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Morte do Paizinho, Nascimento da Vírgula!

"Após a retirada da placenta retida, ficamos presos no hospital. Nada de paizinho ou mãezinha. Tínhamos informação então só nos faltava fugir."

Como comecei a contar no post anterior (caso esteja por fora, leia O Caso da Placenta Apegada), nosso parto domiciliar não teve o melhor desfecho dos mundos, pois a Anne teve que ser transferida para remover a placenta, que havia ficado retida. O que pensamos que seria uma passada rápida no hospital, acabou tornando-se uma estadia longa e torturante. A cada dia que passava, parecia que estávamos mais longe de recebermos a alta. Até que num dia, uma pediatra apareceu e cuspiu, sem o menor tato:

– Ihhhh, esse bebê tá muito amarelo.

Foi apenas isso que ela disse, de longe, porque nem chegar perto do meu filho ela chegou. Está muito amarelo. Esse é o diagnóstico que um médico profissional deu. O desespero bateu na mesma hora, como batia todo dia, nesse mesmo horário, e fui atrás dela pelo corredor para perguntar mais detalhes:

– Mas a gente pensou que teria alta hoje, o que vai acontecer agora?

– Ah, não vão mesmo. Agora vai ter que fazer um exame de bilirrubina para ver os níveis e caaaaaaso esteja tudo dentro da normalidade, só amanhã ele recebe a alta. Caso contrário, ele vai ter que fazer fototerapia.

– E esse exame? Que horas vai ser? Quando sai o resultado?

– Olha, não sei. Vou fazer o pedido agora, talvez venha alguém ainda hoje fazer a coleta e talvez o resultado saia hoje.

Voltei para o quarto conjunto, completamente desolado. A Anne não se conteve ao me ver e choramos mais uma vez (e não a última, infelizmente). Saí do alojamento, fui para o corredor ligar para a parteira, doula e pediatra, tentando encontrar alguma luz, algum afago. Nesse intervalo, lembrei que minha mãe não sabia de absolutamente nada, porque havíamos optado por não contar a ninguém sobre o parto domiciliar, uma vez que desejávamos que fosse uma experiência só nossa. Minha mãe ficou extremamente desapontada, mas entendeu, dada a situação.

Algum tempo depois, uma representante do laboratório veio para colher sangue do Dante. Fui com ele até uma salinha onde o sangue foi extraído de maneiras que eu não imaginava possíveis, a não ser que você esteja querendo torturar alguém. Dante chorava muito e, em dado momento, a enfermeira enfiou um pedaço de luva amarrada com alguma coisa dentro da boca dele.

– Vem cá, o que é isso?

– Ah, isso? É glicose, para acalmar ele.

– O quê? Não, não, pode tirar, por favor. Nada de glicose!

– Mas é para ele se acalmar, senão eu não consigo tirar o sangue.

– Não precisa disso. O pai dele está aqui e eu posso acalmá-lo no colo.

Peguei o Dante, dei o conforto que só um colo pode dar e ele parou de chorar. Depois de mais uma espetada, o sangue já havia sido coletado e voltamos ao quarto. Algumas horas depois, no início da noite, uma outra pediatra (mas não menos truculenta) voltou para dar o veredito:

– Olha, o resultado chegou e vai ter que fazer fototerapia. Vamos mandar descer o berço e ele vai tomar banho de luz.

Assim, seco. Um chute no estômago.

– Mas peraí, é isso mesmo? Não há outro jeito? Nós temos acompanhamento de pediatra particular, temos plano de saúde, não podemos continuar o tratamento de casa? Não podemos pedir transferência para um hospital particular?

– Claro que não. Se não tratar, ele pode ter danos irreversíveis no cérebro e perder a audição. E para sair daqui, só com uma ambulância na porta com a pediatra particular dentro, pronta para levar ele para outro hospital.

E saiu. Olhei para a Anne e ela entendeu que eu iria conversar com a pediatra no corredor. Controlei a tremedeira nas pernas e fui atrás da pediatra:

– Oi, mas vem cá, a gente conseguiria ter alta amanhã?

