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Terapia, Eu e Minha Paternidade

"Desenvolvi paciência comigo. Depois com minha esposa e filhas. Curei minhas dores da infância. Depois acolhi as dores da minha esposa e filhas."

Demorei para entender direito o preconceito, medo, receio ou sei lá o quê, com a psicoterapia. Muitos amigos e conhecidos parecem achar que isso é coisa de quem não “tá bem da cabeça”, enquanto, conforme dita minha experiência, tem muito mais a ver com arrumar as bagunças da alma, do coração (deixando claro que me refiro ao coração poético, figurativo, aquele responsável pelas emoções).

Procurar ajuda profissional na busca do autoconhecimento tem se mostrado uma das melhores maneiras de tornar-me a melhor versão de mim mesmo, de acordo com minhas próprias escolhas. No meu caso, o que mais pesou na busca por este “mergulho na alma” foi perceber o quanto minha paternidade estava insatisfatória para mim mesmo e para minha família.

(É claro que nem sempre damos certo com o primeiro terapeuta com quem encontramos. Precisamos ter um bom vínculo e uma boa afinidade tanto com o terapeuta, como, parece-me, com a linha que ele segue. E existem várias! Apesar de que julgo quase qualquer psicoterapia como melhor que nenhuma terapia!)

Já há um certo tempo desde o início da minha caminhada, e tem sido uma jornada e tanto! Viajar para dentro de sua própria história e do seu próprio ser pode ser algo simultaneamente maravilhoso, dolorido, assustador e restaurativo.
Afinal, aceitar que seus maiores heróis são tão humanos quanto você, bem como entender que você é o responsável por muito do que faz de si mesmo, são descobertas tão grandiosas quanto difíceis. Isso para citar um exemplo. Não é para menos que sábios budistas dizem que um grande guerreiro derrota diversos adversários, mas o maior deles, derrota a si mesmo.

Fico estarrecido em como tal profissional tem a capacidade de colocar-me diante de mim mesmo, olhos nos olhos: o eu de hoje com o eu de ontem; o eu de agora com o eu de sempre; o eu que desejo e o eu que percebo.

Vejamos um exemplo de epifania que vivi…


Enquanto escutava Sweet Child O Mine, na interpretação de Sheryl Crow, me vi tentando olhar nos olhos da criança que fui e aliviar toda dor que ela ainda hoje sente em mim, e ainda não consegue explicar.

Tudo aquilo que aquela criança (eu) simplesmente quer que suma, mas não sabe como fazer. Porque não há o que fazer. Você (eu-criança) não será visto. Nem ouvido. Existe ali, guardada, uma vontade de sumir, ou de que algo muito ruim aconteça, apenas para que tudo o mais se torne tão sem importância a ponto de que aqueles eventos dolorosos cessem.

Não importa quanto doa, a dor não vai embora, pois não há o que fazer.
Existem situações em que a impotência força a resignação.

Torno-me uma pessoa temerosa de resolver problemas, posto que não resolvi o problema que mais me importava.
Torno-me uma pessoa de vínculos frágeis, dado que não vejo motivos para cultivar a solidez nas relações. Vejo-me uma pessoa o tempo todo em busca de relações afetivas para tentar suprir a necessidade de ser amado, cuidado, visto, escutado. Carência.

A escola torna-se um refúgio, lugar de paz. Talvez se eu passar por média, sem dar trabalho, alguém me elogie. Mas o que eu quero mesmo é não dar trabalho, não ser problema, não estar no meio do caminho, ao mesmo tempo que tenho a necessidade de ser notado.

Ambivalência cruel.

Perceber isso foi fundamental para de fato iniciar um vínculo afetivo com minhas filhas. E, claro, boas obras de artes podem acender muitas luzes no caminho…

Ao assistir Moana (SPOILER ALERT!!!), belíssimo filme, empatizo com Maui: sinto-me abandonado, jogado neste Oceano que é o mundo e, acolhido pela Vida, recebo dons e privilégio especiais… Além disso, acho que o que tenho de bom, só existe enquanto dádiva divina e, de alguma forma, esse oceano me conduziu a lugares diversos, dando-me chances de aprender cada vez mais.

No entanto, Moana tem razão: não são meus dons que me definem, nem o que a Vida me deu, mas o que fiz/faço de mim mesmo e com tudo o que recebi.

Analisando isso, passei a decidir amar o outro por ele mesmo (per si). Em vez de amar a mim mesmo no outro, buscando o que ele tem a me oferecer. Amá-lo por ele, o ser pelo ser que é. Amar-te por ti mesmo, amigue leitor.

Projetando-me em Moana, sei quem sou, e tenho um chamado interno para servir as pessoas nas suas próprias peregrinações…

Admirei tanto o processo que vivi que pensei em tornar-me psicólogo!

Comecei um curso superior em Psicologia apenas para aprender algumas coisas bacanas, iniciar boas amizades e descobrir que minhas cores estão em outros lugares.

Assistindo ao filme Trolls com minhas filhas, entre lágrimas e emoções difusas, fiquei tentando enxergar minhas cores verdadeiras, para poder deixá-las brilhar. Como um belo arco-íris.

Poeta. Cores de um poeta.

Bardo.

Um poeta bardo.

Pedro Gurgel, o bardo; o poeta; o marido; o pai. O resto é conversa!

Desenvolvi paciência comigo. Depois com minha esposa e filhas. Curei minhas dores da infância. Depois acolhi as dores da minha esposa e filhas. Fui eu mesmo. Depois fui marido e pai.

Nada disso seria possível sem a ajuda da minha queridíssima terapeuta. E olha que ainda há muita estrada além do que posso ver!

Enfim, como disseram no avião “em caso de despressurização (…) coloque primeiro a máscara em si mesmo, para depois ajudar quem está com dificuldades”. Acho que foi isso que fiz.

E você, já começou a jornada em busca de si?

Pedro Gurgel

Pedro Gurgel

Pai da Lis e da Ester, esposo da Raquel. Poeta, bardo e professor. O resto é conversa. Para outros textos (bem mais antigos): http://casadosacasos.blogspot.com.br/

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Comentários

1 comentário em “Terapia, Eu e Minha Paternidade”

  1. Paciência. Comigo. Essas duas palavras juntas não fazem sentido. Belo texto, trouxe reflexões importantes.

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