É raro encontrar um relacionamento em que a chegada de filhos não cause nenhuma perturbação. Em alguns casos, os filhos trazem pequenas turbulências que são facilmente contornadas, mas com outros, a chegada dos filhos traz consigo uma verdadeira tsunami no relacionamento dos pais.
O meu caso foi mais para o segundo exemplo do que o primeiro. E o seu aí?
Na verdade, é curioso ver como que as pessoas que nos olham, hoje em dia, nas redes sociais, costumam achar que a minha relação com a Anne sempre foi um mar de rosas. Ledo engano!
Nós colecionamos algumas crises em nossas histórias, mas o que faz com que nós construímos tenha valor são justamente as crises e desafios que ultrapassamos juntos.
Desde o nascimento do Dante, e com a chegada de cada novo filho, nós sofremos transformações individuais intensas. A Anne que eu conheci há dez anos atrás não era a mesma Anne depois de parir o Dante. Também não era a mesma depois de parir o Gael, e tampouco a mesma depois de parir a Maya. O mesmo se aplica a mim também, que fui mudando drasticamente.
Fico aqui pensando que o maior engano das pessoas é a expectativa de que as pessoas serão exatamente as mesmas por toda a vida, e essa é uma das expectativas mais bestas que se pode criar.
Ao longo dos anos, tivemos que nos reconhecer a si próprios e, de tempos em tempos, precisamos sentar, conversar, e entender se tudo ainda faz sentido para nós dois.
Eu, enquanto marido e pai, precisei entender que eu precisava fazer a minha parte e ser a escuta ativa da relação. Eu precisava correr atrás e entender o que eu queria ser enquanto pai, enquanto parceiro.
Normalmente, ao ouvir alguma crítica por parte da Anne, eu me fecharia em modo de defesa, dentro das minhas muralhas internas, e ficaria emburrado por dias. Sentiria que a Anne foi muito injusta em suas palavras e me sentiria como um pobre coitado, incompreendido em sua totalidade.
Foi então, há anos atrás, que eu conheci a comunicação não-violenta e eu sempre digo com toda certeza: a CNV salvou o meu casamento algumas vezes. Com ela, pude entender que, mesmo por trás de uma fala mais ríspida, há uma necessidade não atendida. Consequentemente, se eu quero o bem estar de uma pessoa que eu amo, no caso a Anne, eu preciso me esforçar para entender como eu posso contribuir para o seu bem estar.
Hoje, eu tenho certeza que a palavra que melhor define tudo isso é parceria. Sim, porque quando se divide a vida com alguém, é impossível não pensar em parceria de vida. Eu e a Anne chegamos até a gravar um episódio do nosso podcast Tamo Junto sobre esse tema, e ficou bem legal. Se você quiser, clique aqui para ouvir.
Mas e quanto ao papo de que os casamentos podem “sobreviver” ou não aos filhos? Existe mesmo uma regra para isso?
Algumas pessoas, inclusive, já me pediram dicas para que os seus casamentos “sobrevivessem” à chegada dos filhos, mas eu penso que devemos ter muito cuidado com essa expressão. Os nossos filhos não são responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos nossos relacionamentos, não devemos colocar esse peso nas costas deles.
Na verdade, devemos assumir a responsabilidade sobre os nossos sentimentos, necessidades e, consequentemente, os nossos relacionamentos. O que acontece, por vezes, é que a chegada de filhos traz consigo a exaustão, a solidão e muitas transformações em nós mesmos. Isso faz com que, por exemplo, aqueles pequenos problemas com o relacionamento que nós fingíamos que não incomodava tornam-se grandes demais para continuarmos fingindo.
É o que costumo dizer: os filhos chegam e tudo o que foi varrido para debaixo do tapete, por anos seguidos, é jogado na nossa cara, mas não pelos nossos filhos, e sim pelo novo contexto — e pelos novos “eu” e “você”. Para lidar com tudo isso que estava embaixo do tapete, precisamos de muitos diálogos honestos, muita empatia e acolhimento.
Até hoje, continuamos tendo essas conversas, continuamos a nos reconhecer novamente. E continuamos a nos perguntar se tudo ainda faz sentido.
E continua fazendo sentido.
Como é bom caminhar ao seu lado, Anne.
Foto por Carolina Ferreira.
5 comentários em “Sobre Parceria e Relacionamentos”
Oi meu nome é Ronaldo tenho 47 anos e vou ser pai de um garoto, não estou com a Mãe do meu filho (gostaria muito de estar), estou descobrindo muitas coisas a meu respeito e estou com um medo enorme, atravéz da Mãe do meu filho cheguei aos seus vídeos no youtube e pude conhecer a CNV, fantástico penso que se tivesse tido contato antes teria talvez salvo minha relação, mas enfim vida que segue, meu filho vem aí e quero que saiba que foi muito importante ter contato com a sua mediação de conhecimentos e vivências, obrigado.
Ronaldo, querido, fico muito feliz que meu trabalho tenha ajudado de alguma forma na sua caminhada. Parabéns!
Lendo esse post me encorajei a pedir que em algum momento você fale sobre discordância do casal quanto a disciplina positiva. Pois enfrento isso a 3 anos. Decidi por trilhar esse caminho da disciplina positiva com meus filhos e nesses anos venho conversando com meu marido sobre,mas ele discorda totalmente da disciplina positiva e não acredita em sua eficácia. Como aplicar disciplina positiva nesse caso?
Perfeito ❤️
🙂