– Não mesmo. Na melhor das hipóteses, faria 24 horas de fototerapia, para fazer novo exame de bilirrubina e então, talvez, se o resultado for bom, ele fica mais 48 horas em observação, pelo protocolo. Mas aí seria sábado, e não damos alta aos fins de semana. Então, com muuuuita sorte, vocês sairiam daqui na segunda.

Pro-to-co-lo. Maldita palavra, isso significava ficar mais quatro dias naquele lugar. Resolvi então perguntar mais sobre os resultados.

– E qual foi o resultado?

– 13,7 mg/dL, está acima do corte.

– E de quanto é o corte?

– 13 mg/dL.

Não tive coragem de voltar para o quarto e dar essa notícia. Não poderia ser verdade, algo deveria estar errado, continuei fora do quarto, buscando ajuda desesperadamente da equipe de parto. Felizmente, estávamos muito bem assistidos pela equipe, e também pela pediatra de backup. Liguei para a parteira que me deu o primeiro sinal de esperança: segundo ela, o corte para as condições do Dante, seria de 15 mg/dL. Liguei também para a pediatra que não tinha certeza, mas pela memória dela, o corte seria de 15 mg/dL também.

Até aí, ótimo, mas como fazer se o hospital considera um limite diferente? Como ter certeza das informações? Infelizmente, quando você é atendido pela rede pública de saúde, o pediatra particular não pode entrar e, de maneira geral, não tem a menor influência sobre as decisões do hospital. Tive que voltar para o quarto. Tive que ter a coragem de falar a verdade para a Anne. Conversamos, choramos, quase perdemos todas as esperanças. O berço de luz ainda não havia chegado.

Instantes depois, a parteira veio novamente para o nosso socorro: enviou para mim, via Whatsapp (ah, essa modernidade), um arquivo em PDF do artigo Icterícia Neonatal, do Hospital Israelita Albert Einstein (2). Na mesma hora, comecei a ler o artigo. Estudei aquilo como se estivesse preparando para a prova mais importante da minha vida; mais tarde, descobri que era a prova para ser pai.

Antes de continuar, acho que cabe uma explicação breve sobre como a informação empodera as pessoas e sobre como nós, munidos de informação podemos (e devemos) questionar os profissionais que deveriam ser éticos e corretos. A icterícia ocorre nos recém-nascidos devido ao aumento dos níveis de bilirrubina, que são causados pelo processamento do excesso de glóbulos vermelhos que o bebê não precisa mais, após o parto. A bilirrubina precisa ser processada pelo fígado, mas em recém-nascidos, o fígado ainda pode ser imaturo e os níveis de bilirrubina podem ser altos, fazendo com que o recém-nascido fique amarelado (olhos e corpo).

Na grande maioria dos casos, trata-se de icterícia fisiológica, que é da maneira descrita acima. Nesses casos, muito leite materno e banho de sol pela manhã já ajudam a reverter o caso, mas existem casos patológicos de icterícia, que ocorrem em menor proporção. A Sociedade Americana de Pediatria publicou em 2004 um gráfico que mostra os limites toleráveis de bilirrubina, de acordo com o tempo de vida do recém nascido. Ou seja, bebês nascidos saudáveis e a termo possuem maiores níveis toleráveis de bilirrubina, além do fato de que os limites de corte aumentam conforme o tempo de vida do recém-nascido. De uma maneira geral, quando o bebê ultrapassa os níveis toleráveis, há a indicação de fototerapia.

Níveis de bili total sérica para indicação de fototerapia e fatores de risco (AAP, 2004)
Níveis de bili total sérica para indicação de fototerapia e fatores de risco (AAP, 2004)

Em poucos minutos, eu já tinha informação suficiente para me garantir que o Dante, com 48 horas de vida, que nasceu a termo e saudável, teria realmente um limite máximo de bilirrubina de 15 mg/dL. Ou seja, ele tinha 13,7 mg/dL, portanto, não havia real indicação de fototerapia. De onde a pediatra inventou o limite de 13 mg/dL, eu não sei até hoje.

