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O Poder da Empatia – Um Relato Sobre Como Ajudar Nossos Filhos em Momentos Difíceis

"O que é empatia? Ela ajuda mesmo nas nossas relações com os nossos filhos? Existe muita confusão em torno do significado de empatia, por isso, resolvi escrever este texto que, na verdade, é um relato de uma experiência muito especial que eu tive, com uma bela menina de 3 anos, filha de uma amiga minha. Espero que, ao final do relato, o poder acolhedor e transformador da empatia fique bastante evidente para todos nós."

Eu sei que o conceito de empatia é ainda um conceito muito confuso para muitas pessoas. Eu mesmo, antes de mergulhar de cabeça na criação com apego, tinha uma visão míope do que seria empatia. Um bom exemplo de que as pessoas ainda não conhecem exatamente o significado de empatia é que muitas delas confundem simpatia com empatia.

Mas o que seria empatia, então? Eu costumo escrever bastante sobre empatia aqui no blog, como no post Três Coisas Que Eu Aprendi Nesse Primeiro Ano de Paternidade, mas não custa nada relembrar: empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Ser empático é tentar sentir o que o outro está sentindo, e quando isso acontece, as duas pessoas se conectam a um nível tão profundo, as pessoas envolvidas se beneficiam tremendamente dessa experiência.

Só que empatia não para aí, porque à medida que você vai praticando, principalmente com o seu filho, você se esforça para entender o que ele está passando e se coloca no lugar dele para sentir as dificuldades que ele está passando. E então, você será capaz de enxergar que talvez ele esteja um pouco mais grudado por causa de um dente nascendo, ou um salto de desenvolvimento, ou porque está inseguro devido a alguma mudança na rotina.

E só depois de exercitar muito a empatia no dia a dia, a ficha cai: empatia trata de validar o sentimento do outro. Reconhecer que o sentimento do outro é real, válido e importante. No momento que você reconhece a dificuldade de alguém, você cria um vínculo com a pessoa. Ela passa a se sentir entendida e, às vezes, isso é o suficiente para ajudá-la. Muitas vezes, elas só querem ser ouvidas e ter seus sentimentos validados.

Mas até aí, tudo o que eu falei pode ainda ser muito abstrato, ainda mais se nós somos das pessoas que acham o conceito de empatia um pouco confuso. Por isso, resolvi escrever este texto que, na verdade, é um relato de uma experiência muito especial que eu tive, com uma bela menina de 3 anos, filha de uma amiga minha. Espero que, ao final do relato, o poder acolhedor e transformador da empatia fique bastante evidente para todos nós.

Muito bem, era uma bela manhã de domingo, e a minha família, junto com outras famílias amigas, decidimos levar nossos filhos à Biblioteca Parque Estadual, aqui no Rio, para um encontro de pais. Diga-se de passagem, essa biblioteca é uma ótima pedida para levar filhos para passear. A nossa ideia era participar do encontro e, então, deixar as crianças brincarem.

A boa notícia é que o programa foi ótimo e as crianças se divertiram horrores. A má notícia é que, como tudo na vida, o programa acabou. Pouco depois do meio dia, cada família começou a tomar o seu rumo, mas essa menina de 3 anos não queria ir embora. Um amiguinho dela estava na biblioteca também e, apesar de terem brincado bastante, ela ficou muito triste por ter que dar adeus ao amigo.

Mas percebam que quando eu disse que ela ficou muito triste, é porque ela ficou muito triste mesmo. Lágrimas rolavam livremente pelo seu rosto, e ela lutava para ir embora. Como muitos diriam, ela fez o show completo. Eu já mencionei que ela chorava bastante?

Bem, a situação ali era bem clara: a menina não queria ir embora, porque queria brincar mais com o amigo. Mas a realidade é que todos nós estávamos indo embora. Eu imagino que, se nós tivéssemos que pensar em coisas para dizer à menina nessa situação, as primeiras que viriam à mente seriam:

– Já chega, você brincou a manhã inteira com ele!

– Mas ontem você passou o dia brincando na casa dele!

– Se você não parar com isso, não trago mais você aqui!

– Você precisa aprender a valorizar mais o que você tem!

A questão é que, apesar deste tipo de frase estar na ponta das nossas línguas, elas não ajudam em nada com relação ao que a criança está sentindo, não é? Aqueles sentimentos da menina eram reais e ela estava sofrendo de verdade, porque queria brincar mais com o seu amigo.

Nós temos uma tendência de avaliar ou julgar o tamanho do sentimento das pessoas através do motivos e causas deste sentimento, mas este não é o melhor caminho. Sentimentos são reais, independente dos fatos causadores, e a empatia é a habilidade de se conectar através dos sentimentos, e nada mais.

Ou seja, por mais que o motivo da tristeza de uma criança pareça bobo para nós, isso não significa que ela não está sofrendo por isso. Mais ainda: nós não temos o direito de julgar aquele sentimento. Pensar que a criança (ou qualquer outro ser humano) está triste à toa ou está frustrado por coisa boba só piora aquilo que a criança está sentindo. Afinal, se nós não gostamos que as pessoas subestimem nossos sentimentos, porque faríamos o mesmo com os nossos filhos?

E então, pensei que eu poderia tentar ajudar aquela menina que possui tanto bem-querer. Nós estávamos indo em direção ao metrô, porque moramos todos na mesma região, e como a mãe já estava com os braços ocupados carregando o irmãozinho dela no colo, eu me abaixei até a altura da menina e disse:

– Ei, você quer uma carona no colo do tio?

Ainda chorando, ela balançou a cabeça, dizendo que sim. Apenas balançando a cabeça, ela me disse que estava querendo contato físico e acolhimento dos seus sentimentos. Esse contato inicial e a resposta positiva é importante porque, às vezes, nós só queremos ficar sozinhos por um tempo, e o mesmo acontece com crianças.

