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A Grande Sacada da Disciplina Positiva

"Como educar os filhos através do respeito e empatia? Aqui, podemos pensar na regra de ouro da disciplina positiva como um poderoso aliado: faça com os seus filhos o que você gostaria que fizessem com você."

Há um tempo atrás, iniciei uma série de posts dedicada exclusivamente à Disciplina Positiva. Minha intenção é aprofundar bastante nesse tema, que ainda pode ser confuso para muitas mães e pais. Então, se você ainda não leu o primeiro post da série, pode dar uma olhadinha em Disciplina Positiva: Primeiros Passos para entender alguns conceitos básicos que são fundamentais para a Disciplina Positiva.

Mas qual é a grande sacada da Disciplina Positiva? O que faz dela uma maneira tão diferente de educar filhos? Eu pretendo abordar o que é o ponto fundamental de toda a Disciplina Positiva, que algumas pessoas chamam de regra de ouro da Disciplina Positiva:

Faça com os seus filhos o que você gostaria que fizessem com você.

Quando meu filho tinha um pouco mais de um ano, fomos vistar uma festa que estava acontecendo em uma escola Waldorf perto da nossa casa. Nós já namorávamos com essa escola e com a pedagogia Waldorf há algum tempo.

Era noite e havia sido um dia bastante cheio para ele, com muitas atividades e pouquíssimo descanso, então sabíamos que ele poderia ficar irritado a qualquer momento, por estarmos em uma festa de noite. Sabíamos que poderia ser algo desafiador, mas fomos ainda assim porque queríamos muito conhecer mais a escola, as pessoas e a pedagogia.

Lá pelas tantas, Dante resolveu que queria subir uma escada dentro da escola, mas essa escada ficava fora do local onde estava acontecendo a festa e, obviamente, a escada era perigosa para um bebê que ainda não tinha habilidade suficiente para ficar subindo e descendo escadas sozinho. Assim, falei com ele:

– Filho, não pode subir a escada, vamos brincar aqui embaixo.

Ele olhou para mim por alguns instantes e subiu uns degraus. Peguei ele no colo e disse:

– Filho, só pode brincar aqui embaixo, a escada é perigosa.

Não preciso nem dizer que ele não gostou e reclamou bastante, né? Pois passaram-se alguns minutos e ele voltou para a escada, tentando subir de novo. Lembrei a ele que não podia subir e, mais alguns instantes depois, lá foi ele tentando mais uma vez.

As opções que se apresentam para nós, em momentos de conflito.

Nesse momento, eu tinha alguns caminhos para escolher: deixar ele ir, já que insistiu tanto e deseja tanto subir na escada. Ou brigar com ele e tirá-lo da escada sem muita conversa. Ou ainda tirá-lo da escada, reafirmando o limite, mas com gentileza. São em momentos como esse que podemos fazer a diferença, porque é através do modelo que nós ensinamos aos nossos filhos conceitos tão importantes como respeito e afeto.

Sendo assim, tirei meu filho da escada, lembrando que ali não era seguro, mas que poderíamos brincar de outras coisas. Dessa vez, ele foi dominado por uma frustração sem tamanho, pelo fato de não conseguir fazer o que queria. Se jogou no chão, berrando e chorando, como se eu tivesse feito uma grande barbaridade contra ele. Mas, pensando bem, eu fiz mesmo uma barbaridade. Pelo menos ao entender dele, eu estava fazendo uma grande barbaridade de não deixá-lo fazer o que ele queria e, por isso, ele estava sendo dominado por uma onda de sentimentos negativos.

Aqui, mais uma vez, eu tinha algumas opções: eu poderia brigar com ele, por estar fazendo birra e manha. Ou poderia acolher seus sentimentos negativos, ajudando-o a entender que eu estava ali por ele, para o que ele precisasse.