Sendo assim, a única coisa que o nosso filho precisava mesmo era de leite materno e um solzinho pela manhã. Todas essas coisas, claro, poderiam ser feitas no conforto do lar e, na verdade, ficar em um hospital só atrapalharia isso, porque aquele ambiente hostil estava dificultando muito a amamentação da Anne, e um hospital não é o melhor lugar para se dar banho de sol em um recém-nascido.

Eu conversei desesperadamente com todo mundo que estava nos acompanhando e a situação em que nos encontrávamos era muito peculiar. Nós sabíamos que não precisávamos estar ali e, sendo um hospital público, ter um pediatra particular não fazia a mínima diferença. Deveríamos seguir o que era imposto pela pediatria do hospital. Lembro que no auge do desespero, perguntei para a nossa doula, Ingrid:

– Mas o que a gente pode fazer então?

– Ué, fugir. Peguem as suas coisas e simplesmente vão embora. Eles não podem prender vocês aí.

Essa ideia transgressora começou a popular as nossas mentes. Mas era uma coisa um pouco complicada para nós que nunca fugimos de lugar nenhum, nunca tivemos que brigar de verdade por alguma coisa, e sempre fomos muito pacíficos. Existe um ditado que diz “dou um boi para não entrar em uma briga, mas dou dois para não sair dela”, para a Anne, era só “dou um boi para não entrar em uma briga”.

A estufa chegou. Colocaram o Dante só de fralda naquele berço-aquário de acrílico, com luz ultra-violeta. Colocaram uma espécie de óculos de proteção nele, mas essa proteção era maior que a cabecinha dele, de maneira que ficava bem folgado e, como ele estava muito agitado, ela poderia sair. Novamente, com muito tato, alguém disse:

– Olha, não pode deixar sem a proteção porque ele vai ficar cego.

Lá dentro, o Dante chorava de frio. Do lado de fora, nós chorávamos como nunca choramos em todas as nossas vidas. Tínhamos certeza de que ele não precisava ficar nem naquele berço, nem naquele hospital. Tanto os profissionais que estavam nos acompanhando como tudo o que eu havia estudado apontava para isso.

A Anne queria tomar um banho para sair dali e conseguir pensar, e quando ela voltou, eu disse (não lembro das palavras exatamente, mas a Anne lembra palavra por palavra do que eu disse):

– Olha isso está errado, está todo mundo dizendo. O que você quiser fazer, nós faremos.

Ela, então, disse:

– Vamos embora daqui!

E assim começamos a arrumar nossas coisas. Tiramos o Dante da estufa, vestimos ele e arrumamos a bolsa dele. Ele deve ter ficado uns 15 minutos na estufa. A Anne ainda não estava completamente recuperada, porque tinha perdido muito sangue, então de vez em quando ela sentia umas fraquezas:

– Amor, você tá bem?

– Estou sim, só preciso sentar um pouco.

– Tá, mas lembra que não vai ser uma coisa muito boa você desmaiar enquanto a gente estiver fugindo.

– Não, eu estou bem!

Eu peguei o Dante no colo, agarrei nele como se fosse uma bola de futebol americano, ninguém ia tirá-lo de mim. Anne veio trazendo as bolsas e  começamos a andar, calmamente, como se nada estivesse acontecendo. Tivemos muita sorte que todo mundo estava dormindo no alojamento. Apenas uma acompanhante estava acordada, que nos viu saindo normalmente, e até nos deu um “adeus”. Andamos pelo corredor da enfermaria, passamos pela ilha onde as técnicas de enfermagem ficavam, tudo fácil demais. Quando já estávamos quase nos elevadores, alguém grita lá de dentro:

– Ei, ei, onde vocês pensam que vão?

– Vamos embora!

– Vocês não podem sair assim, tem que colocar o bebê no bercinho, senão o segurança não deixa vocês irem embora.

Ficamos muito aliviados, não havíamos sido descobertos! Mas então outra técnica surgiu e disse:

– Ei aonde vocês vão? Eles não estão de alta! É o Dante que estava no bercinho de luz!

