pode cair numa armadilha, e foi exatamente isso que aconteceu comigo há pouco tempo.

Fomos recentemente a um hotel fazenda, para uma viagem de fim de semana da família. Na última vez que fomos a esse lugar, o Dante nem tinha 2 anos de idade, e o Gael estava na barriga da Anne. As lembranças que nós temos desse lugar são maravilhosas, foi muito bom passar aqueles momentos com o Dante pequenininho, curtindo tudo o que acontecia por lá: os animais, as brincadeiras, os passeios, tudo!

Essa foi uma viagem que eu sempre guardarei no coração, e talvez esse tenha sido o problema. São memórias tão boas que geraram altas expectativas para o nosso retorno.

Voltamos ao hotel fazenda, com Dante e seus 4 anos de idade. Não era só isso que tinha de diferente: Gael está fora da barriga e com 2 anos. Lembrando de como foi bom da primeira vez, era meio impossível não esperar que os meus filhos não fossem curtir demais. Quero dizer, eu esperava mesmo era que eles surtassem de alegria, que as cabeças deles explodissem de tanta animação, e que tivéssemos o melhor fim de semana das nossas vidas (até agora).

Acho que já deu para ter uma ideia do tamanho da expectativa que eu criei, né?

Chegamos no hotel de noite, e os dois já estavam dormindo. Então, na manhã seguinte, acordamos na correria, para não perder a primeira atividade do dia: ordenhar a vaca! Chegamos ao local da ordenha e eu estava certo de que eles iriam adorar tudo aquilo.

Ledo engano, eles nem quiseram chegar perto. Eu pensei que talvez eles ainda estivessem com sono, então tentei controlar minha expectativa.

Logo depois disso, fomos tomar o café da manhã. Pronto, agora eles ficariam animados! Nada disso. Gael só queria ficar no colo, e Dante ficava escondendo o rosto em mim ou na Anne. Eles não queriam nem conversar.

Bem, depois disso, comecei a ficar, digamos, impaciente. Eu queria muito que eles curtissem e interagissem, mas quanto mais eu insistia, mais fechados eles ficavam:

— Poxa, Dante! A gente veio até aqui e você não quer fazer nada?

Hoje, escrevendo esse texto, fico muito surpreso comigo mesmo. Como é que eu não pude perceber que eu cai na armadilha da expectativa? É tão óbvio! Porém, só fui perceber isso mais tarde naquele dia.

Eu estava cego pela expectativa. Claro que eles estavam daquele jeito. Afinal, ainda estavam se adaptando , no tempo deles, a um lugar diferente, com gente desconhecida por todos os lados. Eles não estavam confortáveis e precisavam de um tempo para se soltar. E eu, com minha impaciência, não estava contribuindo em nada para que eles se sentissem confortáveis.

Eu não estava respeitando o tempo deles, mas pelo menos consegui perceber isso a tempo, antes de deixar que a minha expectativa estragasse o fim de semana em família. Conversando com a Anne, percebi que essa minha vontade gigante de que todo mundo deveria curtir, na verdade, fazia com que eles não curtissem nada. E o mais esquisito é que isso é o tipo de coisa que você faz sem perceber que está fazendo, e cai na tentação de colocar a culpa de um “dia ruim” na conta das crianças, mesmo que eu tenha provocado boa parte dessas situações!

Só então eu aliviei. Relaxei e comecei a curtir o lugar com a minha família, sem toda essa pressão de aproveitar tudo ao mesmo tempo. E, logo depois, eles também começaram a curtir.

E, olha, eles curtiram demais! Escorregaram de bumbum em barrancos, deram comida para os animais, visitaram a horta do hotel e até arriscaram provar algumas verduras direto do pé! Em resumo, brincaram até dizer chega.

Realmente, a expectativa só serve mesmo para criar frustrações. É muito curioso como conseguimos afetar os nossos filhos só pelos nossos estados de espírito e, quando criamos muitas expectativas, isso quase sempre nos leva ao caminho oposto das expectativas que temos.

No podcast Tricô de Pais, um podcast que eu faço com dois amigos pais para falar sobre paternidade, fizemos um episódio inteirinho sobre expectativas. Na época da gravação do episódio, essa história ainda não tinha acontecido, mas se você tiver interesse em ouvir mais reflexões sobre as expectativas que nos rodeiam, clique aqui!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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