Todos nós sabemos que, em momentos como esses, muitos bebês e crianças acabam recebendo de seus pais punições como resposta a uma crise emocional. Elas são castigadas ou até agredidas fisicamente, e essa é justamente a maior contradição que existe na disciplina autoritária, porque se nossos filhos já estão passando por uma situação ruim, porque temos que fazer com que ela seja ainda pior? Jane Nelsen, autora do livro Disciplina Positiva, sempre faz uma pergunta que deixa qualquer pai e mãe pensativo:

De onde tiramos a ideia maluca de que para fazer nossos filhos fazerem o melhor, precisamos fazer com que eles se sintam pior?Jane Nelsen

Realmente, isso não faz o menor sentido.

É exatamente aqui que se encaixa a regra de ouro da disciplina positiva: faça com os seus filhos o que você gostaria que fizessem com você. Eu, e imagino que você também, sempre que estou para baixo, porque alguma coisa deu errado, gostaria que alguém me ajudasse a erguer meu ânimo, e não alguém que me colocasse ainda mais para baixo. Então, provavelmente não seria nada positivo se alguém chegasse para mim, em tom de sermão:

– Isso aconteceu porque você provocou essa situação!

– Ah, mas se você não fosse tão irresponsável, isso não teria acontecido.

Eu realmente não gostaria nem um pouco de ouvir algo desse tipo, numa situação dessas. Então porque tem que ser diferente para os nossos filhos?

E então, o que seria disciplina positiva? Qual seria então a grande diferença da disciplina positiva para as outras maneiras de educar filhos?

A Disciplina Positiva se baseia no ensinar através do respeito, da empatia, do afeto e do vínculo. Buscamos, na Disciplina Positiva, ajudar nossos filhos a desenvolver sua auto-disciplina, aos poucos, fazendo com que eles tenham as ferramentas necessárias para decidir se devem fazer algo ou não. Saber diferenciar o certo do errado de acordo com os seus próprios valores é a chave. A vontade e decisão dos nossos filhos têm que vir de dentro, e não de fora.

Por isso, só em ambiente de amor incondicional e respeito mútuo é que nossos filhos serão capazes de desenvolver essa habilidade de agir conforme seus valores construídos. Isso tudo pode parecer bem óbvio, mas o que acontece hoje em dia é que temos crianças que, infelizmente, só agem em função de fatores externos. Elas utilizam essas perguntas como formas de conduzir um processo decisório:

– Qual a punição que vou receber se não fizer isso?

– O que vou receber como recompensa se eu fizer isso?

É esse o tipo de adulto que nós desejamos que nossos filhos se tornem? Com certeza não é o que eu quero para o meu filho e não acredito que você irá discordar de mim.

Até o próximo post da série! Comentem o que vocês estão achando da série, o que está faltando, ou o que vocês gostariam de ver por aqui!

 

PS: a linda foto que faz parte desse post foi tirada pela querida fotógrafa Carla Raiter. Não deixem de conhecer o trabalho dela!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

33 comentários em “A Grande Sacada da Disciplina Positiva”

  1. Ola td bem??? Amo seus post me ajudam muito … estou ficando frustada com meu bb de 1 ano e 2 meses . . Toda vez que contrario a vontade dele … ele me bate mas nao e tapinha a tapa na cara puxa neu cabelo … fico muito triste pois em casa nunca batemos nao falamos alto ele nao tem contato com outras crianças agressivas porque será que faz isso … ja conversei ja expliquei mas nao adianta ele faz sem do … ja chorei muito onde estou errando????

  2. Olá Thiago,

    descobri recentemente o seu blog por um acaso e estou muito feliz de encontrar ideias das quais compartilho, apesar de não conhecer como uma abordagem tão discutida.
    Tenho dois meninos lindos, o Bernardo (5) e o Tomaz (1a9m), e também o meu marido, o Leo. Sempre busquei informação e meu marido algumas vezes me criticou. Sempre me disse que era para eu seguir o meu coração que eu seria a melhor mãe que meus filhos poderiam ter. Pena que ele não lê blogs e nem textos a esse respeito para dizer “viu, eu não falei”…
    A despeito da criação autoritária que tive, que hoje vejo claramente os traços que me deixou, sempre busquei a conexão com meus filhos. Nomear e entender os seus sentimentos e conversar, abraçar, beijar e amar muito. Intensamente. Desde que descobri que estava grávida.

