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O Que Aprendi Nesse Terceiro Ano de Paternidade

"A paternidade traz com ela muitos aprendizados, mas eu nunca poderia imaginar que, nesse terceiro ano sendo pai, pai pela segunda vez, que aprenderia isso."

Todo mundo sabe que ter filhos é uma fonte sem fim de aprendizados novos, e por causa disso eu comecei uma pequena tradição aqui no blog, tentando compartilhar com você o que eu aprendi de mais valioso a cada ano da minha paternidade. Você pode ler meus relatos anteriores aqui também: O Que Eu Aprendi Nesse Segundo Ano de Paternidade e Três Coisas Que Eu Aprendi Nesse Primeiro Ano de Paternidade.

Assim que a Anne descobriu que estava grávida do Gael, nosso segundo filho, já me caiu a ficha de que eu teria que passar por um dos maiores desafios pessoais que a paternidade me traria. O relacionamento entre irmãos, ou melhor, como ajudar irmãos a viver sem rivalidade e com cooperação entre si, sempre foi o meu maior pavor. Isso porque a referência que eu tenho de relacionamentos entre irmãos é uma relação muito, mas muito danificada: a minha com meu irmão.

Eu tenho um irmão que é onze anos mais novo do que eu, e talvez você já tenha percebido que a minha relação com ele não era nada bacana por alguns textos que já escrevi aqui. Resumidamente, o reforço de papéis limitantes, a comparação e a obrigação de um ter que ser igual ao outro — de conquistas a bens pessoais — foi minando ano a ano nossa relação. Mas, talvez, o fator que mais contribuiu para isso foi a imposição do amor: a ordem máxima de que nós deveríamos nos amar acima de tudo, porque somos “do mesmo sangue” e, por isso, nunca poderíamos falar coisas negativas um para o outro, brigar, bater, xingar, e por aí vai. Por mais que essa linha de pensamento possa parecer interessante, porque, afinal de contas, mais amor é sempre bom, tudo aquilo que eu precisei dizer ao meu irmão, toda a raiva que já senti foi guardada, jogada lá no fundo, virando ressentimento. E esse ressentimento causou enormes fissuras na nossa relação.

Mas voltando à gravidez do Gael, como eu já sabia que lidar com o relacionamento deles seria uma grande questão para mim, dei uma mini surtada e comecei a procurar por livros que abordassem o assunto. Foi nessa que eu encontrei um livro incrível, chamado Irmãos Sem Rivalidade, de Elizabeth Mazlish e Adele Farber.

Lendo, comecei a entender como era possível estimular a cooperação entre irmãos, ao invés da rivalidade. Se nós deixarmos de lado certas atitudes, como comparar irmãos ou dar rótulos, haveria grandes chances de que eles crescessem como amigos. Ou seja, eles já competem normalmente pela nossa atenção e pelo nosso cuidado, então não precisamos reforçar isso, por exemplo, comparando e elegendo quem é o mais calmo, ou quem come melhor.

Entretanto, algo curioso começou a acontecer enquanto eu lia o livro: eu comecei a perceber tudo o que tinha dado de errado entre eu e meu irmão. E comecei a ver como que tudo poderia ser diferente entre eu e ele, hoje em dia.

E então, Gael nasceu, trazendo consigo todas as mudanças que precisaríamos viver aqui. Aos poucos, fomos vivenciando os desafios de ter dois filhos: como fazer com que o Dante ainda tivesse suas necessidades atendidas, mesmo que estivéssemos ocupados com as demandas urgentes do Gael? Como aproximar o Dante, ao invés de afastá-lo?

Eu, naturalmente, comecei a assumir ainda mais as demandas do Dante, para que a Anne pudesse focar no seu próprio puerpério e nas demandas do Gael. Mas sabemos que nem todas as demandas do Dante poderiam ser atendidas por mim e havia momentos em que a demanda dele era apenas ser cuidado pela mãe que, por exemplo, poderia estar atendendo o irmão mais novo. A questão é que o Dante sentiu, sim, essa falta de disponibilidade, não só da Anne mas minha também, e sempre tentamos explicar a ele, com muita empatia, quando não conseguimos atender suas necessidades:

— Filho, eu sei que você quer o colo da mamãe, você está bem triste, né? Mas agora a mamãe está dando peito para o seu irmão. Você quer meu colo?

