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Os Desafios de Ser Um Pai Apegado – Parte Um

"O vínculo entre pai e filho, contudo, é algo que requer tempo. Requer também que nós estejamos conscientes e presentes. Através da criação com apego, é..."

Há um tempo atrás, eu recebi um convite do pessoal do blog da Attachment Parenting International para escrever para lá. Elas pediram que eu escrevesse sobre a experiência de ser um pai apegado aqui no Brasil, então não preciso dizer que eu respondi com um “sim” bem gigante, né?

É muito bacana ver como o movimento da Criação com Apego pode não só unir pais e filhos, mas pessoas ao redor do mundo. Hoje, já podemos ver pessoas falando e refletindo sobre uma criação mais respeitosa ao redor do mundo, e por isso que tiveram interesse em ouvir como as coisas estão acontecendo por aqui no Brasil. É claro que o tamanho do movimento aqui no Brasil ainda é muito pequeno, em comparação com o que é nos Estados Unidos, mas tenho certeza que é uma questão de tempo. Aos poucos, os apegados brasileiros vão se tornar muitos!

Se você quiser ler o meu texto original, em inglês, pode ler aqui. Mas depois não venha reclamar do meu inglês horroroso! Por via das dúvidas, a versão em português está aí embaixo. Boa leitura!

Os Desafios de Ser Um Pai Apegado – Parte Um

Deixe-me começar contando um pouco sobre mim e a minha família. Meu nome é Thiago, eu moro no Brasil, e eu tenho um lindo bebê de 1 ano, Dante. Eu estou também em um processo de certificação de Líder API, preparando-me para começar o primeiro grupo de apoio API no Brasil: API Rio.

O Dante nasceu em um parto domiciliar planejado, que foi uma experiência que mudou completamente as nossas vidas. Eu nunca pensei que eu poderia me tornar uma pessoa completamente diferente, um pai.

Mas chegar lá não foi tão simples. A realidade obstétrica no Brasil é muito infeliz para o parto. Em 2010, 52% dos bebês nasceram de cesáreas e, olhando apenas o sistema de planos de saúde, este número ultrapassa 80%. As mulheres no Brasil ainda precisam lutar para ter o parto respeitoso que elas querem para si e, por causa disso, nós estudamos e nos preparamos muito para o parto, até que estivéssemos prontos para chegar na melhor opção para todo mundo.

Porém, assim que ele nasceu, eu não tinha a menor ideia do que fazer depois disso. Quer dizer, nós aplicamos tanto esforço para garantir um nascimento amoroso e respeitoso para o nosso bebê. Mas e agora? Nós não sabíamos muito bem como cuidar dele da mesma maneira amorosa e respeitosa depois que ele nasceu.

Eu me lembro que nós compramos um berço para o nosso filho, mas nós nunca o usamos. Desde o primeiro dia, nós dormimos coo o nosso filho em nossa cama, mas não porque nós lemos algo, ou ouvimos alguém dizer algo, mas porque sentíamos que era a coisa certa a fazer. Foi uma decisão de ordem prática, já que a minha esposa amamenta em livre demanda, mas logo nós percebemos que era mais do que uma decisão de ordem prática. Era uma experiência agradável e boa para toda a família, dentro das nossas circunstâncias. Foi assim que a Criação com Apego entrou na minha vida e o berço virou um depósito de roupas.

Agora que você me conhece um pouco melhor, eu gostaria de falar sobre os desafios de ser um pai apegado. De uma maneira geral, criar um filho com respeito, empatia e compaixão não é uma das coisas mais fáceis de se fazer. Criar um vínculo forte de apego seguro com os nossos filhos é algo que requer força de vontade, mas algo que também oferece muita alegria durante a jornada.

Eu não quero dizer que ser um pai apegado é diferente ou mais difícil do que ser uma mãe apegada, mas há desafios diferentes envolvidos. Para começar, nós, pais, temos muito trabalho a fazer para desfazer o histórico (não tão bom) de como pais costumavam criar nas gerações anteriores. Nós devemos lutar para afastar aquela imagem de pais que eram apenas provedores de alimento e figuras autoritárias. Para alguns homens, isto é particularmente difícil, considerando o tipo de educação que eles receberam e quão profundo este conceito está inserido em cada um deles.

De mais a mais, nós não temos o que eu gosto de chamar de superpoderes de parir e amamentar. A natureza, através dos hormônios, dá uma mãozinha às mães para criar vínculos de apego seguro com seus bebês. Por exemplo, uma mãe que teve uma experiência de parto natural e amamenta tem um empurrão da natureza, no que diz respeito ao vínculo com o seu bebê. Eu não quero dizer que é uma moleza para mães criarem vínculos de apego seguro com seus bebês, mas pelo menos a natureza dá uma ajudinha. Mãe e bebê são naturalmente apegados; eles têm um vínculo tão profundo e intenso que é quase visível a olho nu.

O vínculo entre pai e filho, contudo, é algo que requer tempo. Requer também que nós estejamos conscientes e presentes, fazendo parte daquela nova vida. Através do cuidado consistente e amoroso, nós podemos construir um vínculo de apego seguro com os nossos bebês que irá durar pela vida inteira. Mas de novo, requer muita dedicação que pode ser facilmente desviada se não tivermos foco.

Nós não podemos parir, tampouco amamentar, Então, o que sobra para nós? Bem, os pais têm dois caminhos a escolher aqui:

1- Nós podemos admitir que, como não há nada a fazer, é melhor ficar fora do caminho e ajudar com algumas tarefas básicas, como lavar a louça, trocar fraldas e coisas deste tipo. Afinal, nós não temos peitos mesmo, certo?

2- Ou nós podemos entrar de cabeça nessa experiência toda e fazer com o apego entre nós e nossos filhos floresça. Nós podemos ficar próximo e enxergar todos esses eventos como uma bênção; nós podemos viver nossa paternidade ao máximo.

Eu escolhi o segundo caminho. Eu peguei meu crachá de pai e eu quero usá-lo. Eu não peguei um crachá de “ajudante de mãe”, então eu preciso ser um pai agora. Existem alguns desafios adicionais, porque eu preciso estar lá, preciso me focar na criação e, mais importante, preciso crescer em mim aquela sensibilidade que os homens foram culturalmente treinados a esquecer desde quando eram bem jovens.

Se você quiser continuar a leitura, veja aqui a parte dois!

Thiago Queiroz

Thiago Queiroz

Psicanalista, pai de quatro filhos, escritor, palestrante, educador parental, host dos podcasts Tricô e Pausa pra Sentir (dentre outros), autor dos livros "Queridos Adultos", "Abrace seu Filho", "A Armadura de Bertô" e "Cartinhas para meu pai", participou também do documentário internacional "Dads".

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Comentários

5 comentários em “Os Desafios de Ser Um Pai Apegado – Parte Um”

  1. Parabéns! Fico extremamente feliz ao ver a mudança de paradigmas se tratando da PATERNAGEM.. Vejo meu companheiro nas linhas do teu texto, Thiago! Viva a humanização, viva a reformulação de práticas, no caso de vcs a introdução do novo ao novo mundo que vocês conquistaram através do (re)nascimento de vcs. Passei e estou passando por isso com meu companheiro e vejo que tudo começa ao nascer… Se propomos nascimentos dignos aos nosso filhos, porque não uma criação à altura também? Abraços a vcs. <3

  2. Muito bom texto Thiago. Parabéns.
    Estou na torcida para que sua certificação e projetos aconteçam! Quem sabe, num futuro próximo, se forme um grupo de apoio em Brasília tb!
    Um cheiro,
    Inté,
    Gabi

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