    Fiquei feliz de ler sobre o cantinho do pensamento ou o castigo. Não posso negar que algumas vezes Bernardo pairou sobre ele. Eu deixava ele se acalmar e depois ia conversar. Mas sempre pensei se aquilo realmente funcionava… Daí a pouco lá estava ele fazendo a mesma coisa.
    Seu blog veio em um momento em que estou entrando em parafuso. Penso muito nas relações que mantenho com meus pais e na de meu marido com meus sogros, buscando entender o que não quero reproduzir. Meu marido foi criado em um ambiente de muitos gritos e apanhando diariamente, como ele mesmo diz. Hoje o afastamento é inevitável. Dele com os pais e com o irmão. Com a minha família é um pouco diferente. Somos unidos, mas sou uma pessoa reprimida.
    Então, a máxima da disciplina positiva é o que aplico em minha vida e ensino aos meus filhos:
    Temos que tratar aos outros como queremos ser tratados.
    Então, lhe agradeço pelos textos, por compartilhar ideias em um mundo tão corrido. Por encontrar tempo para as relações e nos ajudar a refletir sobre elas. Sabe meu desejo de futuro? Um dia estar eu e meu marido em uma palestra sua.
    Um grande abraço,

    Cristiane

  3. Márcia Gaioso - Ciência de Mãe

    Thiago, comecei a estudar Criação com Alego ha pouco tempo. Sou doula há + de 4 anos, prego a necessidade da exterogestação há 1 ano, tive gêmeas de parto normal … enfim, venho me aproximando desse universo da maternagem consciente há algum tempo, mas a criação com Apego e Disciplina Positiva tem tudo haver com meu momento, minhas filhas estão com 4 anos, e as coisas aqui em casa estavam difíceis há uns meses atrás, fugindo do controle, com birras e desentendimentos frequentes. Foi estudar em busca de soluções e a Disciplina Positiva, dentro da Criação co Apego, apoiada pela Ciência do Início da Vida e leituras da Laura Gutman desenharam meus referências. Daí, vislumbrei um norte, uma postura, conversei com meu marido e a ajudante, logo após eu me reposicionar e já sentir alguns efeitos positivos. Resultado: as birras acabaram, eu pude perceber o que tava pegando em alguns comportamentos e interações desarmoniosas, que desapareceram com rapidez. Identifiquei algumas atitudes não acertivas aqui em casa com as meninas, consegui tirar quase totalmente o autoritarismo de cena… E hj, posso afirmar com tranquilidade, que os princípios da A.P.I. fucionam, melhoram a vida dos pais, das crianças e fortalecem a fraternidade na família. Gratidão gratidão a todo esse conhecimento e a sua atitude de disseminar, esclarecer e ser uma referência nisso tudo.! Parabéns e gratidão é o resumo do que tenho a te dizer!! 🙂

  4. Tenho tentado aplicar a disciplina positiva em casa. Mas confesso que ainda não consegui, no fim temos um filho frustado e uma mãe frustada e culpada. Eu consigo explicar e conversar por uns 40 min, depois disso, vou ficando com sentimento de impotência, o choro vai me atormentando, a insistência dele é maior que a minha, a acabo não conseguindo aplicar a DP. Mas ainda não desisti. Qual livro vc recomenda para me auxiliar no assunto? Obrigada!

    1. Priscila, recomendo o livro da Jane Nelsen, chamado Disciplina Positiva.

      Mas sobre o exemplo que você citou, você poderia dar mais detalhes sobre ele? Talvez a gente consiga enxergar uma solução para isso!