As técnicas de enfermagem insistiam que esperássemos a pediatra descer, que deveríamos conversar com ela, que seríamos denunciados ao conselho tutelar, que elas tinham o nosso endereço, que não poderíamos simplesmente fugir, que deveríamos conversar com a supervisora, que já tinha gente descendo para falar com a gente, que isso, que aquilo…

O paizinho morreu, a vírgula nasceu. Comecei a bradar meu dedo como se fosse uma espada, falando para todas aquelas pessoas:

– Estamos fugindo sim, vocês não podem prender a gente aqui. O que vocês praticam aqui é errado, porque o Dante não tem problema nenhum. Segundo a Sociedade Americana de Pediatria, não há indicação de fototerapia para os níveis de bilirrubina dele, a única coisa que ele precisa é de muito peito e banho de sol. Para 48 horas de vida, o corte é de 15 mg/dL, e o Dante tinha 13,7 mg/dL no último exame, enquanto que vocês não querem dar alta alegando que o corte é de 13 mg/dL. Vocês estão prendendo a gente pelos motivos errados.

As pessoas, vendo eu vomitar todas aquelas palavras e dados, ficaram sem reação. Até que uma delas perguntou:

– O senhor é médico?

– Não, sou apenas bem informado e acompanhado por profissionais decentes.

Claro, como se apenas um médico seria capaz de ler e interpretar artigos e gráficos corretamente. Nunca tive tanto orgulho em dizer que eu não era médico. Mesmo assim, insistiram para que esperássemos a pediatra chegar para falar conosco, e que tudo ia dar certo. Olhei para a Anne e vi que ela estava muito pálida. Temi que ela desmaiasse a qualquer momento, e achei uma boa ideia que ela sentasse um pouco numa cadeira, sob o falso pretexto de que estaríamos esperando pela pediatra. Logo depois, a nossa doula liga para a Anne:

– Ingrid, estamos fugindo!

– E aí? Onde vocês estão?

– A gente conseguiu sair, mas voltamos e estamos aqui no andar esperando pela pediatra.

– Não tem que esperar ninguém, não! Sai dessa porra, agora!!!

Acho que aquela foi a injeção de ânimo que faltava. A Anne levantou e continuamos a andar normalmente. De novo, ninguém percebeu que estávamos indo embora. Chegamos aos elevadores e parecia que demorava um século para algum elevador chegar, acho que quebramos o botão de tanto que apertamos. O elevador chegou, pulamos para dentro, finalmente ouvindo lá no final do corredor:

– Ei, eles estão indo embora de nov…

A porta fechou. Conseguimos passar da primeira fase! Nos sentíamos vencedores e transgressores, a adrenalina bombeava forte no sangue. Agora era só passar da fase final e pronto!

O elevador abriu, saímos a passos rápidos pelo saguão de entrada e passamos pela porta de entrada. Já estávamos na rua, mas como chovia, tive que ficar embaixo da marquise do hospital, do lado de fora, mas ainda dentro da propriedade, enquanto a Anne iria tentar chamar um táxi. Enquanto isso, atrás da gente, vozes grossas falavam:

– Senhor, senhor, estão chamando o senhor aqui dentro. Volte aqui, por favor.

Ignorei o chamado, e a Anne voltou, estava tendo uma dificuldade tremenda de conseguir um táxi. Logo em seguida, dois seguranças estavam na minha frente, do lado de fora da marquise, imaginando que conseguiriam impedir que nós saíssemos. Eles insistiam que não podíamos sair assim, que deveríamos voltar e conversar, e que, principalmente, estávamos dificultando o trabalho deles. Dificultando? Sério? O segurança estava preocupado com isso? A Anne ficou comovida com o homem, e tentou amolecer, mas eu não perdoei e vomitei em cima dele toda o meu monólogo sobre a Sociedade Americana de Pediatria.

Duas mulheres chegaram, uma delas eu nem lembro quem era, mas a pobre idiota nos chamou de paizinho e mãezinha. Ah, dessa vez quem ficou possessa foi a Anne, era bonito de se ver:

– Mãezinha, não, por favor, viu?