Enquanto caminhávamos em direção à saída, ela chorava.  E assim que colocamos os pés na rua, o choro dela aumentou. Protestou muito por estar saindo e então eu comecei a conversar com ela:

– Você queria muito continuar brincando, né?

– Sim…

– Eu entendo. Você deve estar muito triste porque está indo embora, não?

– Tô…

 – Sei bem, eu também fico muito triste quando estou brincando com meus amigos e tenho que ir embora. Brincar com amigos é muito legal!

– É!

– Mas sabe uma coisa boa? Eu sempre posso brincar mais com eles em outros dias!

– É!

Essa conversa está resumida, mas foi mais ou menos assim que ela aconteceu. Em poucos minutos, ela estava conversando comigo sobre como eram engraçados os diferentes tipos de tampas de bueiro na rua. O rosto daquela menina que, há poucos instantes, estava molhado em lágrimas, agora, já abrigava um belo sorriso e um olhar curioso sobre tampas de bueiro.

Um aviso importante: não é minha intenção usar esse post para descrever um método infalível para resolver todos os problemas de choro do seu filho. Quem já acompanha meu trabalho aqui no blog sabe que eu sou bastante contra métodos que se dizem solucionadores de problemas. Empatia não é técnica, nem método. Empatia é conexão, e todos nós precisamos de conexão.

Na maioria das vezes, não só crianças, mas todos nós só precisamos nos sentir acolhidos. Precisamos sentir que nossos sentimentos são validados e considerados pelo outro. Às vezes, não queremos saber de soluções e muito menos saber o que poderíamos ter feito diferente, ou ainda como deveríamos estar nos sentindo. Às vezes, só precisamos de empatia.

 


Eu gostaria de terminar esse post agradecendo à mãe desta menina, uma pessoa que admiro muito, de uma família que tenho um carinho especial. Obrigado, mãe e filha, por me darem a oportunidade de ter vivido essa experiência tão especial.

E já que estamos falando sobre empatia, se você ainda não assistiu esse vídeo, vale a pena assistir. É uma belíssima animação que mostra a diferença entre empatia e simpatia!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

12 comentários em “O Poder da Empatia – Um Relato Sobre Como Ajudar Nossos Filhos em Momentos Difíceis”

  1. Oi Thiago,
    Por incrível que pareça, muito da criação com apego foi vivida por mim quando criança (lá se vão 30 e poucos anos), sem violência de qualquer tipo, mas sei que fui exceção.
    O fato é que houve reflexo em mim e hoje pratico a AP há exatos 2 anos e meio com minha filha, não só por não conhecer outra forma de criação, mas também porque é a criação em que temos o coração tranquilo! A empatia sempre existiu em minhas relações e seu resultado é mais visível com minha filha que, aos poucos, foi percebendo que ela pode falar sobre qualquer coisa conosco pois sabe que terá acolhimento e empatia…obviamente, nem sempre é fácil para qualquer das partes, mas como é uma via de mão dupla, ao sermos empáticos nos compreendemos mutuamente e aparamos nossas arestas criando uma convivência harmoniosa com muito aprendizado.
    Parabéns pela iniciativa e por compartilhar seus momentos com o fofo do Dante.
    Sigo estudando, defendendo e vivendo a AP…pois este é o caminho pra um mundo melhor, pois a mudança real se dá no indivíduo e começa em casa!
    Beijos e sucesso!

  2. Olá. Minha filha tem 4 anos e é bem levada. Alegre, falante. Conversamos muito, brincamos juntas diariamente, com o pai tb,.. mas quando encontra com as amigas, principalmente em casa, fica eufórica demais…. quer mandar, comandar e dá ideias que eu costumo chamar de ideias de girico .. rs como prender o gato, jogar todos os brinquedos no chão e por aí vai…. chamo a atenção dela, explico, retiro o alvo do problema, procuro mudar o foco, mas nem sempre adianta, pelo contrário… ela começa a agir com escândalo se contrariada, chora, faz manhã…. outro dia, mesmo com as amigas em ksa, tive que colocar de castigo, pois, apesar de 4 anos, responde como se fosse uma adolescente… fico até assustada….. e essas alternativas que sugere no artigo, muitas das vezes, não tem tido resultado. Pergunto a ela o que está sentindo… falo pra ela me falar, conversar, enfim…. o pai fica nervoso, grita (o que acho ruim)…. enfim… este comportamento de ficar eufórica com as amigas, até que ponto é normal e o que posso fazer? Obrigada

    1. Oi, Carla!

      Entendo… Você já tentou identificar de onde ela pode estar absorvendo esse comportamento autoritário? Com relação à reação negativa dela quando você intervém, pode ser uma boa ideia esperar as coisas acalmarem, algumas horas depois, para você poder ter uma conversa com ela. Tente criar um momento e um lugar especial para ter conversas sinceras, do coração. Algumas famílias têm as “reuniões do sofá”, que são momentos onde todos podem falar livremente sobre seus sentimentos, sem temer julgamento ou repreensão. Acho que pode estar havendo uma falta de confiança para ela se abrir, e talvez o fato do pai ficar nervoso e gritar esteja prejudicando nesse sentido. Sei que é muito difícil manter a calma no meio da tempestade, mas crianças percebem com muita rapidez quando elas estão seguras ou não para se abrir.

      E caso você esteja notando que a interação com as amigas não está sendo positiva, você pode sempre limitar esses encontros. Mas não com o intuito de punir, e sim de mostrar a ela que você não gosta quando ela fica eufórica e que gostaria que ela pudesse brincar de maneira mais pacífica, digamos assim.

      Será que isso ajuda?

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