  5. Thiago, tenho passado por uma crise interna muito negativa. Quando conheci seu blog, entendi que eu praticava a Criação com Apego e a Cama Compartilhada, sem saber. E que a Disciplina Positiva, era aquilo que eu buscava para a nossa relação. Ele tinha acabado de completar 1 ano. Hoje, quase 3, me vejo numa grande bola de neve… te explico pq.
    Ele ainda não frequenta escola pois nos mudamos no começo do ano e somente agora nos estabelecemos. Todo mundo me julga como mãe, e me questionam sobre isso e pelo fato de eu não punir verbal e fisicamente como “manda o protocolo”. Por eu tentar conversar, sem agressividade, qdo recebo um tapa ou mordida. Ensinando o contrário.
    Outro dia estávamos na praia e havia poucas pessoas… fui pegar no colo para brincar com ele nas pequenas ondas, ele fez um show, me deu tapas na cara, mordidas e gritos… parecia que estava batendo nele. Então eu senti os olhares de condenação, de repúdio, de julgamento.. fui tomada pela vergonha, pela frustração e pela dúvida se eu não estava realmente educando de forma errada.
    De lá pra cá, esse tipo de comportamento público e as reações das pessoas, tem me deixado cada vez mais preocupada e insegura qto à mim e a minha escolha.
    Posso te dizer q ao comentar um post sobre bater ou não nos filhos, fui mais uma vez julgada por ter “discursos bonitos no papel”, que não funcionam na vida normal e que a educação deve ser dada desde pequenos. Ou seja, repreender, talvez bater, por de castigo.. a tradicional educação que não rola dentro de mim.
    Pois então me peguei autoritária, histérica, nervosa, descontrolada e agressiva. Ontem bati em cima na fralda, mas com certa raiva e isso fez com que ele chorasse com mágoa… aquela carinha de medo, me fez vir ao quarto e chorar dolorosamente. Não me reconheci. Não sou assim, não funciona. Não é justo a medida de um adulto para uma criança.
    Tem que ter uma alternativa… consegui contornar a fase das mordidas com a DP, mas pq não sou capaz de fazer entender que agora não é a hora de correr, precisa comer sem jogar tudo pelo chão, sentar e ficar quieto no restaurante.. como as outras crianças! No que é que eu erro tanto que ele não me obedece?! Não respeita ou parece não me escutar!
    Minha frustração não me deixa enxergar uma solução. Se vc puder me orientar, com textos ou alguma pesquisa,serei mto grata! Desculpe o desabafo. Julia.

    1. Oi, Julia!

      Seu comentário é muito importante, ele mostra um lado que quase todos vivemos, mas falamos pouco sobre. Sobre o medo dos julgamentos alheios, imagino que a melhor estratégia é desligar os ouvidos e fechar os olhos para isso. Essa pressão social de que devemos “corrigir” nossos filhos não ajuda em nada mesmo, porque toda essa vergonha e frustração nos faz também reagir no impulso, sem raciocinar sobre o que nós gostaríamos de estar fazendo mesmo.

      Então, tampe os ouvidos para as pessoas e abra seus ouvidos para o seu coração. Quando você se descontrolou, conforme seu relato, você sentiu que aquilo era o que você gostaria de estar fazendo? As atitudes que você tomou deixaram você em paz? Esses momentos em que agimos por impulso e sem controle têm um ponto positivo: eles servem para nos lembrar que aquele não é o caminho que desejamos seguir.

      Agora, deixa eu citar uma frase sua, para você entender a chave da questão: “não sou capaz de fazer entender que agora não é a hora de correr, precisa comer sem jogar tudo pelo chão, sentar e ficar quieto no restaurante.. como as outras crianças! No que é que eu erro tanto que ele não me obedece?!”

      Essa é a questão: você não é capaz de fazer isso. Ninguém é. Achar que podemos controlar o que outras pessoas fazem é um engano, um erro que só nos trará frustração. O fato de serem os nossos filhos não muda esse contexto, e, no final do dia, realmente não podemos controlar nossos filhos.

      Mas isso significa que tá liberada a bagunça? Claro que não! Especificamente com relação aos problemas que você relatou, se não é hora de correr, talvez seja mais eficiente dizer o que ela pode fazer, ao invés do que ela NÃO pode fazer. Se ela jogar comida no chão, a consequência lógica é mostrar o chão sujo e a necessidade de limpá-lo. Se ela não consegue sentar e ficar quieta no restaurante… Bem, ela é uma criança! É um saco para uma criança ficar sentada em um restaurante! Então leve coisas que possam entretê-la no restaurante e que ajudem a combater o tédio.

      Espero ter ajudado!

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