A outra mulher era a supervisora, e as duas insistiam que subíssemos para conversar com a pediatra. Eu negava firmemente, enquanto a Anne voltava para tentar conseguir um táxi. A pobre idiota que nos chamou de mãezinha e paizinho insistia em ameaçar com o conselho tutelar até que eu me enervei e vomitei também nela a história da Sociedade Americana de Pediatria. Isso foi bom, porque fez com que eu ganhasse mais força para bater, dizendo que não entraria e que se a pediatra quisesse falar conosco, que ela descesse.

Depois de muita conversa, acabamos aceitando em ficar em uma sala ao lado da recepção, para conversar com a pediatra. A Anne não estava conseguindo um táxi mesmo e ela estava já fraca, apoiando-se nos carros. Quem nos levou para a sala foi uma das mulheres, mas não a pobre idiota e, chegando lá, ela nos confidenciou que ela não era supervisora de verdade, estava apenas substituindo a colega que era supervisora, e que não poderia ter esse tipo de problema nas mãos dela:

  • Por favor, esperem aqui até as médicas chegarem, vai dar tudo certo. Por favor me ajudem!

  • Você quer a nossa ajuda? Então você tem que nos ajudar. Que fique bem claro para você que, independente do que as médicas façam ou falem, nós iremos embora daqui. Então já fale com elas que nós iremos embora de qualquer jeito.

  • Tudo bem, vai dar tudo certo. Vocês prometem que não vão fugir daqui de novo?

  • Você tem 20 minutos para trazer as médicas. Depois disso, a gente vai embora.

Poucos minutos depois, chegaram as médicas de plantão: uma pediatra e uma ginecologista obstetra. Obviamente, elas ouviram meu sermão sobre a Sociedade Americana de Pediatria mas, por outro lado, elas falaram pouquíssimas palavras, inclusive admitindo o erro da outra pediatra em considerar um corte incorreto para indicação de fototerapia. Muito a contragosto, então, nos deram alta. Dessa vez, saímos pela recepção com os seguranças nos dando adeus simpaticamente.

Por incrível que pareça, desta vez, foi muito fácil pegar um táxi. Entramos, olhamos um para o outro, rindo, ligando para todo mundo para dar a boa notícia. Cantarolamos We Are The Champions, do Queen, enquanto curtíamos aquela sensação transgressora quase criminosa que corria em nosso sangue.

Nunca mais fomos os mesmos.

Nossa família nasceu ali.

Ah, sim, e caso você esteja se perguntando, não há dúvidas que nosso próximo bebê também nascerá em casa. Não mudaríamos nada.

 

PS: é importante deixar claro que durante a nossa experiência com a Maternidade Maria Amélia, percebemos uma distinção clara no tratamento entre a parte obstétrica e pediátrica. Enquanto que a obstetrícia não deixa nada a desejar, a pediatria deixa muito a desejar. É como se existissem dois hospitais dentro de um só. Espero que esse quadro mude em um futuro próximo.

 

Referências:

(1) – Retenção Placentária, Maternidade-Escola da UFRJ.

(2) – Icterícia Neonatal, Hospital Israelita Albert Einstein, 2010.

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

30 comentários em “Morte do Paizinho, Nascimento da Vírgula!”