E dia após dia, nós aprendíamos mais e mais sobre como conciliar isso tudo. Mas dia após dia, uma vozinha martelava na minha cabeça:

— Cara, você está fazendo tudo de bacana para os seus filhos, mas e o seu irmão, hein? Vai continuar guardando essa contradição aí, no fundo do seu armário?

Bem, para minha defesa, eu tinha um plano de realmente começar a conversar com ele sobre isso, sozinhos. Eu queria saber como foi para ele ser meu irmão, saber o que ele sentiu e sente, empatizar. E queria mostrar para ele também o que eu sentia e sinto, para tentar dar um rumo diferente à nossa relação, mas eu sempre desistia no meio do caminho. Amarguras do passado simplesmente não me deixavam avançar.

Foi assim ao longo de 2015 inteiro até que, na última semana do ano, eu tomei uma decisão. Falaria com o meu irmão por impulso, sem pensar, e marcaria de tomarmos um café:

— Ei, tudo bem? Então, queria ver contigo se a gente não poderia marcar um café para conversarmos. Para a gente falar dos nossos problemas, e tentar reparar um pouco dessa porcaria que é a nossa relação, sabe?

Ele ficou em choque. Ele nunca poderia imaginar — nem eu — que eu ligaria algum dia para falar isso para ele. Ele poderia me imaginar ligando para xingá-lo, mas isso? Jamais.

— Mas, ééééé… tá. Mas sozinhos como? Sem a mãe?

— Claro, né? O problema está entre a gente.

— Ah… tá bem. Vamos então.

E se você estiver se perguntando agora: “mas o que isso tem a ver com o que ele aprendeu no terceiro ano de paternidade?”, bem, eu respondo. Nesse ano inteiro, fugindo das minhas contradições e das dores de remexer no meu próprio passado, aprendi que a minha paternidade, ou melhor, minha segunda paternidade veio para me mostrar que é possível reparar e ressignificar minhas relações.

Se tudo der certo, essa conversa deve acontecer ao longo da próxima semana, então torçam por nós! Prometo voltar para contar como foi!


 

Atualização: a conversa acabou acontecendo, e você pode ler o relato dela bem aqui.

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

7 comentários em “O Que Aprendi Nesse Terceiro Ano de Paternidade”

  1. Fabiana Fernandes

    Esperando o retorno da conversa entre irmãos. Na minha família somos em três irmãs e sempre tivemos nossos arranca-rabos, comparações dos parentes mais próximos, competição. Mas também sempre cultivamos a conversa, a franqueza. Nunca deixamos de dizer umas às outras o que sentimos, mesmo que aquilo doesse na hora. E por isso mesmo nunca deixamos de dizer o quanto nos amamos e admiramos. Isso, eu creio, faz de nossa relação uma coisa saudável. Podia ter sido muito melhor em nossa infância, se tivéssemos adultos mais “perceptivos” a essas questões ao nosso redor. Mas temos uma grande amizade, independente de qualquer coisa, que é pra vida inteira!

  2. Erica Frutuoso

    Na torcida aqui!! É muito difícil viver com relacoes mal resolvidas! Perdoar se faz necessário, esclarecer tbm, dar nomes aos “bois” ajuda muito neste processo!! Volte pra contar, isso enriquece nossa vida e nos ajuda a lidar com situações como esta, que precisam de coragem pra mexer na “merda” e torna-la num “esterco ” bem produtivo! abç fraterno.

  3. Leila Sfriso

    Thiago, faça Ho’oponopono. Acredite, isso liberará um amor dentro ed você que será mais fácil de lidar com os conflitos que possa aparecer. É bem simples esta oração havaiana e tem fundamento psicológico. Pessoas do sangue do meu filho o rejeitam até hoje e pior, até tentaram matá-lo dentro e fora da minha barriga. Eu evoluí muito após conhecer o ho’oponopono. Boa sorte e isso tem tudo a ver com sua paternidade, afinal somos exemplo e lembre-se que o importante é nossas ações. Mesmo que seu irmão não baixe a guarda, gael e Dante copiarão as suas atitudes e não as do tio.

  4. Fabiola Nunes Sobral

    Desejo que tenham uma ótima conversa! Aguardo para aprender e poder fazer o mesmo. Minha irmã é cinco anos mais velha que eu. E também não somos tão próximas como acho que deveríamos ser. Boa sorte e aguardo próximo texto.

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