  1. Marcelo Gobitta

    Thiago, apesar de seu relato ser mais antigo, só li hoje. Vou fazer textão, desculpe. Me identifiquei demais com você e sua família: minha esposa e eu também tivemos parto domiciliar com placenta retida. A transferência foi feita 2h após o parto porque Sarah já estava perdendo muito sangue. Somos de SP, acabamos indo para o hospital São Luiz, com obstetra e pediatra particular plano C (não conseguimos contato com as duas médicas plano B, então as obstetrizes contactaram outras conhecidas delas!). Chegamos no hospital e tentaram tirar manualmente a placenta da Sarah. Fiquei no corredor com minha filha de 3h no colo escutando minha esposa gritar de dor como nunca havia ouvido antes… Acho que a partir daí eu entrei em um modo de defesa automático e deixei toda a minha preocupação própria de lado, focando somente na Julia (a nenê) e na Sarah, que acabo indo para a curetagem. Durante a curetagem, fiquei com a Júlia em uma sala próxima ao Centro Cirúrgico. Ao final, veio a notícia: Sarah precisou de transfusão sanguínea e teria que ficar 24h na UTI – protocolo do hospital – por isso Júlia teria que ir para UTI neonatal – protocolo também. Saí de mim. Já era com nossa pediatra com quem eu falava e disse a ela: a nenê está ótima, não vai a UTI nenhuma, eu posso cuidar dela (acho que foi ali que eu virei pai mesmo…), se tirarem ela de mim eu iria à polícia para processar o hospital por sequestro de menor e cárcere privado (sim, eu estava falando qualquer coisa que viesse à cabeça para impedir que tirassem ela de mim). Ao final, deu certo. Me deram um quarto na maternidade para ficar com Júlia. Isso já era 10h, o parto tinha começado Às 19h do dia anterior e eu estava acordado a 28h. Minha família chegou no hospital (minha mãe também não sabia do parto e ficou possessa, como a sua) e só assim eu consegui descansar. Mais tarde veio a notícia: Sarah tinha tido febre, sinal de infecção, iniciaram com antibióticos e ela teria que ficar mais pelo menos 72h na UTI. Pedi alta do hospital e nossa pediatra (ótima profissional, diga-se de passagem) nos liberou. Voltei com Julia prá casa. No dia seguinte mais notícias ruins, o quadro de Sarah começou a piorar. Encurtando uma longa história, ela teve complicações renais, hepáticas, de pressão, tudo que possa pensar. Foram 12 dias na UTI, depois mais 5 na maternidade terminando a recuperação, e eu em casa com Julia, minha mãe e sogra, mas no final pudemos ser os três! Uma outra coisa importante, a nossa vontade de amamentar era tão forte que nesse período, SArah ficou fazendo (mesmo quase indo embora) estímulo de extração manual e eu dando leite para a nenê no copinho e estimulando a sucção com o dedo. Deu certo, ela mama até hoje – 9 meses – e mama bem! Aprendi a ser pai assim, na porrada. Aprendemos a ser família assim, na porrada, como vocês. Fiquei besta de ler seu relato e, ainda que não tenha sofrido igual a você essa violência hospitalar, saber que não fomos únicos e caiu a ficha que não somos únicos e precisamos divulgar nossos casos, para que essa violência possa acabar e para que mais pessoas possam aprender e escolher pelo parto domiciliar e ver o quão bom e mágico isso é. Nós esperamos que possamos ter domiciliar em um segundo filho, mas não sabemos ainda… vai depender do estado médico da Sarah.

    1. Caramba, Marcelo, que relato! Quanto perrengue vocês passaram! Fiquei tocado aqui, mas muito feliz que tudo se acertou depois. Ah, e se você não acompanha meus posts há muito tempo, vou te adiantar que meu filho mais novo também nasceu em casa e, dessa vez, a placenta também 😉

      Abração!

      1. Marcelo Gobitta

        que bom que vocês conseguiram concretizar o sonho de ter o primeiro momento em família no calor e conforto de casa! Espero que possamos ter isso também! Abraço!

  2. Erica Frutuoso

    Nossa, que historia incrível! Chorei, enfureci e me alegrei tudo num texto só.. nos 2 na verdade. Sinto muito pelo acontecido com vcs e com tantos que só querem um tratamento humano.

  3. Cristina Tristacci

    Tiago, que lindo, que intenso e que traumatico!!! O meu tb foi domiciliar com transferencia. Mas acabou tudo lindo por aqui. Tem algum relato do teu segundo? Fiquei curiosa 🙂

  4. Anelize Sanches

    Nossa, chorei litros lendo este relato! Você já era uma grande fonte de inspiração, agora então, virou meu ídolo, você e a Anne. Forte abraço!

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